sábado, 2 de janeiro de 2016

Longas Brasileiros assistidos em 20016 (002)

Belas e corrompidas (1977)
Direção: Fauzi Mansur


Fauzi Mansur é um cineasta subestimado do cinema brasileiro. Sua culpa no cartório? Ser um dos cineastas da Boca do Lixo, que, ainda que seja grande, foi por isso renegado por grande parte da crítica da época. Afinal a Boca só fazia pornochanchada de quinta, né? Santa ignorância. Foi principalmente com o advento da internet, sobretudo com sua popularização, que toda uma constelação desse período fértil do cinema paulista veio à luz em sua grandeza – além do público, né, que lotava os cinemas e não estava nem aí para os caretas de plantão. E Fauzi é um deles. Mesmo que tivesse dirigido apenas A noite do desejo (1973) - que foi premiado -, já teria seu nome assegurado no cinema brasileiro. Uma das facetas interessantes da carreira do cineasta é formada pelos seus filmes de horror. Belas e corrompidas (1976), que alia o terror à farsa, é um desses exemplares.


Em Belas e corrompidas Maria Isabel de Lizandra é uma mulher solteira e misteriosa que vive em seu casarão com a fiel governanta corcunda, Stella Maia, e o irmão boêmio, Luigi Picchi. Socialmente, Isabel - mesmo nome da atriz - é a presidente pudica e respeitosa de uma associação beneficente, mas o que as donas de casa carolas integrantes do grupo nem imaginam é o que acontece dentro daquelas paredes do casarão, para onde a benemérita atrai suas vítimas. E aí dá-lhe machadinhas, punhais, estiletes, morcegos, escorpião, guilhotina, e, claro, sangue para todo lado. Alguns homens circulam em torno daquela que os jornais apontam como a Mulher Fera: o policial apaixonado por ela, Fernando Reski; o cego amante de Tula, a corcunda, doido para apalpar a patroa, Carlos Reichenbach; o auxiliar de açougueiro que suspira de amor e tesão, Carlos Bucka; e por fim o irmão farrista que quer por que quer vender o casarão, Luigi Picchi. O filme tem roteiro do bamba Marcos Rey e de Mansur, que na direção aposta em cenas noturnas, muita chuva, escuros e cores quentes para compor a atmosfera de horror sexual. Maria Isabel de Lizandra e Stella Maia estão bem em sua cumplicidade macabra, em elenco que segura a peteca. É claro que a polícia tinha todas as evidências para descobrir desde o início quem é a tal Mulher Fera por causa das inúmeras “coincidências” que ligam as vítimas ao casarão. Mas quem disse que Belas e corrompidas está interessado nas evidências do entrecho policial?  O filme só cai quando abandona o horror para apostar na farsa em sua conclusão no julgamento inverossímil até mesmo para a condução do mostrado até então. Ainda assim é filme que se assiste com interesse, tanto pelo desenrolar da trama quanto pelo destino de seus personagens.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Longas Brasileiros assistidos em 2016 (001)

Que estranha forma de amar (1977)
Direção: Geraldo Vietri


Importante teledramaturgo, Geraldo Vietri fez história na TV brasileira. Afinal, qual outro autor que além de escrever novelas também as dirigia e as editava? Essa façanha rendeu grandes sucessos na fase áurea da Tupi, em obras como Antônio Maria (com Walter Negrão, 1968/69), Nino, o italianinho (com Walter Negrão, 1969/70), A fábrica (1971/72) e Vitória Bonelli (1972/73). Com o fechamento da Tupi, foi para a Globo em 1980, onde escreveu Olhai os lírios do campo, adaptada do romance homônimo de Érico Veríssimo, mas como não conseguiu o controle sobre a obra como tinha na antiga emissora, desentendeu-se com o diretor Herval Rossano e acabou deixando a novela antes de seu final. Antes da TV estreou no cinema, onde dirigiu 13 filmes, a maioria atualmente sem possibilidades de acesso – seu primeiro filme é Custa pouco a felicidade (1952). Sua carreira cinematográfica é pontuada por comédias (na primeira fase), filmes de época (adaptações literárias e filme histórico, na segunda fase), e dramas urbanos (terceira fase). As comédias continuam inalcançáveis, mas alguns filmes das fases seguintes foram lançados em VHS e recuperados pela Cana Brasil. Os dramas urbanos – Adultério por amor (1978), Os imorais (1979, o ponto alto da carreira), e Sexo, sua única arma (1981) – formam o melhor do seu cinema.


Que estranha forma de amar (1977) é filme da segunda fase, aqui uma adaptação de Iaiá Garcia, de Machado de Assis. Assim como em Senhora (1976) e em Tiradentes, o mártir da Inconfidência (1976), há no filme uma condução excessivamente conservadora, tanto no roteiro quanto na direção. Vietri costumava trabalhar em seus filmes com seu elenco da Tupi, daí temos nomes habituais do seu universo, como Paulo Figueiredo, Márcia Maria, Dina Lisboa, Wilson Fragoso e Jonas Mello. E tem como protagonista Berta Zemmel, que havia brilhado em Vitória Bonelli, uma de suas melhores novelas. Não li o livro de Machado por isso não saberia dizer sobre o protagonismo na obra literária, mas no filme todo o foco recai sobre a Estela de Berta Zemmel, uma mulher que terá que abrir mão duas vezes de seu grande amor inconfesso, o jovem Jorge de Paulo Figueiredo. Na primeira vez para a Guerra do Paraguai, por incentivo da mulher abastada que a criou e mãe dele, Dina Lisboa - para afastar o filho de um inconveniente casamento fora da sua classe social; e na segunda para a enteada, a Iaiá, Solange Theodoro (acima da idade da personagem e excessivamente infantilizada e saltitante, com direito a laços enormes na juba), quando a percebe apaixonada pelo rapaz. O elenco é experiente, mas a direção pede gestos dramáticos, muitas vezes caros ao melodrama – há de se destacar Márcia Maria, que está belíssima e compõe sua Eulália, apaixonada por Jorge e preterida por ele, com sutileza e meios tons de melancolia e elegância. Ainda que o tom solene prejudique o mostrado, a espinha dorsal do cinema de Vietri está lá – pelo menos o possível de conhecer de sua obra: uma crítica à estrutura familiar, que para se manter apoia-se em tradição, convenções, valores de autoproteção e hipocrisia. A Estela de Berta é uma mulher vítima dessa estrutura, que a faz "não existir" - se vê como uma criada pela família que a criou e quando se torna enteada de Iaiá escuta desta em momento chave - ainda que o amor seja correspondido entre as duas -, que ela não é sua mãe. Em Que estranha forma de amar todos os personagens estão infelizes, mesmo aqueles que não "sabem" dessa infelicidade, pois não a querem ver. 

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Filmes Brasileiros assistidos em 2015 (071)

As aventuras amorosas de um padeiro (1975)
Direção: Waldir Onofre


domingo, 27 de dezembro de 2015

Filmes Brasileiros assistidos em 2015 (070)

Longa noite do prazer (1983)
Direção: Afrânio Vital