sábado, 5 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (131)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

131 - Anuska - Manequim e Mulher (1968), de Francisco Ramalho Jr **1/2

Se já no início da TV, Carlos Alberto e Tarcísio Meira disputavam o posto número 1 de galã, posteriormente a disputa ficou entre Tarcísio Meira, Francisco Cuoco e Cláudio Marzo. Desses três últimos, se Meira e Marzo desenvolveram carreira extensa e importante no cinema, o mesmo não aconteceu com Cuoco - ele só seria realmente descoberto pelo cinema na década de 1990. Daí todo o destaque para a sua beleza viril aos 35 anos nesse Anuska - Manequim e Mulher. Primeiro longa de Francisco Ramalho Jr, cineasta e produtor importantíssimo do cinema nacional, o filme conta a história de Bernardo -Francisco Cuoco, um jornalista que sonha em publicar um livro de contos. Idealista, ele prefere viver na pindaíba a trabalhar e ganhar dinheiro farto na publicidade, até que cai de amores por Anuska -Marília Branco, moça pra frentex, mais ainda virgem, que sonha em ser a manequim mais importante do pedaço. Anuska adora o mundo fervilhante da moda, vibra em ser capa da revista Cláudia, e tem seus projetos futuros de glamour bancados pelo produtor Sábato -Ivan Mesquita, que está de olho nas partes baixas da moça. Também apaixonada por Bernardo, Anuska larga a boa vida oferecida por Sábato, mas as diferenças abissais de temperamento entre os dois vão perturbar e minar o idílio amoroso dos amantes. Anuska - Manequim e Mulher se situa no mundo da moda, coqueluxe dos anos 60 em que reinava o estilista Dener Pamplona de Abreu, dividindo a cena depois com Clodovil Hernandes, muito antes do universo milionário das top models de hoje. Esse universo invadia o cinema em Anuska, e daí quem faz carão para as lentes é a bela modelo Bibi Vogel - que também canta canção do filme - e que faria importante história como atriz na TV e em filmes de Luis Sérgio Person, Ozualdo Candeias, entre outros. Marília Branco, que depois desenvolve carreira no cinema italiano, faz bem a Anuska cintilante mas não consegue segurar muito bem as pontas nas cenas dramáticas. Já Francisco Cuoco, que é um dos produtores associados do filme, está muito bem, e daí a gente fica pensando qual o porquê dos cineastas brasileiros não o terem escalado para outros filmes, já que esse é o único longa dele antes de voltas às telas apenas na década de 90 pelas mãos da Conspiração Filmes, em Traição (1999) - episódio Diabólica, de Cláudio Torres, e em Gêmeas (1999), de Andrucha Waddington. O filme tem ainda aparição meteórica, mas sempre sensacional, da GRANDE Ruthinéa de Moraes como uma prostituta. Baseado no conto Ascensão ao Mundo de Anuska, do livro Depois do Sol, e em mais dois contos não publicados de Ignácio de Loyola Brandão - que assina os diálogos do filme; o roteiro é de Ramalho - Anuska - Manequim e Mulher recebeu o Prêmio Governador do Estado de São Paulo em 1968 de Melhor Composição para Rogério Duprat.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (59)


Yolanda Cardoso.




Salve Salve

sexta-feira, 4 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (130)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

130 - O Judeu (1987/96), de Jom Tob Azulay ****

Como quase toda religião, o catolicismo tem áreas de luz e porões da mais profunda treva. Mas como historicamente é a de maior poder, as ações em cada um desses cômodos tanto podem nos fazer transcender como também arrepiar de medo do cóccix até o pescoço - e daí a gente até se arrepende das vestimentas de anjo nas coroações da infância. Como recentemente nos escândalos globais de pedofilia, ou recuando algumas décadas na intransigência contra o uso da camisinha mesmo com a explosão de morte pela Aids varrendo continentes. E o medo vira pavor quando botamos o olho no período assassino da Inquisição, momento histórico tenebroso abordado por esse belo O Judeu, de Jom Tob Azulay. Produção acidentadíssima que começou em 1987 mas só foi concuída em 1996, o filme viu, ainda em curso, morrer seu protagonista Felipe Pinheiro em 1993, e a mãe dele na trama, a GRANDE Dina Sfat em 1989 - além de outros cinco atores conforme registro no Dicionário de Filmes Brasileiros, de Antônio Leão. Ainda vemos no filme dois atores com personagens importantes e que também nos deixariam depois: José Lewgoy e Fábio Junqueira. O filme é sobre o poeta e dramaturgo Antonio José da Silva (1704 - 1736), conhecido como Judeu. Nascido no Rio de Janeiro, como tantas outras famílias de cristãos novos - judeus convertidos ao catolicismo - a sua também foi levada para Lisboa, onde tantas foram julgadas e mortas pela Inquisição. O filme começa com Antonio José ainda criança e sua descoberta do que é ser cristão novo até o enfrentamento com o Santo Ofício, que encarcera e tortura sua família - mãe - Dina Sfat, prima - Fernanda Torres, mulher - Cristina Aché. Felipe Pinheiro, como quase todo cristão novo, já tinha passado pelas torturas da Inquisição, mas é quando Fábio Junqueira denuncia Fernanda Torres, e quando José Lewgoy, o terrível inquisidor-mor do Santo Ofício, resolve disputar força com a monarquia de Portugal, é que o destino do Judeu e de sua família é selado. José Lewgoy ganhou prêmio de Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Brasília em 1995 - também ganhou Melhor Filme e Melhor Direção de Arte para Adrian Cooper - e foi mais que merecido. Sua composição de Dom Nuno da Cunha mete medo na gente sem fazer muito esforço. Revelando sua face tenebrosa sempre nas entrelinhas do que fala, seus embates com José Neto, um Dom Marcos em permanente conflito de consciência no julgamento arbitrário de Antonio José e de sua família, trazem à tona todo o poder tenebroso da Igreja Católica e o esforço sem limites para mantê-lo. O carioca Jom Tob Azulay, que vinha dos musicais Os Doces Bárbaros (1977) e Corações a Mil (1983), fez em O Judeu um filme de registro completamente diverso e um grande momento no cinema nacional. A ficha técnica é um luxo só - Cláudio Kahns - co-produção; Geraldo Carneiro, Millôr Fernandes e Givan Pereira - roteiro; Adrian Cooper - direção de arte; Ruy Guerra - supervisão final.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quinta-feira, 3 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (129)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

129 - Ascensão e Queda de um Paquera (1970), de Victor di Mello ***

Ascensão e Queda de um Paquera reúne dois marmanjos na arte, ou na picaretagem, do galanteio: Mário Benvenutti e Cláudio Cavalcanti. O primeiro se casou e deixou as farras para trás, já o segundo só está começando nesse universo. Como Benvenutti é amigo do pai de Cavalcanti, ele se encarrega espontaneamente em tomar conta do rapaz que acabou de chegar no Rio de Janeiro, que por sua vez fará o velhaco voltar à tona e arrumará muita confusão para ambos. Principalmente nas relações com a empregada doméstica Valentina Godoy, apaixonada pelo patrão, e a aspirante à atriz Dilma Lóes, por quem o rapaz vai babar de paixão. Segundo filme de Victor di Mello, um dos diretores mais talentosos de comédias eróticas e erroneamente tascadas de pornochanchadas, Ascensão e Queda de um Paquera tem a assinatura inconfundível do diretor. Sim, pois há nos filmes de di Mello um tom delicioso de picardia e uma certa ingenuidade libertária, traços que ficarão mais evidentes ainda no cult Essa Gostosa Brincadeira a Dois, que o cineasta realizaria em 1974. Muito da graça do filme, que é baseado em texto de Paulo Silvino e tem roteiro de di Mello e Alexandre Pires, vem do elenco. Que bom ator é Claudio Cavalcanti! Inacreditavelmente afastado do cinema, Cavalcanti faz o seu Lobo com verve e entrega juvenil deliciosa. E tem como parceiro Mário Benvenutti, ator notável que pode ser denso como nos filmes de Walter Hugo Khouri, ou divertido como nesse ginecologista Dr. François. O elenco feminino também é bacana, com Valentina Godoy como a empregada Doralina, e Dilma Lóes linda linda linda como a atriz Cláudia - Dilma foi casada com Di Mello na época e estrelou vários de seus filmes, entre eles o citado Essa Gostosa Brincadeira a Dois. Victor di Mello é mais um entre tantos cineastas brasileiros que precisam ser mais reconhecidos e aplaudidos. Dono de comprovado talento, seus filmes são retratos ternos de uma juventude de uma época em quase tudo diferente da de hoje, conservadora e individualista. Mostrou talento também quando apimentou seu cinema no cult Giselle (1980) e quando visitou o cinema policial em O Sequestro (1981), só naufragando mesmo quando se levou a sério demais e fez o equivocado Solidão, Uma História de Amor (1989), seu último filme até agora. Aliás, como pode se ver, Ascensão e Queda de um Paquera é mais um da série Como Eram Belos os Nossos Cartazes!

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quarta-feira, 2 de junho de 2010

segunda-feira, 31 de maio de 2010

longas brasileiros em 2010 (128)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

128 - Paixão na Praia (1972), de Alfredo Sternheim ***

O cineasta Alfredo Sternheim tem uma carreira extensa e interessante. E se há uma marca perceptível em seus filmes - ele também é roteirista - é o encontro amoroso entre personagens aparentemente improváveis. Foi assim com o professor e a aluna em Anjo Loiro (1973), com a freira e o nativo em Pureza Proibida (1974), com uma cortesã e um jovem ambicioso em Lucíola, O Anjo Pecador (1975), com uma atriz e um desajustado em Mulher Desejada (1978), com uma atriz e um foragido em Violência na Carne (1980). E foi assim com esse Paixão na Praia, seu primeiro longa, e uma espécie de matriz para esses outros, ainda que cada um com diferenças substanciosas entre si. Sternheim vinha de trabalhos de assistência de direção em filmes do GRANDE Walter Hugo Khouri, além de vários documentários em curta-metragem. E muito do clima sofisticado da direção de Khouri se vê também no cinema de Sternheim, cujo ponto máximo de referência parece estar no belo A Herança dos Devassos (1979). Em Paixão na Praia, Norma Bengell é uma dondoca em crise no casamento com um empresário corrupto. Os dois tiram uns dias para acertarem as pontas, mas um assalto na empresa faz o marido sair de casa, oportunidade para dois bandidos, Adriano Reys e Ewerton de Castro, invadirem a residência e fazer Norma de prisioneira. Começa aí um romance entre Reys e Bengell, para profundo desagrado do esquentado Ewerton, que espera na casa a terceira comparsa do crime, Lola Brah. Paixão na Praia foi produzido pelos míticos Alfredo Palácios e Antônio Pólo Galante e filmado em 18 dias e com 18 latas de negativo - ou seja, produção apertadíssima. Em seu depoimento para o Dicionário de Filmes Brasileiros, de Antonio Leão, Alfredo destaca a ousadia da produção, já que o bando tem aparentemente ideais políticos para o golpe, isso em plena ditadura militar - o personagem de Ewerton de Castro tem fala reveladora em cena ápice: "eu só queria um mundo melhor". Já na sua biografia na Aplauso, Sternheim conta que escreveu o papel de Débora para Eva Wilma, mas como ela não pôde ou não quis fazer a produção cogitou Maysa e por fim a personagem ficou com Norma Bengell. Conta também que Bengell deu trabalho nos bastidores, principalmente por uma ereção desavisada em cena de Adriano Reys, seu par romântico no filme. As mulheres são sempre muito fortes nos filmes de Sternheim e em Paixão na Praia não é diferente, com a personagem Débora mudando seu destino depois do encontro inesperado. Paixão na Praia não tem a força de alguns filmes do cineasta, mas é uma elegante estreia.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (126)


Gloria Swanson.




Nu!!!

domingo, 30 de maio de 2010

longas brasileiros em 2010 (127)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

127 - Cerro do Jarau (2005), de Beto Souza *

Ok, cinema tem muito mais a ver com a forma de contar do que a história propriamente dita - e isso já foi dito por aqui mais de uma vez. Mas tem hora que, em certos filmes, os cineastas ficam mais que perdidos entre uma coisa e outra. Como nesse Cerro do Jarau. Dirigido pelo gaúcho Beto Souza, de Netto Pede sua Alma (2001 - co-direção Tabajara Ruas), o filme fala de três amigos de infância que se reencontram na fase adulta em situação bem diferente das brincadeiras de menino no Cerro do Jarau, lugar místico no sul do Brasil onde se encontravam nas férias de inverno. Tarcísio Filho e Lu Adams se casaram e tornaram-se donos de um clube noturno, já Tiago Real tornou-se padre. Quando o contraventor Miguel Ramos enrola para pagar pela compra do clube e uma série de acontecimentos leva Lu a querer tirar o dinheiro na marra, inicia-se uma perseguição perigosa, colocando os três personagens em situação de perigo e em risco de morte. Pela sinopse poderia sair daí um filme de entrecho policial desses tantos que há por aí, e quando a direção não está tão preocupada em como contar essa história ele fica nesse registro e é onde se sai melhor. Mas como um possível lado autor reclama seu quinhão, dá-lhe então um busca por um suposta originalidade, que aqui vai na inclusão de uma confusa e misteriosa lenda local na trama. É bem possível que a tal lenda sirva mesmo de metáfora para o que está sendo mostrado, pois como a lenda de Teiniaguá cerca um misteriosa e temida gruta no local e a personagem de Lu Adams desafia os amigos e entra lá sozinha quando criança, a metáfora pode estar aí, no que aconteceu com ela durante esse episódio e que vai desencadear o destino de todos muitos anos depois. Mas se essa solução pode ter funcionado maravilhosamente bem no roteiro escrito a oito mãos - Beto Souza, Tabajara Ruas, Fernando Marés e Geraldo Borowski - isso ficou só no material impresso. Pois no filme, além de confundir e emperrar o andar da carruagem, não se torna sedutor em momento algum. E ainda tem mais uns outros tantos personagens mal delineados, como o do quarto amigo - Roberto Beridelli, e o de uma cantora punk - Júlia Barth. Miguel Ramos como o vilão Correntino e Lu Adams como Rebeca se saem melhor - ele recebeu prêmios de Melhor Ator Coadjuvante em Gramado no Cine PE; já ela perdeu o de Melhor Atriz no Cine PE para Julia Barth. Outro fator agravante é a presença da narração de um dos personagens, recurso dos mais perigosos no cinema - os filmes noir foram os que melhor usaram isso - e que, definitivamente, não é para qualquer um.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo