sexta-feira, 16 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (161)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

161 - Arara Vermelha (1957), de Tom Payne *****

Tom Payne foi um dos mais importantes diretores da Vera Cruz, estúdio para o qual dirigiu alguns filmes, sendo o mais famoso deles Sinhá Moça (1953). Mas foi em uma produção independente bancada por Fernando de Barros, e seu último filme, que dirigiu esse notável Arara Vermelha. Aqui, sai o sofrimento e o idealismo de Sinhá Moça e entra o mundo sórdido e bruto do garimpo, em trama baseada em romance de José Mauro de Vasconcelos. Na história ninguém vale muita coisa não e todos os preceitos morais e noções de certo e errado sucumbem quando é descoberto um grande e raro diamante batizado de Arara Vermelha. Quem manda no garimpo é Milton Ribeiro, que fascinado pelo diamante que é quase roubado por Ricardo Campos, um de seus funcionários, resolve que não quer vendê-lo por preço nenhum, pois o quer para colocar no dedo. Tudo poderia seguir seu curso, não fosse Anselmo Duarte, o tenente responsável pela ordem do lugar, adepto do jogo de cartas e ter acabado de contrair dívida vultosa. Para completar, ainda é atormentado por Odete Lara, a esposa grávida que não quer ter o filho naquele fim de mundo. Acossado, o tenente surrupia o diamante e foge com a mulher, o garimpeiro ladrão, e mais Ana Maria Nabuco, que descobre o plano de fuga e exige ir junto. Milton Ribeiro contrata o indio Aurélio Teixeira para procurar o grupo, mas ele acaba se juntando a eles, e daí todos passam a ser perseguidos por Milton e seus capangas. Arara Vermelha é um filme de perfeito domínio de direção, senso de ritmo e escalação de elenco. Sobretudo porque os protagonistas estão em papéis bem diferentes dos que faziam ou viriam a fazer. A começar por Anselmo Duarte, que deixa para trás a estampa de galã para encarnar um tenente suado, de barba por fazer, autoritário e cruzando a linha que separa polícia e bandido. Do outro temos Odete Lara, aqui em um de seus primeiros trabalhos no cinema e anos-luz equidistante das mulheres elegantes ou não, mas sempre desejadas, que fará em sua carreira. De cabelos pretos e sem glamour algum - ainda que o cabelão e o decote generoso não nos faça esquecer que há ali um furacão - a deusa passa o filme primeiro grávida e depois com o bebê no colo, dependendo o tempo todo de seu trabalho de atriz dramática e que faz muito bem - Prêmio Saci, Governador do Estado, e da Associação Brasileira de Cronistas Cinematográficos de Melhor Atriz. O papel fatal fica para Ana Maria Nabuco, Aurélio Teixeira encarna com veracidade um índio mestiço, e Ricardo Campos está ótimo como o ambíguo garimpeiro Daniel. Filme de aventura e perseguição, Arara Vermelha tem pulsação nervosa e mantém o interesse mesmo que em revisão já saibamos seu desfecho. A falta de rumo para a vida de todos aqueles personagens miseráveis poderia sugestionar saídas compensatórias e uma vida menos ordinária, ainda que no mundo do crime. Afinal, no garimpo não apenas se explora os recursos naturais, mas também aqueles que nele trabalham, e daí poderia valer a máxima de que quem rouba ladrão tem cem anos de perdão. Mas se antes todos eles estavam confinados em uma vida sem perspectiva, o caminhar em fuga poderá se revelar um afunilamento ainda maior. E é ao situar todos esses personagens nesse caldeirão em ebulição e fazer deles muito mais que pobres-diabos, que Arara Vermelha continua a impactar mesmo passado mais de meio século de sua realização e mesmo quando, em único momento, sai desse clima tenso e resvala para o melodrama.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quinta-feira, 15 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (160)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

160 - O Donzelo (1971), de Stefan Wohl ****

Stefan Wohl nasceu em Viena, Austria, em 1934, mas com 12 anos desembarca no Brasil e fica por aqui. Faz TV, publicidade, teatro. No cinema, dirige três filmes, um episódio e dois longas. Um deles é esse O Donzelo, em que além da direção, assina o argumento e o roteiro com Flávio Migliaccio, o protagonista. Ele é Nestor, que depois de desapontar toda uma cidade por fracassar com a prostituta-mor do pedaço é expulso de casa por Fregolente, o pai, que vocifera: que não volte mais para casa enquanto não virar homem! A partir daí esse anti-herói vai perambular por várias cidades e em cada uma delas encontrará uma beldade candidata a lhe tirar o selo. E que beldades: Marília Pêra, Irene Stefânia, Márcia Rodrigues, Leila Diniz. O Donzelo chega à perfeição em vários momentos e só não é no todo porque cai um pouco, sobretudo, na aventura com Márcia Rodrigues, que ainda que esteja linda e ótima atriz como sempre, sua história não ajuda muito. Marília Pêra como a prima com o kit-desvirginamento é momento inspirado de roteiro e interpretação. Leila Diniz como a estrela que nunca pára de trabalhar, mas que ainda assim não se furta em ir à casa do fã Grande Otelo para comer a comidinha caseira junto à uma renca de meninos, tem composição de personagem com muito da persona da atriz, um misto de doçura e tom esfuziante. E é na história com Irene Stefânia, uma prostituta disputada em uma cidade e aluna de meia três quartos na outra, que o filme atinge sua maior expressão. A cena da quadrilha em que Flávio sequestra Irene para uma conversa particular e quando se dá conta todos os dançarinos vieram puxados no cordão, ou ainda a que ele vê sua bunda no teto espelhado da zona quase valem o filme inteiro. Além disso tudo, ainda tem outros tantos episódios enquanto Nestor vai de uma cidade à outra - o quase chega lá na cabine do trem é mais uma cena engraçadíssima - e outras musas e grandes atores desfilam pela tela em participações especialíssimas, como Maria Gladys, Marisa Urban, José Lewgoy, Mara Rúbia. O Donzelo mostra também, mais uma vez, o quâo grande ator é Flávio Migliaccio, seja no drama ou na comédia - e nem a idade um tantão acima para o personagem compromete um mílimetro sequer a veracidade da saga. Filme delicioso e pouco comentado.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quarta-feira, 14 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (159)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

159 - As Cariocas (1966)

episódio Fernando de Barros conta sua história ***
episódio Walter Hugo Khouri conta sua história *****
episódio Roberto Santos conta sua história *****

As Cariocas já começa delicioso com narração espirituosa e gaita que situa o Rio de Janeiro como nervo central e palpitante do Brasil e onde fazem morada os mais altos quilates do imaginário popular: praia, carnaval, futebol e mulher boa. Texto e voz de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, abrem alas para os três episódios, cada um com recorte geográfico da cidade e suas desejosas habitantes. Adaptado do livro de contos do mestre do cotidiano carioca, o filme reuniu apenas três relatos sob a batuta de diretores até então impensáveis e, curiosamente, nenhum deles nascido na cidade maravilhosa: o português radicado no Brasil Fernando de Barros, e os paulistas Walter Hugo Khouri e Roberto Santos. Para cada um deles uma deusa: Norma Bengell, Jacqueline Myrna e Íris Bruzzi - ainda que outras musas circulem entre um e outro, como Lilian Lemmertz, Vera Barreto Leite, Esmeralda Barros. Os episódios têm registros diferentes e vai num crescendo em termos de resultado e e encanto. Começa em tom leve com a picardia de desencontros entre casados e amantes e mais um noivo no meio - Bengell, Newton Prado, Walter Foster, Celia Biar e John Herbert. Tudo gira em torno do desejo de um carrão, que mais que servir como opulência faz sentido também para marcar território nas disputas entre matriz e filial. Esse é o episódio de Barros. O segundo vem em registro oposto, saem os ti ti ti e conchavos de salão e entra a atmosfera densa e um tanto enigmática de uma jovem que caminha para lá e para cá como Jeanne Moreau em filme de Louis Malle e Michelangelo Antonioni, ainda que por motivos bem diversos. Jacqueline Myrna mora em um quarto e sala, recebe de dia o amante bronzeado e de noite o senhor austero. Todos querem seu quinhão de carne, ainda que o que mude mesmo é só o forro da mesa e os provimentos - de dia uma xícara de café e um trago e outro, à noite o bife de panela e um copo de vinho modesto. Em ambos, os disquinhos na vitrola. Entre um e outro, a moça enche a bolsa de maça e bolacha e corre para cuidar do noivo doente em uma pensão, que faz planos de casamento e sonha com o fim do pagamento das prestações da casa. Feito a Teresinha da canção, mas com pretendentes bem diferentes dos da quadrinha e motivos idem, Jacqueline Myrna paira um tanto distante de tudo, em um mundo de silêncios todo particular. Os homens são Mário Benvenutti, Sérgio Hingst e Francisco di Franco. Esse é o episódio de Khouri. E no último o sangue ferve. Sai a picardia, sai a atmosfera, e entra a exasperação. Íris Bruzzi é a rainha da praia. Atriz de pontas, seja em novelas ou em filmes, deflagra a libido em uns e a vingança em outros, principalmente dos que querem comê-la e não tiveram chance, e daquelas que querem comê-la viva por inveja dela ter o que não têm: ousadia, gostosisse, desibinição. Em um programa de auditório, os telespectadores de casa e nós do lado de cá acompanhamos a leoa sendo inquerida pelo apresentador esperto, enquanto sua biografia desliza pela tela. O motivo da celeuma? A prisão do furacão por ousar lavar seu carrão em trajes mínimos, o que para os detratores denota uma atitude de afronta típica de zona sul em plena zona norte, e faz com que senhoras avançem sobre o carro e a dona com seus rolos de fazer pastel. Uma celebridade aparentemente acuada, uma tigresa com muito ódio no coração. Esse é o episódio de Santos. Em cada uma das histórias, os cineastas conseguiram deixar suas assinaturas. Um dos destaques é a habitual maestria de Khouri na construção de atmosfera em que tudo quer mais dizer do que é dito. Outro é a crueza impactante do cinema de Roberto Santos. As Cariocas vêm aí na TV sob a batuta de Daniel Filho, o mesmo que levou para a telinha uma das melhores séries de sua história, a maravilhosa e inspirada A Vida Como Ela É, de Nelson Rodrigues.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (133)


Robin Wright.





Nu!!!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (158)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

158 - O Puritano da Rua Augusta (1965), de Amácio Mazzaropi ** 1/2

Dos primeiros filmes dirigidos por Mazzaropi, o Puritano da Rua Augusta situa a trama no que é hoje um dos points mais efervescentes de São Paulo - a trama e as poucas cenas de externas, pois os interiores foram rodados na fazenda em Taubaté mesmo, claro! E é curioso ver como era a cidade, como um ônibus da Praça da Sé mais parecido com a Marinete de Tieta - e ver a São Paulo dos anos 1960 nas poucas cenas é um dos atrativos maiores do filme. Na história, Mazzaropi é Pundoroso, rico industrial dono de uma fábrica que larga a fazenda e muda-se para a capital para ficar perto dos negócios e dos filhos. Integrante de uma liga de moralidade que faz pregações nas praças, ele arrepia os cabelos com a libertinagem de Edgard Franco, Carlos Garcia e mais a garota, os filhos que só querem saber de farra, de roupas modernosas, e de dançar o twist. Bate de frente também com a mulher Marly Marley, uma dondoca que adora torrar dinheiro no jogo, e com a sogra Marina Freire que acoberta tudo. Só tem como aliados o filhinho João Batista de Souza, a irmã Elisabeth Hartmann e o cunhado – esse é o segundo filme de Elisabet Hartmann, o primeiro foi A Ilha (1963), de Walter Hugo Khouri, e que faria muitos outros com o velho Mazza. O Puritano da Rua Augusta tem como assistente de direção aquele que viria a ser um dos mestres da Boca do Lixo, John Doo - O Dicionário de Cineastas Brasileiros, de Luiz F. A, Miranda, e o Cinema da Boca - Dicionário de Diretores, de Alfredo Sternheim, registram que foi Doo que dirigiu o filme mas assinou como assistente. O filme começa bem, com Mazzaropi vestindo uma escultura por achá-la indecente, e tem passagens engraçadas como algumas tiradas espirituosas de Pundoroso e cenas como a que ele fica de cabelo arrepiado. Mas no geral é um tanto truncado e está longe dos grandes filmes do mestre. Um destaque delicioso é ótima participação de Elza Soares cantando O Neguinho e a Senhorita, de Noel Rosa e Abelardo da Silva, clássico divertido que ela voltou a cantar recentemente, como no belo show Beba-me.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (64)


Ilka Soares.




Salve Salve!

domingo, 11 de julho de 2010

tv de bordas


Que me perdoe o ECA, mas Leona, a Assassina Vingativa é tudo de bom!!!

Ri demais dessa novelinha em três espisódios com os menininhos do Piauí.

Leona, com o lenço verde, e a Aleijada Hipócrita dando chute me fazem rir quanto mais assisto.

"você quer me acabar comigo?!!! O que você quer mais de mim?!!! Você quer acabar com a minha vida?!!!"

"Eu tenho movimento da perna, eu tenho."

É a verdadeira TV de Bordas.


http://www.youtube.com/watch?v=ACXFHGanR7w

ADENDO
Lucas me corrige: os meninhos são do Pará, não do Piauí.