quinta-feira, 17 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (141)


Longas brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

141 - Toda Donzela tem um Pai que é uma Fera (1966), de Roberto Farias ****

É realmente lamentável que um talento como Roberto Farias tenha abandonado o cinema, em trajetória notável que vai da década de 1950 a 80. E talento que ele demonstrou desde o tempo das chanchadas até filmes como Assalto ao Trem Pagador (1962), Selva Trágica (1964), a trilogia de Roberto Carlos (1968/70/71), e Pra Frente Brasil (1982). É da década de 60 esse delicioso Toda Donzela tem um Pai que é uma Fera, que foi baseado em peça de sucesso de Glaucio Gil e com roteiro do próprio cineasta. No filme, John Herbert e Reginaldo Faria são dois fanfarrões típicos das praias cariocas a fim de papar todas. Isso aparentemente, pois Reginaldo tem pinta de conquistador mas não consegue avançar o sinal com as moças, já que sua criação o ensinou a respeitar donzelas. Já John é conhecido como libertino, tem muito orgulho disso, e arrepia só em ouvir a palavra casamento. Quanto Walter Forster invade o prédio dos moços para cobrar a honra da filha Vera Vianna, começa uma série de mal entendidos, situação que se complicará ainda mais com a aparição da vizinha atrapalhada Rosana Tapajós. Toda Donzela tem um frescor que jamais envelhece e desperta na gente de cara uma simpatia por aqueles personagens como se fossem velhos conhecidos de um tempo que não volta mais. Não o tempo da ditadura, pois essa se foi e, espera-se, para nunca mais voltar. Mas o tempo das revoluções comportamentais da década de 60, de uma ânsia misturada a uma certa ingenuidade de que afinal o mundo cabia na palma da mão e estava ali para ser descoberto. Daí nada melhor do que ser jovem para abraçar isso tudo, sem saber que dali a pouco o Brasil, que desde 64 já tinha descarrilado, viraria um inferno dois anos depois. E mais, que as conquistas sexuais enfrentariam apenas uma década e meia depois o furacão da AIDS, e daí não só Brasil mas o mundo jamais seria o mesmo. Toda Donzela tem um Pai que é uma Fera está localizado em um momento de certo respiro entre tudo isso. E passado quase meio século de sua realização ainda pulsa com graça e encanto. Como esquecer Vera Vianna e a juventude petulante de sua Daisy? A bela Rosana Tapajós e sua engraçada e lesada Loló? Walter Forster e sua fleuma de pai inquisor de fachada? E os adoráveis Porfírio de John Herbert e Joãozinho de Reginal Faria? Considerado precursor das comédias eróticas ao lado de outros filmes deliciosos como Os Paqueras (1969), de Reginal Faria, Toda Donzela tem um Pai que é uma Fera é momento luminoso nas comédias da década de 60 e na história do cinema popular brasileiro.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

2 comentários:

  1. Roberto Farias é, realmente, um grande artesão do cinema brasileiro. Na chanchada ("Rico ri à toa", com Zé Trindade, "Um candango na Belacap", com Ankito e Grande Otelo), no 'thriller ("Assalto ao trem pagador", "Cidade ameaçada"), no 'thrller' política à Costa-Gravas ("Pr'a frente Brasil"), no filme descompromissado de aventuras (os filmes com Roberto Carlos), na comédia (como este 'Toda donzela tem um pai que é uma fera'). Não esquecer, porém, do belo e profundo "Selva trágica".

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  2. Sim, Setaro.
    Selva Trágica é um GRANDE filme.
    Por isso mesmo está citado no texto.
    Um abraço.

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