sábado, 22 de maio de 2010

longas brasileiros em 2010 (123)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

123 - O Lamparina (1964), de Glauco Mirko Laurelli *****

Quando se vê atualmente tantos filmes nulos sendo produzidos e dirigidos, e, muitas vezes, com orçamentos gigantescos, a vontade que dá é gritar para esse povo voltar não só os olhos mas todos os sentidos para o cinema que já foi feito nesse país. Se muitos dos nossos produtores e cineastas não se arrogassem tanto em empáfia como se estivessem inventando a roda a cada filme, poderiam olhar para trás e aprender com tanta gente talentosa que já se foi ou que foi alijada do meio cinemaográfico. Com certeza, ganhariam eles, ganharia o público, ganharia o próprio cinema brasileiro. Quantas coisas a aprender se olhassem, por exemplo, para esse encontro genial entre Amácio Mazzaropi e Glauco Mirko Laurelli, que rendeu quatro filmes com o primeiro dirigindo e o segundo produzindo e protagonizando - Laurelli ainda montou mais cinco filmes dele com outros diretores. Como em O Lamparina, cinema popular de altíssima cepa. Bem realizado, dirigido, fotografado - Rudolph Iczey, história interessante e engraçada, ótimo elenco. No filme, Mazzaropi e Geny Prado e mais os três filhos e um agregado estão à procura de emprego. Enganados por um falsário, eles têm muito do pouco dinheiro surrupiado, e enquanto perambulam atrás de trabalho param em um rio para pesca e banho das mulheres. Atacados por alguns cangaceiros que tinham acabado de saquear uma vila, Mazza e o filhos botam eles para correr, vestem as roupas que eles deixaram para trás, e a partir daí são confundidos por todos com os quais cruzam como os temidos arruaceiros. Até que topam com o bando legítimo e Mazza resolve fingir que é cangaceiro de verdade, para depois entregá-los para a volante. Esse plano ousado e maluco terá consequências inesperadas. Mazzaropi está inspirado em cena, canta, dança, ri, chora e tem diálogos engraçados, contando, mais uma vez, com a parceira perfeita em talento e estilo, Geny Prado. Ele como Bernardino Jabá e ela como Marcolina Jabá. Tem também Emiliano Queiróz, Zilda Cardoso e Francisco Di Franco entre os atores conhecidos. No melhor estilo das paródias que as chanchadas cariocas faziam de muitos filmes Hollywoodianos, Mazzaropi também resolveu fazer sua leitura para o gênero cangaço, muito popular desde a década anterior, e que tem com marco principal o clássico O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto. E acertou em cheio. Quando na primeira cena ouve-se o comentário de que cangaceiro tem que saber dançar xaxado, a gente já sabe o que pode eperar pela frente. E o que vem é bom demais. O Lamparina foi o primeiro filme rodado na sua fazenda em Taubaté e onde ele construiria seu estúdio, geografia de um dos mais iluminados capítulos do cinema popular brasileiro.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

sexta-feira, 21 de maio de 2010

filmes brasileiros em 2010 (122)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

122 - Leila Diniz (1987), de Luiz Carlos Lacerda ****

Não deve ter sido muito fácil para Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, ter realizado esse Leila Diniz - e a presença do psicanalista Eduardo Mascarenhas, com quem o diretor e roteirista fez terapia durante anos, na assistência direção deve querer dizer muito sobre isso. Como se sabe, Bigode era muito amigo de Leila, e ela foi a protagonista de seu primeiro longa, Mãos Vazias (1971), uma adaptação de Lúcio Cardoso. E foi como convidada para um Festival na Austrália por esse filme, que ela morreu em uma explosão de avião em viagem antecipada de volta ao Brasil em 1972. Mas por mais que ele e o país inteiro ficaram chocados e choraram a morte de um de seus maiores mitos, Bigode conseguiu trazer para as telas toda a exuberância da atriz. Para isso, contou com a presença fulgurante e de entrega absoluta de Louise Cardoso, em um de seus melhores momento nas telas - outra presença espetacular já mostrara um ano antes em Baixo Gávea (1986), biscoito fino da lavra de Haroldo Marinho Barbosa. Curiosamente, Bigode conta em sua biografia na Coleção Aplauso que a primeira escolha foi a atriz Tássia Camargo, mas que depois de contrato assinado ela não pode fazer pois ficou grávida. Ele a tinha visto no documentário de Ana Maria Magalhães, Já Que Ninguém Me Tira Para Dançar (1987), sobre Leila, em que também estava Louise. Tássia, ótima atriz, provavelmente teria feito um belo trabalho, mas deve ter sido obra dos deuses para oferecer à Louise um de seus personagens mais exuberantes - vários prêmios de Melhor Atriz, Festival de Brasília, Natal, APCA. Leila Diniz focaliza a trajetória da musa desde o nascimento em lar comunista como filha do militante Tony Ramos e sua esposa Marieta Severo, e a relação com Stênio Garcia como partidário amigo da família e de Leila até o fim da vida, até o acidente fatal. Desbocada e liberada, era também romântica e adorava crianças. Política até a raiz do cabelo, pois abalava o coreto em época de ditadura militar por sua postura libertária, mas sem jamais empunhar qualquer bandeira partidária - gostava de dizer que a bandeira amada era a do Salgueiro. Estrela da TV em novela comportada de Glória Magadan, e musa de Nelson Pereira dos Santos em filmes nada comportados em Paraty - Fome de Amor (1968) e Azzylo Muito Louco (1969/71). O filme mostra também sua relação aberta com o sexo e os namoros/casamentos com Carlos Alberto Ricelli como Domingos de Oliveira, Rômulo Arantes como Toquinho, e Antonio Fagundes como Ruy Guerra. Tem ainda a recriação de sua bombástica entrevista para o Pasquim, do trabalho na novela O Sheik de Agadir (1966/67), de Glória Magadan, da exibição do barrigão grávida na praia, da surpreendente relação com Flávio Cavalcante. Na primeira parte, Leila Diniz tem história contada de forma muito fragmentada, afinal são muitos acontecimentos na vida dessa deusa que viveu apenas 27 anos, o que compromete um pouco o filme. Mas depois fica mais calmo na forma de contar sua história e seduz completamente quem está do lado de cá. Leila Diniz é um filme de transição na carreira de Bigode, que conta na Aplauso que antes dele fazia filmes baixo-astral, e que depois dele abraçou o cinema popular - é auto-crítica desmedida, pois dirigiu antes o belo e interessante O Princípio do Prazer (1979). Mas independente de auto-críticas severas, o fato é que com Leila Diniz Bigode fez um filme realmente solar, como solar foi essa mulher que mudou o comportamento de um país, que iria amá-la para sempre e reservar-lhe um lugar especial na sua história e no imaginário brasileiro.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quinta-feira, 20 de maio de 2010

longas brasileiros em 2010 (121)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

121 - O Aleijadinho, Paixão, Glória e Suplício (2000), de Geraldo Santos Pereira +

Durante os primeiros sete minutos de projeção ouvimos, em voz cavernosa, todo o contexto histórico envolvendo o surgimento da Vila Rica no século XVIII, rebatizada de Ouro Preto após a indenpendência. E é lá que vai nascer o mais importante artista do Barroco mineiro e do Rococó, o escultor Antonio Francisco Lisboa - o Aleijadinho. De cara a gente pode ver por qual caminho esse filme vai trilhar, e esse é com certeza um dos piores modelos de focalizar trajetórias em cinebiografias. O cinema é mesmo importante no sentido de jogar luz sobre homens e mulheres que habitaram e habitam esse planeta em suas mais diversas áreas. Mas cinema não é aula de história, e quando se faz disso e se esquece de que é cinema, vem lá ditatismo irrecuperável que nocauteia o mais interessante personagem como também quem está do lado de cá. Esse Aleijadinho focaliza a trajetória do artista desde o nascimento como mulato filho de português e escrava alforriada até a morte entrevado na cama aos 84 anos, depois de contrair doença misteriosa aos 46 e que atrofiou mãos, braços, pernas e pés e o desfigurou. No entrecho, focaliza sua juventude e o casamento com a bela Helena, os primeiros trabalhos, o relacionamento com o inconfidente Cláudio Manoel da Costa e os acontecimentos da Inconfidência Mineira, a consagração com obras espetaculares como as da Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, e dos Profetas em Congonhas do Campo, e o martírio final. O filme é todo construído em flashbacks, pois o relato se dá pela sua enteada e parteira a um historiador e profundo admirador da obra do mestre. A GRANDE Ruth de Souza é quem faz esse relato, e é quase a única que se salva no elenco. Quando a cantora Maria Rita surgiu todo mundo arregalou os olhos pela semelhança entre sua voz e a de sua mãe, Elis Regina. E vendo Maurício Gonçalves fazendo o Aleijadinho por muitas vezes a gente pensa que está escutando o pai, Milton Gonçalves - outra semelhança impressionante na área é a entre Tarcísio Meira e seu filho Tarcísio Filho. Maurício Gonçalves, ainda que tenha sido premiado no Festival de Recife, tem interpretação burocrática. Ou, melhor dizendo, em perfeita sintonia com a grandiloquencia da direção. Não há muita sutileza em sua composição, como também não há na bela e boa atriz Maria Ceiça, que parece mais preocupada com o sotaque mineiro da personagem. Edwin Luisi, o pai português, também se esforça, mas não consegue fugir muito do tom da direção. O Aleijadinho é um personagem fascinante e com história que conjuga genialidade e tragédia. Isso pode ser uma perdição para feitura de melodramas pouco inspirados, armadilha que, infelizmente, o cineasta Geraldo Santos Pereira, do belo O Seminarista (1976), não conseguiu se desvencilhar. Produzir filme em Belo Horizonte nunca foi fácil, como não é fácil ainda hoje para muitas tentativas de pólos além do eixo Rio-São Paulo. E por isso as iniciativas do mineiro Geraldo Santos Pereira - e também do seu irmão gêmeo Renato, que faleceu e para quem o filme é dedicado - têm seu valor. Mas é forçoso dizer que ainda assim nem sempre empenho de iniciativas resultam em bom cinema. Como é o caso desse O Aleijadinho, Paixão, Glória e Suplício.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (57)


Maria Helena Dias.





Salve Salve!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

longas brasileiros em 2010 (120)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

120 - O Sexomaníaco (1976), de Carlos Imperial +

Ir ao teatro é maravilhoso, mas quando a peça é ruim a experiência pode ser das mais angustiantes. Isso porque, ao contrário do cinema, não é muito educado abandonar o espetáculo no meio e nem usar o assento para uma boa cochilada, afinal uma saída intempestiva, e mesmo uma de fininho, pode chamar atenção desmedida e desconcentrar o elenco, e uma boa dormida pode resultar em roncos desconcertantes. Quando é cinema, podemos fazer tudo isso, mas se persistimos, a angústia pode ser que nem. Sobretudo quando é daquelas pornochanchadas grosseiras que buscam o engraçado a qualquer custo e com sutileza de elefante, mas que não tem graça alguma. Isso porque pornochanchada boa é ótimo, mas quando é ruim pode ser o fim da picada. O Sexomaníaco, produzido, dirigido, roteirizado e intepretado por Carlos Imperial - que também assina o argumento e o cenário - cabe como uma luva como exemplo para esse desvario. O pançudo e cabeludo Imperial tem até um certo charme em cena - além, claro, de sua importância na música e na cultura de massa. Como sempre foi efusivo e um tanto espalhafatoso - Dez, nota Dez! - essas características não se ausentariam de sua perfomance por trás das câmeras e ainda mais produzindo seus próprios filmes. Esse Sexoamaníaco é anunciado como inspirado em fatos reais. O fato? um maníaco que foge do hospício e que adora prender os maridos no armário enquanto papa as esposas. No filme, Imperial é Severino Barba de Bode, contraventor que usou e abusou de Ana Maria Kresleir, a socialaite Norminha, e agora baba por Sandra Escobar. Enquanto acompanhamos os assédios cada vez mais próximos do marmanjo, as aparências podem nos enganar mais uma vez. O Sexomaníaco não apresenta um momento memorável sequer, e a má direção de ator salta aos olhos, bastando como exemplo a sofrível interpretação da sempre interessante Ana Maria Kreisler. Na década de 1980, Imperial dirigiu As Delícias do Sexo e tirou a roupa de seu batalhão de mulheres cena atrás de cena. Como aqui ainda estávamos nos anos 70, a nudez é pudica e quase inexistente. Ou seja, não há lugar para a nudez desenfrada que os patrulheiros colonizados adoram apontar em equação de cinema brasileiro igual a palavrão e mulher pelada. Na trilha sonora de Zé Rodrix, espaço para um dos maiores sucessos do compositor e cantor, Soy Latino Americano - co-autoria de Livi - , esse sim um hit maroto da década de 70.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (124)


Hedy Lamarr.




Nu!!!

terça-feira, 18 de maio de 2010

longas brasileiros em 2010 (119)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

119 - O Filho Adotivo (1984), de Deni Cavalcanti **1/2

Filme sertanejo é um filão do cinema popular que levou para as telas nomes importantes do gênero como Tonico e Tinoco, Milionário e Zé Rico, Nhá Barbina, Almir Rogério, e, recentemente, Daniel. E um dos destaques dessa seara é com certeza o cantor, compositor e ator Sérgio Reis. Grande sucesso com O Menino da Porteira (1977), de Jeremias Moreira Filho - filme que teve refilmagem em 2009 com o mesmo diretor e o cantor Daniel, Sérgio Reis protagonizou trilogia que vai da década de 1970 até os anos 80. Mágoa de Boiadeiro (1978), também de Jeremias Moreira Filho, e esse O Filho Adotivo, de Deni Cavalcanti, são os outros títulos. Aqui ele volta a encarnar Diogo, peão que percorre o país com suas comitivas e sempre com o violão ao lado para cantigas ao anoitecer. O filme tem um fiapo de trama, com um jovem peão de rodeio de nome Dioguinho, que compra as terras vizinhas do Coronel Jatobá, fato que deixa o manda-chuva indignado, pois queria adquirir a fazenda. Daí, para expulsar o incômodo forasteiro, aproveita que ele está viajando e manda seus jagunços mudarem a cerca de lugar isolando o rio onde o gado do rapaz teria que beber água. Para complicar, sua filha Marina -Tássia Camargo - se apaixona pelo moço, que tem em Sérgio Reis parceiro que o ajudará a enfrentar o temível coronel. O Filho Adotivo se vale muito mais de seu clima narrativo do que propriamente de sua história, pois o grande embate se revela frouxo e de resolução rápida e simplificada. Há, de ponta a ponta, um tom de quase ingenuidade, seja na configuração dos personagens e mesmo nesse fio de história. E isso, que poderia ser fatal - e de certa forma foi, pois o filme foi fracasso de público no lançamento - acaba sendo um charme involuntário. Como quase nada de real impacto acontece, acaba sobrando tempo para um tempo sem pressa e anos-luz distante de estética modernosa - só desaba mesmo no final apressado. Um dos destaques é a presença do cantor, compositor e humorista Zé Coqueiro, fiel escudeiro de Sérgio Reis no filme e que faz bela composição de seu personagem. Já a surpesa inusitada é a presença de Norma Bengell, em participação creditada como carinhosa, como a mulher à beira da morte que selará o destino dos inimigos. Sérgio Reis é sempre Sérgio Reis, e aqui não vai nenhum demérito nisso, pois é mesmo artista de fundamental importância no universo popular. Nesse O Filho Adotivo, que produziu junto com o diretor Deni Cavalcanti, canta um de seus maiores sucessos, Panela Velha, inclusive com a participação de Caçulinha, que assina a música e em fase pré-chatice-Faustão. O filme tem ainda presenças no elenco de Francisco Di Franco e Solange Teodoro, além de argumento e roteiro de Benedito Ruy Barbosa, novelista que vai reservar papéis importantes para Sérgio Reis na TV - Pantanal(1990) e O Rei do Gado (1996/97).

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

segunda-feira, 17 de maio de 2010

clara sheller e algumas inferências


Adoro Clara Sheller.

Esse seriado francês que me emociona muitas vezes em que o assisto.

Ali, discute-se várias coisas interessantes em meio em que há espaço para a hetero, a homo e a bissexualidade.

Adoro ser gay, e caso fosse questão só de escolha, jamais escolheria ser hetero.

Como boa parte dos gays adoro a noite, e um dos meus programas favoritos é sair sozinho.

Vale também a companhia de um ou de dois amigos queridos. Mas nunca em turma.

Mas depois de sete anos e meio de casado, a noite gay anda me assustando.

E percebo que não é privilégio da cena gay. Pois percebi isso na minha volta à faculdade para a segunda graduação, no ambiente de trabalho, e também percebo em muito no que leio na internet.

Sou nascido na década de 60. Portanto, sou fruto dela, já que meus pais eram os jovens e os adultos dessa época.

Vejo que os que nasceram na década de 80 ou em meados dos 70, portanto filhos delas, pois são frutos de seus pais, os jovens e adultos dessa época, têm mesmo outros valores.

Quase sempre, a questão de valores parece recurso de literatura. Mas hoje, aos 46 anos para os 47, vejo claramente a diferença entre as gerações de 60 e 70, e as de 80 para a frente.

E a mudança de valores entre elas. Não só dos que nasceram nelas, mas também dos que sucumbiram à elas.

Ou seja, as que participei e que participo in loco.

Parece que a queda do muro de Berlim no final dos anos 80, marco simbólico de liberdade para muitos, mas também do fim das utopias para outros tantos, quis dizer muito mais que leituras apressadas.

O estrago foi mais fundo.

Não sou de ter desejo por garotos, mas vivo cruzando e sendo cruzados por eles. Foi assim na faculdade e tem sido assim na noite.

E eles têm me assustado continuamente.

Nos 80 a cultura yuppie foi endeusada e depois execrada.

Mas o estrago foi mais fundo do que se imaginou.

Cuidado com o outro, respeito pelo outro e sentido de coletividade deram lugar ao imediatismo, ao descartável, ao prazer-consumo.

Fosse vivo, Pier Paolo Pasolini veria alarmado que Saló parece brincadeira de criança diante do que está posto.

Deve ser por isso que choro tanto assistindo Clara Sheller.

Há ali muito do que queremos ser, do que pensamos ser, e do que somos.

Mesmo que falado em francês e em cultura tão diversa.

domingo, 16 de maio de 2010

longas brasileiros em 2010 (118)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

118 - A Noiva da Noite - Desejo de 7 Homens (1974), de Lenita Perroy ***1/2

Obs.: não consegui imagem do filme. Na foto, Rossana Ghessa.

É impressionante que até a década de 1960 sejam apenas seis diretoras de longas no Brasil, mesmo assim sendo duas italianas, Carla Civelli e Maria Basaglia - Carmen Santos e Gilda de Abreu também não nasceram no país, mas vieram para cá nos primeiros anos; Carmen em Portugal, e Gilda na França, quando seus pais viajavam em férias. Só a partir da década de 70 é que esse panorama começa a mudar, e hoje somamos cerca de quase uma centena de cineastas. Uma das pioneiras dessa virada é exatamente Lenita Perroy, que dirigiu Mestiça, A Escrava Indomável (1973) com Sônia Braga, e esse A Noiva da Noite, com Rossana Ghessa. Uma das maiores polêmicas é a discussão se existe ou não um olhar feminino no cinema, e isso já rendeu ânimos acalorados, fóruns de debates, seminários, e até mesmo mostras e festivais - e sempre é questão abordada no site Mulheres do Cinema Brasileiro. As opiniões sobre o tema são diversas e, muitas vezes, contraditórias. Mas se há um pensamento possível é que se existe olhar feminino ele não é exclusividade da mulher, e o mesmo pode ser dito sobre o olhar masculino. A Noiva da Noite - Desejo de 7 Homens é um faroeste com um viril Francisco Di Franco voltando a uma cidade onde descobriu diamantes, o que causou a cobiça e a apropriação da mina pelo coronel Joffre Soares, a sua prisão e a morte de seu irmão. Disposto a vingança depois de conseguir liberdade condicional de uma pena de dez anos, ele chega ao vilarejo no dia do casamento de Rossana Ghessa, filha do seu inimigo, a sequestra, e a partir daí é perseguido pelo noivo e pelos mesmos campangas do crime de outrora. O filme tem produção, montagem e co-roteiro de Sylvio Renoldi, argumento e co-roteiro de Oswaldo Oliveira, e direção, cenário, figurinos e co-roteiro de Lenita. É, em princípio, um filme de machos, e a ambiência rude e hostil, as bebedeiras, as porradas e as mortes que pontuam a trama de ponta a ponta não nos deixa esquecer disso. Ainda assim, há algumas sutilezas que poderiam dar margem às especulações sobre o tal olhar feminino, como na nudez discreta de Rossana, nos sonhos telúricos de amor entre ela e Di Franco, na concepção cênica do final do casal, e mesmo na estruturação da personagem da protagonista feminina. Agora, independente dessas possíveis leituras, A Noiva da Noite é faroeste de ação e aventura que prende atenção e demonstra segurança da diretora. É um tipico papel para Francisco Di Franco, ator importante do cinema brasileiro e eterno Jerônimo, o Herói do Sertão da TV. Fato curioso é que Di Franco já é Di Franco na primeira parte do filme quando Ghessa é apenas uma garota. Anos depois, quando se reencontram, ele continua o mesmo Di Franco e ela um mulherão, ainda que na vida real os dois tivessem apenas cinco anos de diferença.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (56)


Miriam Pires.




Salve Salve.