sábado, 27 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

longas brasileiros em 2010 (50)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

050 - Entre Mulheres e Espiões (1962), de Carlos Manga ****

Uma das últimas chanchadas de Carlos Manga, dessa vez ele trocou os cantores de rádio - já estávamos nos anos 60 - por uma companhia de ópera do Teatro Municipal. Assim, sai Emilinha Borba e entra em cena a Carmen de Bizet. Esse é o cenário para a entrada de Oscarito, um ator que tem como única função no espetáculo servir de cavalinho para um gorducho Don José - função que, claro, ele vai avacalhar um pouco mais a frente. Mas é nos bastidores que a trama se dá. Contratado pela polícia para fingir que é um agente secreto, já que é um ator, Oscarito terá que descobrir as intenções do espião Dimitri e para isso contará com a ajuda de uma parceira, Marly Bueno, uma agente voluptosa e perigosa. O elenco de Entre Mulheres e Espiões é ótimo, mas é impressionante como o filme se vale mesmo é de Oscarito, um gênio de sua época e da história do cinema brasileiro. Ainda que sentimos falta de um parceiro como Grande Otelo ou Zezé Macedo, ele segura bem a graça do filme ao lado de atores como Rose Rondelli, Paulo Celestino, Modesto de Souza e Vagareza. Entre Mulheres e Espiões é um bela despedida de Carlos Manga do gênero - ele ainda fez As Sete Evas - e que pouco mais de uma década depois mergulharia em registro completamente diverso ao focalizar o universo violento, perturbador e fascinante de O Marginal, um dos mais memoráveis filmes policiais brasileiros. É como se depois de brincar durante anos com serpentina e confete nos salões e no Teatro de Revista, ele estivesse pronto para entrar de corpo e alma no submundo e nos subterrâneos que sempre circundavam aquele mundo cintilante, mas que nunca tinham vindo à tona.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

longas brasileiros em 2010 (49)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

049 - Araguaya - A Conspiração do Silêncio (2003), de Ronaldo Duque *1/2

A ditadura militar e a luta armada são fatos históricos importantes e cruciais para entendermos o país. No entanto, por que, quase sempre, ficamos um tanto constrangidos ao assistir filmes sobre o tema? Será porque aquele ideário coletivo esteja tão distante do atual individualismo reinante? Será porque não nos vemos completamente refletidos naqueles gestos e naqueles discursos repletos de palavras de ordem? Ou será mesmo porque muitos de nossos cineastas ainda não encontraram o tom para falar na ficção desse episódio real tão aterrorizante? É o que se dá com essa Araguaya - Conspiração do Silêncio. A gente vê que é um filme com pretensões sérias, embasado em pesquisas, mas ainda assim a fruição é cindida por termos à frente aqueles personagens que não parecem de carne e osso. Na trama, um padre francês vive em uma comunidade isolada no meio da mata, mas tem suas convicções abaladas com a chegada de jovens guerrilheiros disfarçados em gente que trocou a cidade pelo interior. Se tudo é camuflado, as intenções reais vem à tona quando o exército fecha o cerco e a luta é instaurada. O elenco é monocórdio, a não ser uma altiva e interessante Françoise Forton. E ainda há um Cláudio Jaborandy fazendo o mauzão de almanaque - ok, é claro que sabemos que a maldade e a covardia reinavam, mas há sempre um tom quase caricatural nesses personagens nos filmes com essa temática. Araguaya se vale ainda de depoimentos de quem participou daquele momento histórico, como José Genoíno, talvez para reforçar o embasamento histórico. Mas o efeito não é eficaz não, ainda mais olhando para algumas dessas pessoas com o olhar de hoje.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

serie deusas (108)


Jane Russel.




Nu!!!

longas brasileiros em 2010 (48)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

048 - Noite de São João (2003), de Sérgio Silva ***1/2

Bela produção do sul do país dirigida pelo talentoso cineasta de Anahy de las Missiones, Sérgio Silva, Noite de São João transporta a trama de Senhorita Julia, de August Strindberg, para uma fazenda na Porto Alegre do início do século XX. Um coronel deixa a a casa grande para uma de suas noitadas, mas permite aos seus camponeses os festejos da tradicional noite de São João no galpão da propriedade. Tudo correria como sempre, com os empregados sacolejando na terra vermelha batida em meio à canjica , rapadura e quentão, não fosse a aparição supresa da arrogante Júlia, filha do patrão. Ela chega de nariz em pé, mas depois de um quentão e outro vai abaixando o dito e roçando fundo nas peles fedidas a curtume dos peões. Só que sua preferência mesmo é por João, o capataz, que está de noivado não oficial com a empregada Joana. Julia seduz João na base da ordem de cabestro, mas quanto mais a noite avança a arrogância vai dando lugar a uma fragilidade que não será poupada pelo rapaz. O cineasta Sérgio Silva mantém com rigor as rédeas desse seu segundo longa, que interessa sempre. Há no entanto um erro de escalação e que contamina muito o resultado final. Fernanda Rodrigues é uma boa atriz, mas sua composição para a senhorita Julia está sempre um tom acima ou um tom abaixo do pretendido. Como é a protagonista, o filme ressente de uma entraga mais orgânica, que é o caso de Marcelo Serrado como João, e de Dira Paes como Joana. Serrado é um belo ator e um belo homem, o que convence o deslocamento de 180 graus da moça. Já Dira é macaca velha e ainda que seu personagem seja o menor dos três, ela segura as pontas bem. Noite de São João, assim como Senhorita Julia, flagra esse nova mulher do século, ainda dividida entre uma postura de conquistas e o pé no armarinho. Há um olhar cruel sobre essa personagem que ousa, ainda que aqui subtraída de sutilezas necessárias para que possamos mergulhar sem rede de proteção e sem julgarmos também essa voz incômoda.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

longas brasileiros em 2010 (47)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

047 - A Cartomante (1974), de Marcos Farias *

Para muita gente boa, Machado de Assis, João Guimarães Rosa e Graciliano Ramos formam a trindade supra-sumo da literatura brasileira. E como não poderia deixar de ser, os cineastas cresceram o olho em cima deles. Mas se os dois últimos já renderam ótimos filmes e até obras-primas como, respectivamente, A Hora e Vez de Augusto Matraga (1965 - Roberto Santos) e Vidas Secas (1963 - Nelson Pereira dos Santos), o velho Machado é constantemente maltratado em nossas telas. Como é o caso das adaptações desse seu conto A Cartomante. Se a dos anos 2000 de Wagner de Assis e Pablo Uranga já era complicada, todas as fichas estavam apostadas nessa produção dos anos 70 e dirigida por Marcos Farias. Ledíssimo engano. Ainda que seja louvável escalar três atores veteranos como protagonistas - Ítala Nandi, Ivan Cândido e Maurício do Valle - fica um osso duro de roer ver Ítala fazendo cara de coquete e falando tatibitate em sua interpretação na primeira fase do filme. Sim, porque a trama se passa nos anos 1800 e depois nos 1900, com o trio repetindo os papéis, mas com algumas variações na história. E há mais um constrangimento. Nessa primeira fase, os personagens andam para lá e para cá, mas não não se vê viva alma nas ruas. E a gente fica cafifando daqui se é porque faltou grana para pagar, e vestir à carater, os figurantes. A trama é sobre um triângulo amoroso, sem que o marido saiba que é corneado pelo grande amigo, e com uma cartomante pontuando os desdobramentos dessa escapulida de cerca. A dona gosta de ir à cartomante para ver a sorte, e o amante, cético, também acaba se sentando em frente às cartas e, com isso, selando o seu destino. Muito se fala, nem sempre com justiça, de certas adaptações bolorentas que o pessoal ligado ao Cinema Novo fez, e é mesmo impossível não associar esse A Cartomante ao filão. Decididamente não adianta apenas juntar um escritor de alto estirpe, atores de talento e um diretor considerável para fazer um grande filme. Onde tudo poderia dar certo é aí que dá xabu. O buraco do cinema é mesmo mais em baixo.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

longas brasileiros em 2010 (46)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

046 - Solidão, Uma Linda História de Amor (1989), de Victor di Mello *

Obs.: não consegui foto do filme.

Lançado nos estertores da produção e exibição do cinema brasileiro da época - o fatídico 1989 às vésperas do pesadelo Collorido, Solidão é, até agora, o último filme do veterano cineasta Victor di Mello, diretor de filmes bacanas como Essa Gostosa Brincadeira a Dois (1974), O Sequestro (1981), e o cult Giselle (1980). Só que aqui o resultado desandou e se colocarmos esse careta e pudico Solidão ao lado do atrevido e libertário Giselle, a gente fica imaginando se o cineasta não foi abduzido e voltou de Shangrilá para fazer esse filme. O mote inicial da trama é até bacana com a história de uma mulher incontrolável em sua peregrinação de infidelidades. Desde adolescente, ela levanta a saia para David Cardoso e depois, por mais que se apaixone por diferentes homens, junte os trapos e transe até com o padre, volta sempre para os braços do mancebo. É também protagonista o português que será um de seus amores, um pobre de marré-de-ci em seu país que vem para o Brasil onde faz fortuna com a contravenção. Logo no início do filme ele tem em seus braços Maitê Proença, mas a moça só o seduz sem deixar com que ele a beije. E aí Carlo Mossy lhe avisa que ela é muita areia para seu caminhãozinho, que só com muito dinheiro ele teria uma mulher como aquela. Talvez nostálgico dessa conquista não concretizada, ele vai galgar a ascenção social e encontrará pelo caminho a biscate descrita acima e que será seu grande amor. Infidelidade, jogo do bicho, ciúme e algumas perseguições aliado a pouquíssimas cenas de sexo - pudor inacreditável no cinema de Di Mello - dão sustentação a esse filme em que vemos um verdadeiro quem é quem fazendo pontas: Maitê Proença, Carlo Mossy, Luciana Vendramini, Stênio Garcia, Roberto Bonfim, Luma de Oliveira, Paulo Goulart, Simone Carvalho, Magda Cotrofe, Cléa Simões, Lutero Luiz, Catalano e Vera Gimenez. A presença maciça de astros, além dos protagonistas Marcella Prado e Rogerio Samora (foto) e mais José Wilker - ótimo, Tarcísio Meira, Nuno Leal Maia e Pelé em papéis de destaque comprova a aposta na produção. Pena que os burros deram n´àgua nesse filme que despeja em nossos ouvidos conclusões como "a mulher é um santuário e o homem é um leão que tem que defendê-lo". Vixe!

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (47)


Christiane Torloni.




Salve Salve!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

longas brasileiros em 2010 (45)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

045 - O Magnata (207), de Johnny Araújo *1/2

Quando O Magnata começa a gente fica sem saber se aquela realidade - skate, basquete e gírias em inglês - está nos Estados Unidos ou no Brasil. Mas depois lembramos que já vimos pela janela do ônibus ou do carro e também nas praças aquela fauna urbana. E aí nos lembramos, e deveríamos nos lembrar mais vezes, que o mundo não gira apenas em torno do nosso umbigo. Paulo Vilhena é o magnata do título, um bad boy - olha o inglês aí - que se divide entre a carreira iniciante de roqueiro, a delinquência das ruas e a pegação das meninas que como ele diz no show, "não param de olhar para seu pau". Herdeiro de uma grana preta, mora com a mãe alcoolatra, Maria Luiza Mendonça, chora a morte do pai, e não aceita o candidato canastra a padrasto, Chico Diaz. Certo dia entra numa roubada ao surrupiar uma ferrari com um colega barra pesada, ao mesmo tempo em que conhece uma garota que chegou ao país depois de seis anos em Nova York, a estonteante Rosanne Mulholland. Dirigido pelo estreante Johnny Araújo, O Magnata tem roteiro assinado por Chorão, do Charlie Brown Jr (e mais colaboradores, entre eles Bráulio Mantovani). E é exatamente isso que surpreende, pois no mundo de Chorão os playboys são meninos que se desviaram do caminho, provavelmente pela negligência dos pais. Já a plebe rude, essa, do jeito que é mostrada, o desvio se deu já no DNA. Vilhena não está mau no papel e nem tampouco o resto do elenco, só que a solução encontrada pelo roteiro e pela direção para a sua história nos faz pensar que acabamos de ver mais um daqueles meninos mimados e incompreendidos que botam fogo em índio, mas cuja culpa é do sistema. É muita simplificação para um projeto que, parece, quer fazer um raio x de uma tribo. Ainda bem que de uma ponta a outra do filme brilha Rosanne Mullholand, essa atriz linda, talentosa e completamente cinematográfica.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

longas brasileiros em 2010 (44)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

044 - O Escolhido de Iemanjá (1978), de Jorge Durán **1/2

Ob.: não encontrei imagem do filme.

Cinematográfico por excelência, o candomblé já deu as caras em mais filmes brasileiros que imaginamos. E quase nunca se sabe muito se por sua importãncia como identidade cultural, ou se pelo apelo fílmico dos rituais, transes e adereços. Nesse filme de Durán, uma construtora quer expulsar os moradores de uma favela a qualquer custo para construir um edifício e por isso promove explosões criminosas no morro acima dos casebres. Cansados de tantos acidentes e do descaso das autoridades, os moradores pedem ajuda ao pai de santo da comunidade, que determina que eles busquem um pescador para resolver a situação, já que ele foi o escolhido por Iemanjá para a tarefa. O ponto fraco se dá já nesse início com a aceitação imediata do tal pescador, o Comandante interpretado por Nuno Leal Maia, até então com mais pinta de rufião que engajado - ainda que Iemanjá lhe prometa pescas fartas. Quem lhe recruta pela mão é a bela Maria Rosa, atriz Khouriana, que é também moradora do morro e jornalista na prática. Com roteiro de Jece Valadão e de José Loureiro - Jece também produz, portanto com gente que entende do riscado, o filme se segura, ainda que há uma ingenuidade nas soluções fílmicas e de enredo que quase põe tudo a perder. Mas se ainda assim só houvesse a entrada em cena de José Dumont como o matador de aluguel Tucano, O Escolhido de Iemanjá já seria lembrado com profundo interesse. Com seu tipo mignon e um sorriso perversamente infantil no rosto o tempo inteiro, o Tucano de Dumont inspira medo e dá a dimensão exata do quanto o ser humano pode ser capaz em caminho tortuoso e no gozo com a maldade. Presença arrebatadora.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

serie deusas (107)


Shirley MacLaine.




Nu!!!

longas brasileiros em 2010 (43)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

043 - Se Eu Fosse Você 2 (2008), de Daniel Filho *1/2

Se Eu Fosse Você 2 levou cerca de 6 milhões de espectadores ao cinema, o que significa que tem lá seus méritos. Ok, sabemos que tem muito filme ruim, sobretudo americano, que também abocanha um grande público. Mas também não podemos esquecer que não é sempre que o brasileiro faz o caminho da roça para ver cinema nacional. Ainda que sem perder de vista essa contextualização, é duro se deixar seduzir por esse filme que revela-se calculado do cóccix até o pescoço. Como se sabe, a história é sobre um casal que ao ser vítima de um raio troca novamente de corpo. A partir daí ela, Glória Pires, coça o saco e diz palavrão; e ele, Tony Ramos, faz cara de leitora de Sabrina e desfila com sacolas coloridas pelo shopping. Todo o filme espreme sua trama daí, com o mesmo casal do Se Eu Fosse Você 1, agora às voltas com uma separação e a descoberta da filha adolescente grávida. O primeiro filme ainda tinha um certo frescor, sobretudo pela descoberta, para quem ainda não sabia, de que Tony Ramos é um grande ator que também sabe fazer comédia. Só que nessa bem-sucedida continuação, o gosto de piada esticada faz amargor na boca. Saiu um certo tipo de acaso e entrou a fita métrica, pois já sabemos de antemão que todas aqueles gestos e caras que ela faz em frente ao espelho ou quando acorda serão copiados ipsis litteris por ele. O filme tem alguns momentos engraçados e, claro, Tony Ramos rouba a cena mais uma vez. Ainda assim sobra espaço para Chico Anysio e para o talento de Isabelle Drummond, talvez a única personagem em que acredita-se de carne e osso.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

longas brasileiros em 2010 (42)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

042 - O Padre e a Moça (1966), de Joaquim Pedro de Andrade *****

O ser mineiro, mesmo o da capital, pode até sacolejar nos inferninhos e chafurdar nas facilidades do mundo contemporâneo, mas ainda assim estará, internamente, para sempre marcado pelo cerceamento das montanhas e pelo eco dos cantos sacros na alma. Ainda que carioca, mas com família mineira, Joaquim Pedro parecia estar imbuído desse estado ao fazer seu primeiro longa de ficção, esse belo O Padre e a Moça. Já na primeira cena, quando vemos o padre caminhando no lombo do cavalo e o canto rebatendo nas rochas, sabemos o quanto há de aldeia ali, e, portanto, o quanto de universal. Inspirado em poema de Carlos Drummond de Andrade, Negro Amor de Rendas Brancas, o filme começa com um padre que chega a um vilarejo em Minas Gerais para dar a extrema-unção ao padre do local e tomar o lugar deste. Lá, se vê em clima sufocante onde beatas pontuam um universo por onde desfilam maledicência e castração sob o jugo poderio de um coronel dos diamantes diminutos. É lá também que encontra um bela jovem, com o qual viverá a fúria do desejo e da punição. Com um elenco em estado de graça - Paulo José, Helena Ignez, Mário Lago e Fauzi Arap - e uma fotografia existencial, O Padre e a Moça é um filme de silêncios profundos e triste. Não da tristeza grandiloquente, mas daquelas que se instalam no peito devagar para desconforto ancestral.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

domingo, 21 de fevereiro de 2010