sábado, 22 de janeiro de 2011

emoção, política, moda e cinema de alta cepa na abertura da mostra de tiradentes








A abertura ontem da 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes teve de tudo um pouco.

Teve o cerimonial de praxe, teve apresentadora inesperada, teve fala de homenageados, teve presença da Ministra da Cultura Ana de Hollanda, teve desfile de moda, teve exibição de filme.

Mas os pontos mais altos foram, na ordem, a apresentação descontraída e cheia de verve de uma exuberante Dira Paes; a fala emocionadíssima do pai do ator Irandhir Santos - um dos homenageados da Mostra; e a exibição de O Gerente, último rebendo de Paulo Cézar Saraceni - o outro homenageado.

Dira Paes circulou pela passarela montada para o desfile de Ronaldo Fraga com beleza, tesão e bom humor. E divertiu a platéia quando tinha dúvida com a pronuncia de alguma palavra - como Fiemg, por exemplo "É FI E MG?" perguntou, para resposta divertida e amorosa da plátéia "é Fiemg"; ou quando pedia para participar de fotos históricas, como a que reuniu os homenageados.

O pai de Irandhir Santos, Marcos Santos, que é músico, contou histórias de família, da terra, e da infância do filho, e disse que tinha certeza de que se ele não fosse o que é hoje, seria com certeza músico - "ele toca teclado direitinho". E quando Irandhir se emocionou falando dos pais - a mãe, Helena Maria, também estava presente - o patriarca se emocionou ainda mais, chorando ao ombro da esposa.

E por fim, teve a exibição de O Gerente, um Paulo Cézar Saraceni surpreendente em aposta total na poesia, com investigação de linguagem que resultou em belos planos-sequências - mas sem o filtro pop que ronda uma quase nova mania na recuperação do recurso.

Hà inúmeras cenas banhadas em beleza, mas uma de encanto maior coloca Ney Latorraca - o protagonista - em dança com inventiva exploração de recurso espacial com Letícia Spiller.

O Gerente tem ainda como protagonistas Ana Maria Nascimento e Silva - esposa há três décadas e meia de Saraceni - e Joana Fomm. Essa última, ausência mais que sentida por esse escriba, que veio a Tiradentes em gozo maior por achar que estaria frente a frente com uma das mais talentosas atrizes que esse país já pariu.

Em breve, comentários sobre O Gerente aqui no Insensatez

Fotos:
- Dira Paes e Irandhir Santos
- Desfile Ronaldo Fraga
- Paulo Cézar Saraceni beija Julio Bressane
- Irandhir abraça o pai, tendo ao fundo a mãe
Crédito: Leonardo Lara

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Hoje, a 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes iniciou o ciclo de seminários, abrindo espaço para os dois homenageados - e convidados - conversarem com o público.

A mesa de Irandhir reuniu os cineastas Claudio Assis, Eric Laurence, Kleber Mendonça Filho e Leonardo Lacca. Já o de Paulo Cézar Saraceni reuniu os cineastas Julio Bressane, Zelito Vianna - produtor de O Gerente -, Ricardo Miranda - montador do filme -, e Ana Maria Nascimento e Silva - uma dos protagonistas.

Lá pelas tantas, Bressane incorporou a persona característica ao dizer que esperava mais das discussões da platéia, tendo em vista a excelência do filme do homenageado.

Para alguns fica uma postura um tanto pedante, mas é impossível não ficar totalmente seduzido por algumas de suas falas: "Não há mais tempo para o culto sensível, tudo se transformou em guloseimas"; "O cinema do Paulo Cézar sempre foi uma linha de força. Ele me dá uma possibilidade de transcendência".

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Hoje à noite haverá tempo ainda para conferir dois docs em pré-estreia: Avenida Brasil Formosa, de Gabriel Mascaro; e Cortina de Fumaça, de Rodrigo Mac Niven - pena que, por questão de horário similar, não será possível conferir o doc Elza, de Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan.

Mais informações no site:

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

zingu! 41 no ar


É com grande alegria que venho dizer que a Zingu! 41 - edição de janeiro - está no ar.

Sempre fui louco pela Zingu!, que lia avidamente. Daí, em 2008, Matheus Trunk, fundador da revista, passou a me convidar para participar como colaborador em algumas edições, o que atendi de pronto e cheio de gás.

Quando Gabriel Carneiro assumiu a edição, ele me convidou para me tornar redator fixo da Zingu!, colocando no meu colo de presente a Coluna Inventário Grandes Musas da Boca, e aí delirei bonito, claro!. Além da coluna, continuei escrevendo também para os outros conteúdos, dossiês e especiais.

E daí que não é que nesse número 41 eu assumo a função de Editor-Chefe!

Nu!!!

É uma alegria só. E, claro, responsabilidade ainda maior, pois na equipe da Zingu! só tem bambas e a confiança em mim me enche o peito de orgulho.

Bom, depois do desabafo feliz - rsrs - quero dizer que a Zingu! vem bem bacana.

Tem dossiê de José Miziara - o diretor dos amados O Bem Dotado - O Homem de Itu, Embalos Alucinantes - A Troca de Casais, e Pecado Horizontal -, com resenhas de quase toda a sua filmografia, entrevista e perfil.

Tem também as colunas tradicionais - Cinema Extremo, Subgêneros Obscuros, Reflexos em Película, Musas Eternas, Inventário Grandes Musas da Boca, Musas do Diniz; e a estreia de três novas colunas - Filme-Farol, Nossa Canção e O Que é Cinema Brasileiro?.

E ainda um artigo de fôlego e bem humorado sobre o argentino Nueve Reinas e sua refilmagem americana.

Enfim, tudo isso está esperando por vocês.
É só clicar aqui:

http://www.revistazingu.net/

As fotos aí acima são do José Miziara e do IBAC 2010 - que a Zingu! trouxe para casa, para orgulho de todos nós.

Boa leitura!!!

14ª mostra de cinema de tiradentes


Nesta sexta embarco para a 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes, e fico lá até o dia 29 de janeiro - o cineasta Paulo Cézar Saraceni e o ator Irandhir Santos são os grandes homenageados dessa edição.

A programação está supimpa, e nem acredito que estarei perto de uma das atrizes que mais admiro:

- a GRANDE Joana Fomm.

Claro que vou querer entrevistá-la, né?

Também nem preciso dizer que farei a cobertura aqui no Insensatez.
Aliás, já tem matéria lá no meu site, Mulheres do Cinema Brasileiro.

Confiram:
http://www.mulheresdocinemabrasileiro.com/

Foto: O Gerente, de Paulo Cezar Saraceni - filme de abertura da Mostra de Tiradentes

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

longas brasileiros em 2011 (010)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2011 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
(em 2010 - 289 filmes)

010 - Flordelis - Basta uma Palavra para Mudar (2009), de Marco Antonio Ferraz e Anderson Corrêa */1

É moeda corrente a afirmação de que os pobres são muito mais solidários entre si. E se pensarmos na elite brasileira, muito desse dito pode ser verdade mesmo, pois ela é no geral insensível, indecente e assassina. Em um país como o Brasil, em que há um imenso povo que foi abandonado durante séculos, mais ainda assim teima em continuar, o que não faltam são histórias impressionantes. Como a de Flordelis, uma professora pública da favela do Jacarezinho, que acabou sendo mãe de 40 crianças - sendo 37 adotivos. A história dessa mulher evangélica realmente impressiona. Indignada com tantos meninos no tráfico ou ceifados por ele, primeiro ela passou a tentar dissuadi-los com suas mensagens de fé e de esperança. Depois, acabou adotando, de uma vez só, 37 crianças e adolescentes sobreviventes de uma chacina na Central do Brasil. É uma trajetória notável, pois teve que lutar para manter sua família, tendo que para isso enfrentar o Estado, além de estampar as páginas de jornais como sequestradora. É para tirar o chapéu total. Só que a melhor história do mundo pode não resultar em grande cinema, pois esse, antes de tudo, é linguagem com suas especificidades e códigos. Infelizmente, esse Flordelis - Basta Uma Palavra para Mudar, cuja realização foi para bancar a compra de uma casa para a família - já que vive de aluguel ainda hoje e sobrevive de doações - não acontece na tela. O filme foi construído a partir de narração e monólogos - raramente abre espaço para cenas gerais, como na impactante sequência protagonizada por Patrícia França. Flordelis pontua sua história, e um verdadeiro quem é quem de geração encarna alguns de seus filhos, e, de frente para a câmera, contam como a Mãe Flor - como eles a chamam - foi parar em suas vidas como única possibilidade de redenção. Letícia Sabatella, Reynaldo Gianecchini, Débora Secco, Cauâ Reymond, Marcelo Antony, Pedro Neschling, Fernanda Lima e Aline Moraes são alguns dos atores que encenam esses relatos. O primeiro impressiona, pois Isabel Fillardis está maravilhosa como uma das tantas mães que deixaram seus filhos com Flordelis. E Thiago Rodrigues também está muito bem. Mas no geral, esses pequenos monólogos em sequência acabam por cansar quem está do lado de cá, sobretudo quando os atores resolvem interpretar demais, como se pesar nas tintas fosse necessário para encarnar aqueles dramas - Rodrigo Hilbert é exemplo de um desses excessos. Flordelis - Basta uma Palavra para Mudar é cheio de boas intenções, e tem mesmo um daqueles personagens que Hollywwod adora pasteurizar em tons lacrimejantes. Só que a grandeza admirável ficou mesmo é do lado de fora da tela.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

domingo, 16 de janeiro de 2011

longas brasileiros em 2011 (09)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2011 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
(em 2010 - 289 filmes)

009 - A Família do Barulho (1970), de Julio Bressane *****

Um dois filmes da lendária Belair - de Rogério Sganzerla e Julio Bressane -, que durante apenas quatro meses em 1970 realizou sete, A Família do Barulho é genial. Está lá, em cada fotograma, todo o imaginário do Cinema Marginal - muito deboche, escracho, inquietação e exasperação estética, política e existencial. De cara se vê Helena Ignez sentada de perna aberta em retrato vivo ao lado de Guará Rodrigues e Kleber Santos, numa espécie de visão atravessada e avacalhada da Dona Flor de Jorge Amado - o blockbuster de Bruno Barreto viriam anos depois. Daí, somos apresentados a uma família tradicional jogando cartas na sala, enquanto, ao som de folk "tira o leiiiite", na cozinha a empregada negra passa a roupa e um casal de meninos espivetados apronta todas: de serrote à mão, ela brinca, perversamente, de corta-lo ao meio; os dois fumam cigarros em tenríssima idade, e por aí vai - ou seja, muito antes da fase proibitiva do Estatuto da Criança e do Adolescente. Mas não é essa a família em foco, e sim a formada por Helena, Guará e Kleber. Enquanto ela roda a bolsinha e mantém a casa, eles ficam em casa bolando formas de manter a boa vida, pois como ela já disse, mais de uma vez, que como Presidente daquela pocilga tá cansada de financiar aquela moleza toda. É aí que Guará, que cafifando um plano com Santos, exalta a subida do petróleo e o aumento da bolsa no exterior, e proclama que a solução está mesmo é no oriente, portanto o melhor é contratarem uma odalisca. É a chave para a entrada de Maria Gladys, formando-se um quarteto da pesada - e é sempre fantástico ver juntas Ignez e Gladys, musas-maiores do movimento. A Família do Barulho é ponto altíssimo não só da Belair, como de todo o Cinema Marginal. Tem diálogos e tiradas engraçadíssimos - "essa é violenta", "você tá achando que sou fábrica de biscoito" -, e trilha sonora inspirada com direito à marchinha de Carmen Miranda, João Gilberto, e citações de clássicos como Mulher - de Custódio Mesquita e Sadi Cabral -, na voz irreverente de Helena, e nada mais nada menos de As Time Goes By, com Grande Otelo. Não bastasse tudo de ótimo em A Família do Barulho, tem ainda Grande Otelo hilário como a boneca Divina Dama. Transitando por todos os gêneros e ciclos do cinema brasileiro, Otelo sempre foi mesmo grande - e como em outras vezes, aqui ele arrasa, mesmo fazendo uma pequena, mas inesquecível, participação.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo