sábado, 15 de janeiro de 2011

longas brasileiros em 2011 (008)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2011 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
(em 2010 - 289 filmes)

008 - Finis Hominis (1970/71), de José Mojica Marins ***

Um homem sai nu do mar e cruza uma cidade livremente, ainda que assuste quem encontra no caminho. Nessa trajetória faz uma velha entrevada (será mesmo?) na cadeira de todas andar, salva uma criança e sua mãe de um estupro, faz um bêbado achar que sua visão é mais um efeito do mé, e casais apaixonados sairem correndo em disparada. Até que se veste como um tuareg de vermelho dos pés à cabeça, sai novamente pelas ruas, onde salva um cataléptico - Lázaro - de ser enterrado vivo e uma esposa adúltera - Madalena - de ser morta. Além disso, é idolatrado por um bando de hippies - vendilhões do templo -, que abandona rapidinho o slogan de paz & amor para se engalfinhar por dinheiro. Todas essas façanhas o torna um espécie de Messias, com direito a seguidores e sermões na TV. Só que as coisas podem não ser o que parecem. Esse personagem chamado de Finis Hominis é o próprio José Mojica Marins, aqui em sentido oposto ao seu Zé do Caixão, já que semeia a paz e a bem-aventurança como armas para revelar a hiprocrisia social. Só que há em tudo isso uma fina ironia no talentoso roteiro do habitual parceiro Rubens F. Lucchetti, já que o Finis Hominis de Marins se assemelha ao próprio Cristo, que em sua peregrinação pelo asfalto encontra os personagens bíblicos de Roque Rodrigues - Lázaro, e Tereza Sodré - Madalena, os comerciantes do templo - hippies -, além de proferir o famoso Sermão da Montanha, aqui assistido pela TV. Por essa chave, tanto o Messias como esses outros personagenss não poderiam ser nada mais nada menos que pessoas comuns dotados de algum distúrbio psiquico - Finis; médico - Lázaro; sexual - Madalena? E a Sagrada Escritura não poderia ser nada mais nada menos que poderoso meio de comunicação como são hoje os veículos de imprensa e entretenimento, sobretudo a televisão? Ousada visão dos mitos bíblicos - que como em Cristo, revela a hipocrisia de seu tempo e súditos -, Finis Hominis se vale de fotografia quente de Giorgio Attíli e Edward Frend para ambientar sequências despudoradas, dentre algumas a melhor delas: a ninfomaníaca Andreia Bryan sendo sodomizada - a única forma que consegue chorar - à beira do caixão de Lázaro, a fim de que possa enganar a platéia do velório com seu falso pranto. No elenco, participação especial do cineasta Carlos Reichenbach como um médico que cuida tanto do coração quanto da disfunção erétil de Lázaro.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (165)


Sissy Spacek.





Nu!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

longas brasileiros em 2011 (007)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2011 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
(em 2010 - 289 filmes)

007 - O Grande Palhaço (1980), de William Cobbett **1/2

A associação entre palhaço e lágrimas é clássica, pois a metáfora "chora quem nos faz rir" dá a medida da ambiguidade trágica do personagem. Essa máxima parece ter seduzido o cineasta do Rio Grande do Norte, William Cobbett, que realizou esse O Grande Palhaço, seu último longa - assinou também a produção e o co-argumento, com Luiz Olimecha, e o co-roteiro, com Mouse Casado. Durante os seus primeiros quinze minutos, o filme mais parece um documentário, pois Cobbett abre espaço para diferentes números circenses e faz deles seu foco - malabarismo, trapezismo, globo da morte, corda, palhaço, triciclos. Só vemos que não é um doc de fato pela presença dos atores Luiz Armando Queiróz, Angelina Muniz e Eduardo Tornaghi protagonizando alguns desses números. Com essa construção, é como se o filme quisesse nos mostrar que ainda que brilhem no picadeiro, cada um daqueles artistas que trabalham continuamente com luzes, cores e magias encerra pequenos ou grandes dramas em suas vidas - e dai o diretor escolheu um deles para contar sua história. Queiróz é o palhaço Carrapicho, a estrela de um grande circo, onde também trabalham Angelina Muniz, sua mulher trapezista, e seu filho. Angelina prepara seu número mais difícil, o salto triplo, mas a façanha acaba em tragédia. A partir daí, Queiróz não consegue mais fazer ninguém rir, abandona a ribalta e começa uma trajetória de solidão e decadência. Premiado no Festival de Tashkent, da então União Soviética, O Grande Palhaço é filme interessante, que ainda que resulte irregular, tem lá seus momentos. No elenco, com boas presenças de Renato Coutinho e Maria Pompeu como os donos do circo, ela também como a cartomante, destaca-se Eduardo Tornaghi como o artista rebelde, mulherengo e um tanto cafajeste, que faz de sua vida nos bastidores quase que uma extensão da corda bamba onde faz suas apresentações - pena que seu personagem não seja mais explorado pelo roteiro. Já Fernando Reski e Tony Ferreira são os apresentadores da companhia e Maria Zilda Bethlem e Betina Viany fazem pequenas pontas como tietes do circo que caem nas mãos de Tornaghi. O Grande Palhaço é um dos filmes prediletos da cineasta Adélia Sampaio, cunhada de Cobbett que trabalhou em todos os seus filmes em diferentes funções técnicas e que aqui fez a direção de produção.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

sobre a dor


Tem quatro dias que não consigo postar nada aqui, pois perdi um amigo barbaramente assassinado.

Ele foi passear lá em Recife, onde estava desde o dia 24 de dezembro, e morreu um dia antes de voltar para BH.

O tempo inteiro a gente lê essas manchetes de sangue no jornal e acha que não tem nada a ver com isso.

Pois, insensivelmente, achamos que nunca vai acontecer no mundinho privado da gente.

Mas aí o inacreditável acontece e a gente fica assim:
- chocado, paralisado, impotente.

Não consigo parar de pensar no quanto ele sofreu, fico com o pensamento fixo nos seus momentos finais, e o choque não cessa.

Muito menos a dor.

Que horror, meu Deus, que horror!

Nunca me esquecerei de você, Juninho, nunca.