sábado, 27 de março de 2010

sexta-feira, 26 de março de 2010

longas brasileiros e 2010 (68)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

068 - Na Mira do Assassino (1968), de Mário Latini ****

Assistir filme policial brasileiro é experiência das mais impactantes, pois se há um gênero em que o cinema nacional mais soube falar do país é com certeza esse - pelo menos do país daqueles que quase nunca passam de estatísticas. E essa plebe rude é, quase sempre, formada por mocinhos nem tão mocinhos e bandidos nem tão bandidos, mas todos em caldeirão de alto teor de miserabilidade. E temos aí algo mais brasileiro impossível, em que a geografia excludente por si só é palco tanto para a antropofagia quanto para a autofagia, pois esses Joãos, Marias e Cabos Josés se transformam matando e comendo uns aos outros, e por fim tirando lasca da própria carne, como crônica de morte anunciada e indesviável. Na Mira do Assassino é filme corajoso e também exemplar de uma época de não mais. Corajoso porque sua estética é suja, como é suja a vida em que bandidos e policiais trocam tiros para serem lidos no outro dia em manchetes. Por isso nada de fotografia azulada de ruas e becos fedidos, uma maldição que assola filmes atuais com esse recorte. Ao contrário, muitas das cenas são à noite e os personagens mergulham em sombras, como sombras são muitos deles em suas vidas ordinárias. E é também de um tempo de não mais porque aquela malandragem há muito passou o bastão, e o Toninho de Agildo Ribeiro e o Marcondes de Wilson Grey são mesmo personagens de canção, daqueles que aposentaram a navalha e chacoalham no trem da central. No filme, Agildo - grande ator - é um bandido sitiado pela polícia no ap de um promotor e sua esposa e que ele faz de reféns. Enquanto vê o cerco se fechar à sua volta, ele conta a história de sua vida, e de como um roubo na caixa de esmola da igreja para compar um carrinho para trabalhar na freira e dois copos de groselha para oferecer à amiga magricela, nada mais é que passaporte previamente carimbado para uma trajetória sem volta. E Toninho é apenas um daqueles meninos que comem tomate debaixo das bancas e que a música de Erlon Chaves pranteia, como se fossem Pixotes de ontem, de hoje e de sempre. E além de Agildo e Grey - que faz um escroque como só ele sabia fazer - ainda tem Glauce Rocha, essa atriz estupenda e que traz em si gerações de dor em apenas um olhar. Sua Magricela, aliás, parece embrião para a impactante Norma Suely de Navalha na Carne (1970), obra-prima de Braz Chediak - e que aqui faz assistência de direção.

Obs.: imagem enviada pela querida Andrea Ormond, do blog Estranho Encontro, que, gentilmente, escaneou de capa de VHS. É muito bom saber quando alguém é um pesquisador de verdade, como é Andrea, pois a linha mestra de todo pesquisador sério é contribuir para o acesso às informações. Obrigado, queridona, minha admiração por você e pelo seu trabalho é sem tamanho.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quinta-feira, 25 de março de 2010

longas brasileiros em 2010 (67)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

067 - Diário de Um Novo Mundo (2004), de Paulo Nascimento +

A câmera lenta é um efeito poderoso e dos mais interessantes, principalmente quando usado mais por motivos éticos que puramente estéticos. Ou seja, que sua função não seja apenas decorativa, mas que realmente tenha algo a dizer naquela cena específica - e quando pensamos que a estética não está desassociada da ética, mesmo que alguns cineastas se esqueçam disso, aí é que a porca torce o rabo . Mas a câmera lenta pode ser um naufrágio para cineastas que se deixam seduzir pelo seu canto de sereia. Como Paulo Nascimento nesse seu filme de cunho histórico Diário de Um Novo Mundo. Em Diário, todos, absolutamente todos, têm seu momento de slow motion. E aí eles andam, cavalgam, dançam, lutam, trepam, tudo como se a Mulher Biônica ou o Homem de Seis Milhões de Dólares tivesse corrido tanto sob o efeito e ido parar no sul do país. A trama é um tanto confusa, pois não sabe se fica no registro histórico - a chegada de um médico, Edson Celulari, no sul do país em 1752, vindo de um navio cheio de colonos açorianos com esperança de vida melhor no Brasil, e depois seu envolvimento nas lutas entre Portugal e Espanha; ou seu amor por uma mulher casada com um militar, Daniela Escobar. Edson Celulari tenta compor seu personagem com verdade, mas o que mais a gente lembra dele é da cabelereira enorme desgrenhada e cheirando a talco ordinário - aliás, porque peruca, como se fosse cabelo de verdade, quase nunca convence em filmes históricos e fica um incômodo fake o tempo inteiro? Ainda que nem se tenha certeza se aquela juba não seja dele mesmo. Já Daniela Escobar, bela e talentosa atriz - contrariando uma geração malhada na TV como mulheres de diretores conseguindo seu lugar ao sol - funciona muito bem no cinema, vide suas performances em Vida de Menina (2004), de Helena Solberg, e Jogo Subterrâneo (2004), de Roberto Gervitz. Mas aqui ela não tem muita chance, não se sabe se pelo roteiro ou pela direção, e daí fica pouco da possível angústia de uma mulher presa pelo casamento naqueles tempos de nenhuma liberdade feminina, e muito de uma mulher sutilmente coquete e um tanto passada do ponto para esse registro. Bom saber que depois Paulo Nascimento faria o sensível Valsa Para Bruno Stein (2007), em registro diverso desse tedioso e empolado Diário.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (49)


Eloisa Mafalda.




Salve Salve!

quarta-feira, 24 de março de 2010

longas brasileiros em 2010 (66)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

066 - Excitação (1977), de Jean Garret ****

Dirigido por um dos maiores cineastas brasileiros, Jean Garret, Excitação é filme que cresce muito em revisão. E por ser cinema de gênero, essa qualidade salta aos olhos, pois ainda que saibamos como a trama de desenrola, o interesse permanece em crescente. Kate Hansen sai do sanatório e muda-se com Flávio Galvão, o marido, para uma casa de praia quase totalmente isolada. Lá, eles têm como vizinha Betty Saddy, que recebe inesperadamente a visita para ficar da prima Zilda Mayo. Enquanto Kate parece enlouquecer às voltas com eletrodomésticos como aparelhos de TV, de som, liquidificador e ventilador que insistem em atazaná-la, os vizinhos confabulam, encontram-se e se roçam à noite na areia. Aliás, genial a cena do ventilador, pois quem já não quis enfiar a mão em um, como se refizessemos em inconsciente consciente a descoberta infantil de que fogo queima? Com argumento e roteiro de Garret e de Ody Fraga, os diálogos de início são um tanto empolados, mas depois entram no tranco. E Garret, com a fotografia sensacional de Carlos Rechenbach - Prêmio APCA, também para a música de Beto Strada - cria cenas de puro deleite de direção. Algumas delas como a transa na água entre Betty e Galvão, que depois de diálogos inacreditáveis e inverossímeis, protagonizam cena de pura beleza e tesão. E também o ataque de Kate à empregada Liana Duval, que parece coreografado de tanto efeito eficaz e impactante. Kate Hansen mais uma vez está belíssima, e ao ser dirigida por cineastas do porte de Walter Hugo Khouri, em As Deusas; Alfredo Sternheim, em Mulher Desejada; e esse Excitação, de Garret, mostra porque é uma das maiores deusas do cinema brasileiro, e, sobretudo, da Boca do Lixo. Além disso ainda tem mais duas beldades: a altiva Betty Saddy; e o furacão Zilda Mayo em inicinho de carreira.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

terça-feira, 23 de março de 2010

serie deusas (112)


Emmanuelle Béart.





Nu!!!

longas brasileiros em 2010 (65)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

065 - Vingança (2008), de Paulo Pons **1/2

Até quase a metade de Vingança, a gente fica sem saber quem são aqueles personagens e quais são suas intenções e funções na trama. E esse é o grande mérito do roteiro - e também da direção - que também é assinado pelo diretor, o gaúcho Paulo Pons. No início, vemos Bárbara Borges encontrada violentada à beira de um rio, e Eron Cordeiro viajando de ônibus e desembarcando no Rio de Janeiro. Sabemos que ele está sendo vigiado e que ele também vigia Branca Messina, uma jovem despudoramente atrevida. Mais que isso, o filme só vai revelando aos poucos. E, paradoxalmente, é quando as cartas vêm para a mesa, que muito do interesse instalado em quem está do lado cá vai se esvaindo. Mas não fica desinteressante não, sobretudo pelas presenças de Eron Cordeiro e Branca Messina (foto). Ainda que seus personagens não sejam muito bem construídos pelo roteiro, os atores conseguem dar veracidade para eles em suas entregas. Principalmente Branca Messina, bela e talentosa atriz que precisa ser olhada mais de perto. Pena que no andar da carruagem esse Vingança vai perdendo fôlego, como nos estereotipados personagens de José Abreu e Emiliano Ruschel, pai e filhos gaúchos no sentido folclórico do termo. E é claro que há pais e filhos assim - e não só nos coronéis do nordeste como estamos acostumados - mesmo porque eles são agentes da trama. Mas ainda assim é ponto fraco do filme essas aparições. Vingança é filme de estreia que prende a atenção, o que não é pouco. E é cinema de gênero, estilo de filme que já rendeu maravilhas na história do cinema brasileiro e que é sempre bem-vindo.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

segunda-feira, 22 de março de 2010

longas brasileiros em 2010 (64)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

064 - Gabriela (1983), de Bruno Barreto **1/2

Até a década de 1980, Bruno Barreto tem uma filmografia das mais interessantes, com filmes notáveis como Tati, a Garota (1973), A Estrela Sobe (1974), Dona Flor e seus Dois Maridos (1976), Amor Bandido (1978), O Beijo no Asfalto (1980), e Romance da Empregada (1988). Mas dos anos 90 para cá, principalmente depois de passagem por Hollywood - onde dirigiu o bacana Atos de Amor (1996) - seus filmes não fazem nem sombra à essa primeira fase. É como se Bruno antes fizesse filmes para seu quintal, e aí eles ficavam universais, e agora fizesse filmes com olhos estatelados para o mercado externo, mas nem aqui eles funcionam muito. Esse Gabriela parece já estar contaminado por isso. E aqui ainda há um desafio maior, pois se o público tende a comparar filme e livro, aqui ainda tem a novela, um marco da TV de todos os tempos - ainda mais que é a mesma Sonia Braga na pele da personagem de Jorge Amado, do livro, e de George Walter Durst, da novela. Gabriela, o filme, elimina muitos personagens, e não poderia mesmo ter sido de outra forma. Só que dos que restaram no roteiro de Leopoldo Serran, Barreto e Flávio Tambellini, há uma simplificação que tira toda a verdade de cada um deles e também de suas ações. A Malvina de Nicole Puzzi e o engenheiro de Nuno Leal Maia aparecem e desaparecem feito raios; o Mundinho de Flávio Galvão só faz discursos; o Tonico Bastos de Antônio Cantáfora tem pernas grossas, mas não tem o physique du role canastrão necessário; as disputas entre os coronéis vira cabo de guerra de meia dúzia de jagunços correndo pela praça; o Bataclan vira palco de dança sem o mínimo rastro do que o cabaré tem na história. E mesmo o casal central, Gabriela e Nacib, ficou entre a venda, a cama e os banhos de torneira, mas sem a pegada convicente. Marcello Mastroianni como Nacib está muito bem, e é notável suas falas em português bem menos macarrônico como poderia ser. Já Sônia Braga, apesar de linda linda linda, faz sua Gabriela um tanto no piloto automático, daí que já na primeira cena em que fala o famoso "que moço bonito", a gente já não acredita muito naquilo e nem na personagem. A trama, como se sabe, focaliza o encontro entre Gabriela, uma retirante da seca, e o comerciante Nacib, na Ilhéus da época dos mandos e desmandos dos coronéis e de suas disputas políticas à base da garrucha. Daí, um monte de personagens autenticamentes do universo de Jorge Amado transita por esse caldeirão de política, cabresto, sensualidade e fodas clandestinas. Mas do jeito que Bruno Barreto filmou o roteiro que também ajudou a escrever, ficou pouco dessa mistura e muito de uma busca pela sensualidade cosmética, que, infelizmente, não funciona. Ficam cenas plasticamente lindas na tela, mas muitas vezes sem um pingo de verdade. O que fica mais mesmo é a belíssima trilha sonora de Tom Jobim, muito bem acompanhado por Gal Costa.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo