sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

15a mostra de cinema de tiradentes


Embarco hoje à tarde e fico até o dia 29 em Tiradentes para a 15a Mostra.

O tema da Mostra é o Ator em Expansão e o grande homenageado é Selton Mello, que está comemorando 30 anos de carreira - na foto com Vãnia Catani, produtora de seus longas Feliz Natal e O Palhaço.

A 15a Mostra de Cinema de Tiradentes vai exibir, gratuitamente, 116 filmes - 31 longas, 1 média e 84 curtas. A programação apresenta ainda o 15o Seminário de Cinema Brasileiro, formado por 19 encontros da crítica, diretor e público, mais sete debates temáticos. Haverá também atividades como Mostra Aurora, Mostrinha de Cinema, oficinas, exposição, shows, lançamentos de livros e cortejo de arte. Todas as atrações acontecerão no Cine-Tenda, Cine-Praça e no Cine-Teatro.



Da programação de longas, alguns destaques são:
- Hoje, de Tata Amaral
- Augustas, de Francisco César Filho
- Na Carne e na Alma, de Alberto Salvá
- Girimundo, de Helvécio Marins e Clarissa Campolina
- Vou rifar meu Coração, de Ana Rieper
- As Hiper Mulheres, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro

Acompanhem a cobertura pelo meu site Mulheres do Cinema Brasileiro:
http://www.mulheresdocinemabrasileiro.com/

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

longas brasileiros em 2012 - 013



Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2012 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
(em 2010 - 289 filmes)
(em 2011 – 72 filmes)


013 – Prazeres Permitidos (1982), Antônio Meliande



Prática comum no cinema dos anos 1960 e 70, sobretudo no italiano e no brasileiro, o filme em episódios sempre rezou pela cartilha da desigualdade. Afinal, juntar diferentes cineastas em segmentos distintos que variavam entre a comédia – a maioria –, o drama ou os dois juntos, era batata de que o resultado final apontaria para um certo desequilíbrio, com uns se saindo melhor que os outros. Agora, e quando o roteirista e o diretor eram os mesmos nos diferentes episódios? Era garantia de uma divisão melhor? Não necessariamente. Como prova esse Prazeres Permitidos, que juntou dois veteranos da Boca: o roteirista Luiz Castilini e o cineasta Antônio Meliande. O filme é formado pelos episódios Água Abaixo... Fogo Acima, e O Sonho - o primeiro, um drama; já o segundo uma comédia. Se no segmento de abertura há uma certa sofisticação, sobretudo na ambiência que perpassa toda a história, o que encerra o longa aposta no diálogo mais fácil, em que a costura finaliza mal acabada e apelativa. Em Água Abaixo... Fogo Acima, Lia Furlin é Andréa, uma mulher casada de classe média, que ainda que escreva artigos sobre sexo para uma editora, tem rotina das mais manjadas: de dia busca o filho na escola e à noite fica esperando o marido (Roberto Miranda) chegar em casa para o jantar e depois o sexo mal feito debaixo do lençol. Numa das idas à escola, ela conhece uma outra mãe que, ao contrário dela, é totalmente liberal e pratica o sexo casual numa boa. Esse convívio fará com que Andréa mergulhe cada vez mais em fantasias sexuais que vão lhe causar prazer e culpa. Bem dirigido, o episódio conta com ótima presença de Lia Furlin, que ainda que não apresente grande atuação é figura imponente em cena – a atriz já protagonizara o filme anterior de Meliande, Lilian, a Suja. E Roberto Miranda é sempre garantia de talento com sua persona genuinamente cinematográfica. Já O Sonho é sobre um jovem produtor e diretor de filmes pornôs para motel que fica alucinado com a chegada da nova mulher de seu tio caipira que vem passar, com ele, uns dias na casa em que vive com sua mãe. Logo logo ele verá que de caipira ela não tem nada e que está muito mais interessada é em satisfazer todas as suas fantasias com o sobrinho, já que o marido conservador fica com ela só na base do papai e mamãe. Ana Maria Kreisler compõe de forma zombeteira a tal tia fogosa, o que traz certo humor para a trama. E há ainda a presença elegante em cena de Arlete Montenegro. Mas se José Miziara exagera na caricatura, é Monique Lafond que tem personagem completamente esvaziado como a namorada do sujeito. Ao final de tudo, a gente fica meio sem entender como os dois episódios foram escritos e dirigidos pelas mesmas pessoas. Um detalhe: o cartaz faz alarde sobre o conteúdo sexual, mas, na verdade, é filme dos mais comportados.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

longas brasileiros em 2012 - 012



Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2012 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
(em 2010 - 289 filmes)
(em 2011 – 72 filmes)




012 – Dores e Amores (2010), de Ricardo Pinto e Silva



Segundo cobertura da imprensa na época, esse Dores & Amores causou certo mal estar no debate do Festival de Paulínia em 2010. A imprensa teria detestado o filme e o embate entre diretor e jornalistas não foi nada pacífico. Ricardo Pinto e Silva teria se defendido dizendo que quis fazer um filme de diálogo fácil com o público e cuja história – baseada no livro Dores, Amores e Assemelhados, de Claudia Tajes, e na peça Intervalo, de Dagomir Marquezi – mirou foco na superficialidade das relações amorosas atuais. Bom, assistindo, finalmente, ao filme, é quase impossível não ser tomado por um desconforto. Pois o problema aqui é que para falar de superficialidade nas relações, o filme não precisaria, ele próprio, apostar na mesma tal superficialidade. E o uso constante de grafismos, imagens descoladas e ritmo moderninho não ajuda absolutamente em nada para que Dores & Amores decole um pouco e saia do rame rame daquelas fitinhas juvenis bobinhas bobinhas. Há ainda, dentro da história, a encenação de uma novela em que os personagens se miram, mas que na verdade atravanca ainda mais o mostrado e a gente fica se perguntando o tempo todo: mas pra quê isso? A trama fala de uma quase balzaquiana (Kiara Sasso) que sonha encontrar o grande amor e acaba apostando todas as suas fichas em um cara (Márcio Kieling) que conhece no casamento do irmão. Ele por sua vez, não dá conta quando uma relação pode virar amor e aí aborta as possibilidades para ficar zanzando no universo da pegação. Há ainda outros personagens circundantes que transitam pela mesma praia, em que vale mais a troca de parceiros que qualquer outra coisa – Kayky Brito, Carlos Casagrande, Jorge Corrula. A utilização de um elenco não muito manjado ajuda a segurar as pontas um pouco, mas o destaque mesmo fica por conta de Kiara Sasso, a protagonista Julia, que está muito bem em sua personagem; além da beleza estonteante da atriz portuguesa Cláudia Vieira, uma doceira obcecada por Jonas, o personagem de Márcio Kieling. O filme anterior de Ricardo Pinto e Silva, Querido Estranho, já era um tanto problemático em seu resultado. Mas fica a anos-luz quando comparado a esse Dores & Amores.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

longas brasileiros em 2012 - 011



Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2012 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
(em 2010 - 289 filmes)
(em 2011 – 72 filmes)


011 – Perdida em Sodoma (1982), de Nilton Nascimento




Esse Perdida em Sodoma começa interessante com sequência na cidade bíblica, que tal como nas Escrituras arde em chamas pela ira de Deus devido ao alto grau de devassidão de seus habitantes. E é curioso ver lá em trajes de época, deusas como Silvia Gless, Zilda Mayo e Maristela Moreno. Só que já nesse começo, vemos também Nicole Puzzi, a protagonista Marlene, com sua expressão khouriana presenciando, aparentemente, uma cena de sexo explícito. O espanto torna-se maior ainda quando os letreiros irrompem na tela após o incêndio e a gente vê no elenco os nomes de Juca de Oliveira, José Lewgoy, Alcione Mazzeo e Roberto Bataglin. Vixe! Como essas deusas todas da Boca - e ainda tem Aldine Muller, Tãnia Gomide e Noelle Pinne - e esses astros de outras paragens foram parar em filme de sexo explícito? Bom, as interrogações não perduram por muito tempo, pois logo logo a gente vê que foi claramente o uso de expediente torpe que algumas produções usaram – seja por diretores, produtores ou exibidores - que foi a de enxertar cenas explícitas nos filmes. Com o sucesso de O Império dos Sentidos, de Nagisa Oshima, realizado em 1976, mas lançado no Brasil em 1981, via mandado de segurança, começou a produção desenfreada de explícitos, e alguns dos que já estavam prontos e não tinham cenas assim, passaram pelo tal enxerto E aí, basta uma conferida rápida tanto no dicionário de filmes, do Leão, como no dicionário de diretores da Boca, do Sternheim, para a gente confirmar que é isso mesmo. E que Nilton Nascimento, cineasta que realizou pioneiro longa de ficção em Santa Catarina, O Preço da Ilusão, em 1957, se enveredou nos anos 80 para os explícitos, e, segundo a publicação de Sternheim, enxertava cenas de um filme no outro. Em Perdida e Sodoma, Nicole Puzzi chega do interior para procurar em São Paulo a mãe que a abandonou ainda criança. O que sabe é que tem um pai que desconhece, mas que lhe manda uma mesada, e que sua mãe se chama Giovana e cantava músicas italianas nas boates da noite paulistana. A partir daí, perambula pelos inferninhos da cidade ao lado do ex-cafetão da mãe que lhe promete levar até ela, mas que tem interesse mesmo é assediar Marlene para a prostituição. Esse caminhar pela noite é o palco perfeito para cenas de nudez e sexo – incluindo os enxertos -, em canhestra analogia à cidade dizimada do início do filme e estampada no título. Não bastasse isso, o roteiro ainda amplia a geografia do pecado, ao levar Marlene para o Rio de Janeiro em pleno carnaval, deixando claro que as duas capitais são a personificação atual da amaldiçoada Sodoma bíblica. Em Perdida em Sodoma não é apenas a personagem mas o próprio filme que se perde, o que fica mais evidenciado ainda na aposta pífia em seu final redentor com a possibilidade do recomeçar no interior.

domingo, 15 de janeiro de 2012

longas brasileiros em 2012 - 010



Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2012 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
(em 2010 - 289 filmes)
(em 2011 – 72 filmes)




010 – O Beijo da Mulher Piranha (1986), de J.A. Nunes




Depois de fazer história na Boca do Lixo e virar sinônimo de muito do que a Rua do Triunfo realizou de melhor – Amadas e Violentadas (1976), Excitação (1977) e A Mulher que Inventou o Amor (1980), Jean Garrett, como outros tantos, também foi parar no sexo explícito. Só que quando uma vez grande, fica um passado difícil de se extinguir feito bola de sabão. E aí, mesmo se valendo de um pseudônimo - J.A. Nunes -, e o novo formato de produção privilegiar mesmo é o entra e sai – aliás, título de um dos seus filmes desta fase - pode-se ver lá o talento incontrolável emergir. Como neste surpreendente O Beijo da Mulher Piranha, do tempo em que o explícito ainda era feito em 35 mm, e, dependendo do realizador, poderia resultar em algo a mais que pura sequência de trepadas. Um ano antes, Hector Babenco dirigiu o sucesso internacional e oscarizado O Beijo da Mulher Aranha, baseado em romance do argentino Manuel Puig. Este Beijo aqui pega carona no título fazendo deliciosa e sacana versão, mas não pensem que fica só nisso não. É como se ele utilizasse apenas o mote fantástico daquela devoradora de machos de lá, e embarcasse a valer naquele universo, mas por conta própria. Garrett constrói, em menos de uma hora e meia, um filme perturbador e de altíssima linhagem. Na trama, um escritor de histórias policiais sai do interior de São Paulo rumo à capital depois de receber pedido de ajuda de um amigo pelo telefone. Seu destino será a casa da enigmática esposa do sujeito, que tem o hábito de se excitar em uma banheira com uma piranha e depois trepar alucinadamente com os homens que cruzam seu caminho. Começa aí um labirinto para o personagem e para nós, que acompanhamos as situações sexuais desenfreadas que acontecem naquela estranha casa onde o horror parece estar submerso e entranhado no cotidiano. Muito bem realizado – as cenas de sexo de Carla Prado com o peixe na banheira são impressionantes -, O Beijo da Mulher Piranha, ainda que com as limitações do gênero, é filme de quem sempre foi grande.