sábado, 24 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (97)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

097 - O Mistério no Colégio Brasil (1988), de José Frazão **

Muito depois do bacana J. S. Brown - O Último Herói (1978), e muito antes de encarar o universo das garotas de programa de luxo em Procuradas (2004), o cineasta baiano José Frazão dirigiu O Mistério no Colégio do Brasil. Sem arredar pé totalmente do foco de sua trajetória, policial/suspense, mas com olho mais que aberto para o filão de musicais de rock da época, o filme acabou resultando em hibridez que esvazia os dois gêneros, suspense e musical. Com parcerias com dois bambas dos filmes BRock dos anos 1980, Antonio Calmon e Lael Rodrigues - ainda que com o primeiro na fase pré-Menino do Rio (1981), mas já produzindo Rádio Pirata (1987) para o segundo, que foi seu sócio - Frazão acabou fazendo também o seu filme com/para jovens. Na trama, André Barros e Sílvia Buarque vão dar um amasso em uma caverna na floresta que cerca o colégio em que estudam e acabam por encontrar o cadáver de uma mulher. Esbaforidos, contam para José de Abreu, o diretor, mas quando vão conferir minutos depois o corpo já tinha desaparecido. Ao mesmo tempo, a banda de rock de Sílvia, que é guitarrista, está procurando uma vocalista, até que pinta no pedaço como candidata a bela Danielle Daummerie - sra. Lobão na época e com seu bocão inconfundível. Daí, enquanto a banda prepara um show de lançamento, o casal Barros e Buarque faz de tudo para descobrir o mistério que envolve o aparecimento/desaparecimento do corpo. A estética de Mistério no Colégio Brasil não se diferencia dos outros BRock da época - muita luz colorida, neon, fumaça e solos de guitarra. Mas o contéudo tem uma pegada muito mais adolescente que todos eles. Com facilidades inverossímeis no roteiro - como circulação inacreditável de personagen confinado - é filme que se assiste com interesse, mas o tom de juvenilia extremado não nos deixa levar aquilo tudo muito a sério. Tem José de Abreu no papel de José de Abreu, uma Beth Goulart louríssima e de cabelo arrepiado, Débora Evelyn mostrando os peitos na rua como uma prostituta de calçada, e ponta expressiva de uma bela que é cara dos anos 80, a faustofawcettiana Kátia Bronstein, O Mistério no Colégio Brasil não consegue se sustentar de pé até o final. E a perna manca que faz a queda é muito pela aposta em solução simplista para a trama, bem no clima jovem/adolescente de seus personagens. Ainda no elenco gigantesco, Marieta Severo, Carlos Augusto Strazzer, Paulinho Moska, Enrique Diaz, e um Procópio Mariano roubando a cena em suas breves aparições. E na trilha sonora, bonita interpretação de Danielle Daummerie para Chorando no Campo, de Lobão e Bernardo Vilhena, ainda que em cena completamente deslocada em uma estação de metrô.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

sexta-feira, 23 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (96)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

096 - Tangarella - A Tanga de Cristal (1975), de Luiz Mário Campello Torres ***

Durante um bom tempo no início desse Tangarella - a Tanga de Cristal ouvimos uma narração gaiata que anuncia a história, os personagens, e faz uma apresentação da Cidade Maravilhosa cheia de deboche. A narração diz que o Rio de Janeiro tem na natureza sua principal fonte de riqueza, mas que ainda assim o homem procura por uma felicidade misteriosa e desconhecida. Só que nada está perdido, pois está comprovado que só no Rio ainda existem mais de 23 pessoas felizes. E aí dá a cartada final: mas como isso não tem nada a ver com a nossa história, vamos conhecer um lar confuso, perplexo e efervescente: o lar da família Tangarella. Dirigido por Luiz Mário Campello Torres, mais um cineasta de um longa só, o filme é uma versão avacalhada de Cinderela. Dái, nada de sapatinho de cristal e maiores frufrus. O príncipe, um herdeiro que conversa com o gado em sua fazenda, diverte-se com as tirinhas dos jornais e come canja à noite antes de dormir, quer mesmo é uma mulher de tanga. Para isso muda-se de mala e cuia de Corumbá Roxo para o Rio, onde encontra uma gata borralheira de parar o trânsito, a belíssima Alcione Mazzeo, e Lydia Mattos como uma madastra arruinada financeiramente que planeja um casamento de ouro para suas filhas. E entre esses personagens tortos tem um ainda mais aloprado e que garante muito do brilho do filme: Jô Soares como o mordomo e faz tudo Erasmo Botelho. Muito antes de se tornar apresentador de talk show - com brilho nos anos 90, mas com tédio nos 2000 - Jô Soares sempre foi um GRANDE comediante. E aqui rouba a cena, como no teste de piadas, na disputa em corrida ao ritmo de samba, ou como a fada madrinha que providencia a tanga vermelha que mudará a vida da mocinha. Campello Torres não só dirige como também assina o argumento, o roteiro e a música do filme. Com isso, criou uma versão tupiniquim deliciosa para a a história clássica de Charles Perrault, e que dois anos depois uma outra versão teria muito desse tom anárquico na divertida e inesquecível novela da Tupi Cinderela 77, de Walter Negrão e Chico de Assis, dessa vez com Vanusa como Cinderela, Ronnie Von como o príncipe, e Elizabeth Hartman como a madrasta. Tangarella - A Tanga de Cristal é mais um filme escondido no baú criativo e surpreendente do cinema nacional dos anos 70.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (118)


Béatrice Dalle.





Nu!!!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (95)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

095 - Olé, Um Movie Cabra da Peste (2000), de Roberto Santucci **1/2

Esse Olé é, antes de tudo, um tanto estranho na sua mistura de chiclete com banana já anunciada no subtitulo, Um Movie Cabra da Peste. E se o lado chiclete mosta uma Los Angeles muito distante da terra solar dos sonhos de celebridade, o lado banana, por sua vez, focaliza um protagonista nordestino desajeitado e anti-galã - e toda vez que ele abandona o inglês para falar seu nome, ele carrega nas tintas do sotaque e diz: Raimundo de Jesus. Na trama, Mário Helborn é Raimundo, um sujeito que aterrisa em Los Angeles à procura da irmã Severina. É que a mãe de ambos está morrendo e antes de passar dessa para uma melhor, ou pior, quer ver a filha que saiu de casa e não voltou mais. E é na terra de Hollywood, que o cabra da peste vai se envolver com o baixo meretrício e conviver com traficantes, prostitutas e mendigos. O inglês lisinho de Severino já nos impinge o primeiro desconforto e vem logo à cabeça julgamento preconceituoso: mais um Jenipapo (1996 - Monique Gardenberg), em que cabras versam em inglês como se fossem língua diária? Mas a explicação eficiente vem logo: Severino é professor de inglês no Brasil. Olé é longa de estreia de Roberto Santucci, um dos poucos cineastas atuais que dirigem a filmografia essencialmente para o cinema policial ou com tramas embebidas no gênero - fez também Bellini e a Esfinge (2001) e Alucinados (2008). O filme é bem conduzido e se vale de um elenco eficiente e desconhecido, mas é o roteiro que prega peça no filme e em quem está assistindo, pois acompanha-se a trama com interesse para depois naufragar junto com as suas soluções frouxas e que acabam por tirar muito de seu mérito. Todos aqueles personagens mundo-cão de Los Angeles poderiam estar tranquilamente por aqui, seja em São Paulo, Rio de Janeiro ou Recife. Mas essa junção de uma realidade igual, mas que junta dois mundos diferentes a partir dos personagens, brasileiros/americanos/chicanos, empresta um tom interessante para a trama - e é algo que anos depois Plastic City (2009), uma co-produção Brasil/China/Japão, de Yu Lik-wai, vai elevar à máxima potência e com resultado barroco modernoso. Ainda que deficiente, Olé, Um Movie Cabra da Peste é cartão de visitas introdutório ao cinema de Santucci, e que tem como companheiros no gênero poucos nomes atuais como José Jofilly, Guilherme de Almeida Prado, José Frazão e o Beto Brant dos primeiros filmes.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (52)


Neuza Amaral.




Salve Salve!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (94)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

094 - Quero Ser Feliz (1986), de Sérgio Daniel Lerrer ***

Obs.: não consegui imagem do filme - na foto, Julio Remy.

Nas terras gaúchas do pioneiro Eduardo Abelim, um grupo de cineastas fez barulho nos anos 1970 com filmes em Super-8 que chamaram atenção da crítica, e confirmaram o talento nas produções em 35mm na década seguinte - como Nelson Nadotti, Giba Assis Brasil, Carlos Gerbase, Werner Schunemann e Sérgio Amon. E entre eles estava também Sérgio Daniel Lerrer, produtor de filmes reconhecidos nacionalmente - Verdes Anos (1984), de Gerbase e Giba, e Aqueles Dois (1985), de Amon - e que debutou em longas nesse Quero Ser Feliz, como diretor, co-produtor e roteirista. O filme acompanha as andanças de três jovens e as angústias, azarações e indefinições da idade - exército, namoradas, sexo, paixão, conflito familiar, empregos, profissão. Julio Reny é projecionista de cinema, Fernando Severino pula de emprego em emprego, e Marcos Breda dorme até o meio-dia. Já nas primeiras cenas, eles vivenciam o terror de véspera de apresentação no serviço militar, enquando esquadrinham a pista da boate à procura de possíveis pegações. Em um primeiro momento um bocejo se insinua e pensamos cá com os botões: mais um tipico filme de jovens com preocupações burguesas primárias? Essa sensação de possível impaciência teima em se reforçar com a trilha sonora atrapalhada, pois de uma vez só ouvimos uma enxurrada de músicas dos Beatles, todas picotadas - e voltamos a pensar com os mesmos botões: por que tanto Beatles em plenos anos 80? Se daí para frente a trilha sonora continua esquizofrênica, com mais Beatles, Simon e Garfunkel, BRock e outros mais, que faz ranço não pela beleza das canções, mas pela interrupção em todas elas, esses personagens e seus conflitos burgueses vão nos seduzindo em crescente. Questões como as descritas estão em muitos filmes que têm jovens recém-saídos da adolescência. Mas há em Quero Ser Feliz um certo tom de tristeza e desamparo não na boca de cena, mas por trás de tudo, que vai nos conquistando sorrateiramente. Ponto para Sérgio Daniel Lerrer, já que assina o roteiro e a direção, e também para o elenco quase todo desconhecido do grande público, a não ser Marcos Breda e Mayara Magri. Aliás, os dois, Breda e Magri, formam uma possibilidade de casal que retrata muito bem as sutilezas do roteiro e da direção de Lerrer, e toda a cena envolvendo um copo d´água diz muito sobre isso - como também as cenas de Julio Reny (foto), que além de ator é muito bom cantor, com seu violão e voz marcante. O cineasta só voltaria a dirigir um longa em 2000 - De Cara Limpa, mas esse Quero Ser Feliz já é, por si só, belo registro de acerto e de sensibilidade. Vale ressaltar ainda a presença na ficha técnica de outro gaúcho talentoso como um dos integrantes da produção gráfica, Adão Iturrusgarai, criador da deliciosa Aline dos quadrinhos e da TV, e dos anárquicos cowboys gays Rock & Hudson.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

terça-feira, 20 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (93)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

093 - Treze Cadeiras (1957),de Francisco (Franz) Eichhorn ***

Esse Treze Cadeiras reúne o astro maior da Atlântida, Oscarito, com outros notáveis e geniais comediantes das chanchadas, Zé Trindade, Renata Fronzi e Zezé Macedo. Só que o filme difere bastante das produções habituais do estúdio, pois é um hibrido de comédia quase musical e melodrama. Oscarito é um barbeiro do interior que vem para a cidade grande receber a herança que a tia deixou. Já no caminho desperta a atenção e o interesse de Renata Fronzi, uma vedete de boate, que fica de olho na butique do novo rico. Mas Oscarito fica desapontado, pois a tia lhe deixou apenas treze cadeiras, e sem saber que uma delas guarda uma fortuna, vende todas para Zé Trindade, que por sua vez as revende para um monte de gente. Daí, ele e Fronzi passam o filme inteiro atrás das cadeiras espalhadas pela cidade. Não há quase números musicais nessa produção, a não ser um de Renata Fronzi e uma música de Zé Trindade, que o próprio escuta no rádio e sapeca diz para a mulher brava: deixa o Zé Trindade cantar, Ananásia! Oscarito é talentoso sempre, mas aqui Zé Trindade quase rouba a cena, sobretudo nos seus embates com a esposa megera, a ótima Rosa Sandrini - ouvi-lo exclamar Ananásia! já é garantia de diversão. Renata Fronzi também está ótima, e aqui tem papel sob medida para mostrar seu talento como comediante e atriz dramática. Sua personagem, a interesseira Yvone, é capaz de vilania com o Bonifácio Boaventura de Oscarito, e, ao mesmo tempo, demonstrar doçura, compondo uma vilã cheia de sutilezas e complexidade. Oscarito, mais uma vez, tem falas geniais, não necessariamente pelo brilhantismo delas, mas por seu jeito todo particular em dizê-las. Quando o filme vira melodrama e lhe exige mais o ator que o comediante, ele fica aquém de sua genialidade, mas não faz feito de jeito nenhum. O cineasta Fraz Eichhorn é um alemão que assinava Francisco Eichhorn em seus filmes rodados aqui. Esse Treze Cadeiras, que tem roteiro de José Cajado Filho, é baseado em romance de Ilia Lif e E. Petrov. Realizado há mais de meio século, Treze Cadeiras é um exemplo de como as produções da Atlântida conseguiam um diálogo com o público, ponte que não se desfez mesmo passadas tantas décadas.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

segunda-feira, 19 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (92)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

092 - Rita Cadillac, A Lady do Povo (2007), de Toni Venturi ****

Quem tem mais de 40 anos e cresceu assistindo a TV Tupi sabe que a chacrete maior foi India Potira, com suspiros da platéia também para outras como Yvone, Walderez, Lucinha Apache, Verinha do Flamengo e Angélica. Todas elas batiam ponto nos programas do Chacrinha, a Discoteca e a Buzina. Já quando o Velho Guerreiro voltou para a Globo e juntou os dois no Cassino do Chacrinha, aí Rita Cadillac realmente roubou a cena. É a trajetória desse furacão que o cineasta Tony Venturi refaz nesse bacana Rita Cadillac, A Lady do Povo. Documentário é assim, ou vale pelo personagem, como o Vinicius (2005), de Miguel Faria Jr, ou quando independente do carisma do personagem o que se percebe é grande cinema, como o Santiago (2006), de João Moreira Salles. E tem casos que mesmo um bom personagem pode não funcionar e resultar em filmes assim assim, como o Paulo Vanzolini de Um Homem de Moral (2009), de Ricardo Dias - esse caso assusta ainda mais, pois o mesmo cineasta já tinha feito o fascinante No Rio das Amazonas (1995), sobre o Vanzolini zoólogo, ao contrário deste que é sobre o Vanzolini compositor. Em Rita Cadillac, A Lady do Povo, Toni Venturi tem uma personagem e tanto, mas ainda assim fica nítido também o dedo talentoso do cineasta para que a ex-chacrete, dançarina e atriz seja apresentada de forma tão digna na tela. O filme começa aparentemente com cenas clichês, com Rita desfilando em um cadillac vermelho e depois preparando o almoço de forma completamente desglamourizada. Com o andar da carruagem, vê-se que é exatamente esses dois registros, o da sexy simbol e o da dona de casa, que interessam ao cineasta. Rita se entrega à lente de Venturi e fala de tudo - ou para lembrarmos do livro de memórias de Danusa Leão, fala de Quase Tudo. Fala dos envolvimentos amorosos, dos pais, da carreira artística, dos problemas com o pai do seu filho, dos tempos da viração, de alguns filmes que fez, da passagem pelo cinema pornô, e muito mais. E é a carreira no cinema que rende passagens belíssimas no documentário, como a atuação dela em Asa Branca, Um Sonho Brasileiro (1981), notável filme de Djalma Limongi Batista, em que ela está mais pantera do que nunca. Aliás, é Djalma que a chama de Lady do Povo, e no filme conta como ficou fascinado por ela. Outro momento lindo no cinema é a cena do show para os presidiários em Carandiru (2003), com direito a depoimento inspirado de Hector Babenco, que chama atenção para a ingenuidade presente na imagem de furacão de Rita. Como se sabe também, Rita Cadillac foi manchete em tudo que foi lugar quando resolveu protagonizar filmes pornôs na série Brasileirinhas. E é impressionante como mesmo depois dessa passagem, que poderia destruir uma carreira pelo preconceito hipócrita dos caretas de plantão, ela saiu ilesa e continuou respeitada como sexy simbol popular e das maiores que este país já produziu nesse universo. Reinado que Rita Cadillac mantém e com toda justiça em quatro décadas no imaginário popular, e que esse documentário ajuda a eternizar nas telas.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (117)


Stéphane Audran.




Nu!!!

domingo, 18 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (91)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

091 - D´Gajão Mata Para Vingar (1971), de José Mojica Marins **1/2

Quem acompanha a carreira de José Mojica Marins sabe, mas ao contrário do que pensa o grande público, Mojica não dirigiu apenas filmes de terror/horror, como também comédias eróticas, filmes de sexo explícito, e faroestes como esse D´Gajão Mata Para Vingar. Aqui a trama envolve o extermínio de um grupo de ciganos por um fazendeiro que é levado a pensar que sua filha foi morta por um deles, quando na verdade ela morreu quando o capataz da fazenda tentou estrupá-la. Da matança só sobram D´Gajão e sua mulher Nadja, que é feita prisioneira pelo fazendeiro. Ele então vai em busca da bela e com desejo sangrento de vingar seu povo. Como nos faroestes de John Ford, aqui também há duelos no saloon, bandido sendo baleado no alto dos sobrados e montanhas de pedra, onde mocinho e bandidos travam tiroteio com muito mais balas espocando antes das armas serem reabastecidas. Se por lá muitas vezes são homens duros e solitários, aqui são saltitantes ciganos às voltas com a marca a ferro de serem apontados eternamente como ladrões - quem foi criança no interior em priscas eras lembra-se que um dos medos maiores era ser roubado para virar sabão. E aqui, nada de Dara e de Cigano Igor, quem manda mesmo no pedaço é Walter Portella, talentoso ator da Boca do Lixo em um de seus primeiros trabalhos, e a bela Ana Nielsen. Daí, sai o Django de Franco Nero e de Sergio Corbucci e entra do D´Gajão de Portella e Marins, com todo o nosso knowhow particularíssimo. O filme é um exemplar da diversidade de produção da Boca do Lixo, também por sua vez confundida apenas como ninho de pornochanchada, quando na verdade foi templo generoso do cinema popular e suas vertentes, inclusive as deliciosas pornochanchadas. D´Gajão Mata Para Vingar é filme que se assiste com interesse, sobretudo por suscitar um certo ar nostálgico de um tipo de cinema que não há mais. Mojica é talentoso sempre, ainda que seja no terror/horror que realmente nade de braçada. Muitas vezes o filme fica foruxo, como em cenas longas de tiroteio e de perseguição. Filmado no Paraná, D´Gajão tem nomes notáveis da Boca na ficha técnica: Manuel Augusto de Cervantes na produção, Edward Freund na direção de fotografia e na câmera, Fauzi Mansur na montagem.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes comediantes (25)


Renato Aragão.




Deuses do riso.