sábado, 9 de outubro de 2010

longas brasileiros em 2010 (234)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

234 - Minha Namorada (1971), de Zelito Vianna e Armando Costa ****

Carlos Diegues sempre chamou contemporâneos da MPB para as trilhas de seus filmes - Chico Buarque, Jorge Benjor, Gilberto Gil, Caetano Veloso. E em 1994 construiu seu Veja Esta Canção todo a partir de músicas desse quarteto, costurado ainda por Milton Nascimento. A música pode ser utilizada no cinema de diferentes formas, e foi tomando o nome de uma delas, que, claro, faz parte de sua trilha sonora, que o cineasta cearense Zelito Vianna - parceiro de Diegues no Cinema Novo - estreou como cineasta. A música? Minha Namorada, de Vinícius de Moraes e Carlos Lyra. O filme? Minha Namorada, que dirigiu com Armando Costa - fundador do Teatro Opinião ao lado de Vianninha, Paulo Pontes e Ferreira Gullar, importante roteirista, e que foi cineasta só aí. Poucas vezes uma relação heterossexual juvenil foi contada de forma tão encantadora como nessa pequena jóia do cinema da década de 1970. Há um frescor tão legítimo naquela história, naquela ambiência e naqueles personagens, que é como se abríssemos um velho álbum de fotografia, mas que jamais se desbotou com o tempo. A Maria de Laura Maria, o Pedro de Marcelo, e o Fernando de Pedrinho Aguinaga são como possibilidades de um mundo pré-Aids e pré-reacionarismo de juventude, mas infelizmente soterradas pelo novo e assustador estado de coisas atual, em que todas as relações são ficandas no consumo e no individualismo. Laura Maria vive comos pais, Jorge Dória e Fernanda Montenegro, e desfila com o noivo Pedrinho Aguinaga, que parece não deixar a moça respirar muito com tantos beijos a impedir o fechamento de elevador ou mesmo na marcação cerrada na porta do colégio. Mas certo dia Marcelo entra atrapalhado em aula de francês, faz rir os colegas, e sequestra definitivamente o olhar da menina. Daí, ela troca o certinho pelo tocador de violão de república de estudantes, e vive embates agridoces com os pais - há cenas belíssimas, como Laura caminhando sozinha com parede vermelha ao fundo. Um dos grandes acertos desse Minha Namorada foi juntar no elenco a experiência e genialidade de Jorge Dória e Fernanda Montenegro - Ana Maria Magalhães e Arduíno Colassanti também fazem pequenas participações - com atores verdes, em início de carreira nas telas e vindos de outros searas: Laura Maria (Laura de La Rocque) - modelo e atriz de teatro; Marcelo - cantor; Pedrinho Aguinaga -modelo e astro de comerciais. E muito do frescor vem daí, dessa inesperada mistura. Carreira, virigindade, independência, passagem para a vida adulta são alguns dos temas abordados nesse belo filme, que além da canção-tema tem ainda Marinheiro Só e London London, de Caetano Veloso, cantadas por Marcelo ao violão em cena. O elenco está todo maravilhoso, e Laura Maria é mesmo inesquecível. Mas é impossível não ressaltar Jorge Dória, que aqui faz personagem bem diverso de muitos outros que encarnou, mostrando toda sua maestria.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Longas brasileiros em 2010 (233)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

233 - As Três Mulheres de Casanova (1968), de Victor Lima ***
Obs.: não consegui imagem do filme

Não tem como falar em cinema popular e não falar do cineasta carioca Victor Lima, um verdadeiro mestre - e um tanto injustamente subestimado. Com cerca de 60 filmes no curriculo - sendo quase 40 como diretor - foi também produtor, roteirista, montador e cenógrafo. E não ficava em um gênero só, pois fez chanchada - É de Chuá (1958); cangaço - Os Três Cangaceiros (1959); policial - Paraíba, Vida e Morte de um Bandido (1966), infantil - Ali Babá e os Quarenta Ladrões (1972), além de muitos outros. O melhor de tudo é que sempre com muito talento, diálogo com o público, e se reinventando como no último filme que dirigiu, a comédia aloprada de humor negro Crazy - Um Dia Muito Louco (1981). Em As Três Mulheres de Casanova não foi diferente, pois além da direção, assina também a produção, o argumento, e o roteiro. Jardel Filho é um professor de egiptologia casado com Naura Hayden. Só que nos finais de semana deixa a casa no Rio, alegando para a esposa que tem que visitar um colega de profissão em São Paulo para estudos em conjunto sobre a XIX Dinastia. A verdade é que lá é noivo de Sonia Clara, além de namorar Celi Ribeiro em Belo Horizonte. Desconfiadas das visitas rápidas e dos sumiços constantes do noivo e namorado, por um motivo ou outro as duas vão para o Rio para encontrá-lo. Desesperado, ele recruta Amândio (foto), porteiro do museu onde trabalha, para ajudá-lo nessa confusão. Jardel Filho sempre foi talentosíssimo, e mostra sua versatilidade, pois tinha acabado de encarnar o atormentado poeta Paulo Martins em Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha, e faz aqui registro completamente oposto de personagem. Mas quem rouba a cena mesmo é Amândio (Silva Filho), que está mais que divertido na pele do porteiro que passa por parceiro de Jardel nas pesquisas sobre a XIX Dinastia. Cenas como a do jantar, dele explicando a escolha do tema dos estudos, ou ainda dele lendo em voz alta 007 Contra Goldfinger é de rolar de rir. Victor Lima, que sempre trabalhou com muitos dos mais memoráveis comediantes desse país, como Grande Otelo, Golias, Mazzaropi, Costinha, Renato Aragão e Ankito - sabia do riscado e tirava desses deuses do riso momentos iluminados. E com Amândio não foi diferente, pois só a atuação dele já faz toda a diferença nesse As Três Mulheres de Casanova, que ainda tem ótima presença de Celi Ribeiro - a melhor das três mulheres do título -, uma Sonia Clara estonteante, e um pontinha de Costinha.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (151)


Ali MacGraw.





Nu!!!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

longas brasileiros em 2010 (232)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

232 - O Mostro de Santa Tereza (1978), de William Cobbett **1/2

Luiz Armando Queiróz é chefe de repartição, é baiano que mora no Rio de Janeiro, mas queria mesmo é ter nascido no império. Daí se se auto-denomina barão, com direito à cartola e tudo, e recebe a companheira de trabalho Isolda Cresta em seu apartamento em Santa Tereza. Ele a chama de baronesa e juntos se divertem em noites de sexo em meio ao mobiliário antigo e literatura erótica. Tudo está as mil maravilhas, até que chega Maria Rita, mãe dele, que com gênio terrível e moral severa, vai infernizar sua vida. O Montro de Santa Tereza é baseado em Duas Vezes Perdida, de Josué Montello, com roteiro de Cobbett e e Antônio Neves. O grande destaque do filme é a presença de Luiz Armando Queiróz, morto precocemente aos 54 anos. Queiróz encarna Jerônimo, o típico personagem público atolado em pastas amareladas de processos, que busca uma vida menos ordinária em um Rio de Janeiro onde crentes condenan a falta de valores em praça pública, poetas recitam versos que ninguém quer ouvir, e anônimos se acotovelam no bondinho com destino ao centro. Daí, é como se Santa Tereza fosse um oásis que representa tempos antigos - e o bonde é signo disso - enquanto logo ali embaixo na Lapa os odores sobem e empestiam o ar. O ator empresta a empáfia necessária para o personagem circular durante o dia e a gaiatice ligeira para as noites em que reina em sua alcova. Isolda Cresta faz a solteirona com propriedade - ela e Queíróz protagonizam belíssima cena debaixo de árvore, que começa campestre e termina angustiada, a la James Ivory; já Maria Rita, ainda que injete energia na mãe déspota, está um tanto exagerada na composição - o melhor está em algumas ações que ela instaura na casa, como a troca dos móveis de antiquário por mesa de fórmica e flores de plástico, e a volta do penico para debaixo da cama. No elenco estão também Fernando Reski, Wilson Grey e uma Zezé Macedo com direito à cena de provocação sexual, quando fica de sultiã e calcinha e desperta o desejo do vizinho barão que a espreita pela janela. O Monstro de Santa Tereza conta com a presença na equipe de produção de Adélia Sampaio, que dirigiria Amor Maldito (1984), filme de temática homosssexual feminina, e de Eliana Cobbet - essa última irmã dela e esposa do cineasta.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

terça-feira, 5 de outubro de 2010

longas brasileiros em 2010 (231)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

231 - Neurose Sexual (1985), de Tony Vieira **

O mineiro Tony Vieira foi sinônimo de sucesso de bilheteria durante muitos anos com seu cinema popular, dirigindo filmes policiais, faroeste, aventuras e dramas. E foi GRANDE aí. E como outros cineastas da Boca do Lixo, também aderiu ao sexo explícito na década de 1980. No anos 70 assinou muitos filmes como Tony Vieira, já nos meados dos 80 até o fim da década assinou como Mauri de Queiróz, seu nome verdadeiro. Esse Neurose Sexual é exemplar dessa dualidade, pois assina o argumento e o roteiro como Tony Vieira, mas a direção como Mauri de Queiróz - e ainda é filme de passagem, pois tem forte teor sexual, mas nunca explícito. Na trama, Marília Naue é uma empresária que deixa a firma quase parada e seus diretores de cabelos em pé, pois vive cada vez mais mergulhada em seu mundo interior. E nele, é tomada por delírios sexuais cada vez mais fortes e presentes, e é acompanhada de perto pela amiga Jonia Freund, e pela psicóloga Dalma Ribas. Quando lê que um tarado e assassino foi pego e condenado, fica obcecada por sua figura - que corre para lá e para cá - e acaba selando seu destino junto ao dele. Marilia Naue é presença interessante, com seu tipo loura gostosona e cheia de uma certa classe - e essa muitas vezes despenca, pois é inacreditável o figurino, já que ora está de casacos de couro ou de lã, ora de shortinhos, e quase sempre de faixa na testa - e do lado de cá a gente pensa: mas que clima é esse?. Só que nem sempre consegue segurar a onda quando o papel lhe exige um trabalho mais forte de atriz - há uma cena emblemática disso quando vê um casal roçando no mato, delira participando do ato e depois se debate em tom melodramático excessivo e clama "Por que meu Deus! Por que?". E na verdade, o roteiro de Vieira não ajuda muito, pois acaba sendo sequências de cartas marcadas para a personagem, que protagoniza encontros fortuitos, depois delírios sexuais envolvendo quem encontra pelo caminho, e por fim embates emocionais. Não se vê aqui também muita vontade da direção e tampouco da montagem, com muitas cenas de patos nadando em lagoas em meio ao imbróglio todo - aliás, há quase uma obsessão por água, daí há praias, cachoeiras, cascatas, lagos. Mais para frente, Tony Vieira, como Mauri de Queiróz, vai apimentar mais seus filmes, se distanciando dos grandes feitos da carreira, para desagrado de seu público primeiro e para o próprio cineasta. Mas ainda assim seu lugar já estava assegurado como um dos grandes diretores da Boca do Lixo e um dos mais populares do país.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (82)


Neusa Borges.





Salve Salve!