sábado, 31 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (175)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

175 - Perdidos no Vale dos Dinossauros (1986), de Michele Massimo Tarantini ***1/2

Co-produção Brasil/Itália, Perdidos no Vale dos Dinossauros é grata surpresa, ainda que o nome sugira filme-bagaceira, e mesmo que em alguns momentos se situe, realmente, nessa deciosa geografia. Dirigido pelo italiano Michele Massimo Tarantini - que fez aqui o também bacana Fêmeas em Fuga (1984) - o filme é protagonizado pelo americano Michael Sopkiw e pela brasileira Suzane Carvalho - com direito à musas do porte de Marta Anderson e Glória Cristal e mais o rei da pilantragem Carlos Imperial. Tivesse mais grana e se historicamente o cinema brasileiro investisse mais no gênero aventura, nossa cobiçada Amazônia renderia muito mais que as deliciosas Anacondas da vida. E mesmo que, no final das contas, lançasse mão da velha e boa Floresta da Tijuca no Rio de Janeiro, que nessa vida já se fez como cenário de um tudo. O filme começa gaiato, com o herói Michael Sopkiw chegando à Vila São Sebastião de carona em caminhão de carga, com bagagem de ossos pré-históricos, e com penca de banana devorada no caminho. Intregrante da seara paleontologista em Boston, ele encontra o mestre da área Ibanez Filho e sua pimpolha Suzane Carvalho. E é com eles, depois de algumas confusões, e mais uma trupe, que desembarcará no mítico Vale dos Dinossauros, santuário protegido e cercado de maldição, além de ser habitados por índios canibais. Começa aí aventura de morte, com índios chegados à coração como petisco, sanguessugas, cobras, piranhas, areia movediça, mais garimpo clandestino que mais parece a sucursal dos tempos da escravidão - realidade muito mais que ficção ainda nos dias de hoje. Perdidos no Vale dos Dinossauros oferece várias chaves de fruição. Tem um tom de paródia no início e no final, e com recheio de tensão no meio - sem abrir mão de peitinhos e pernocas da mocinhas aqui e acolá, ainda que, inacreditavelmente, com cenas bem pudicas. As de Carlos Imperial e Glória Cristal traçando, cada um, as beldades indefesas enquanto o mocinho leva mordidas de porco, são ótimas e tem libido e vîolência na medida certa - aliás, os dois atores estão inspirados e lady Cristal (foto) mais provocante do que nunca. Suzane Carvalho, que também está em Fêmeas em Fuga, é linda mas um tanto limitada na interpretação de sua mimada Eva. Já Marta Anderson, diva que precisa ser mais celebrada, está absolutamente sensacional como a perua alcoolatra e perversamente zombeteira - "atira nele, atira nele". Uma única brochada do filme é exatamente a aposta na avacalhação em momento chave, justamente após roermos um pouco as unhas com os acontecimentos com os nossos heróis - e isso quase derruba o filme. Mas de certa forma é para dizer que não devemos levar nada daquilo muito a sério, ainda que amantes do cinema brasileiros gostamos de acreditar e embarcar nos delírios, mesmo os mais improvaveis. Que Indiana Jones que nada...

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (137)


Grace Jones.





Nu!!!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (174)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

174 - Noite (1984), de Gilberto Loureiro **1/2

Um dos escritores mais populares do país, o gaúcho Érico Veríssimo é dono de obra literária monumental e que sempre seduziu as gentes do audiovisual - seus livros viraram novelas e filmes, sendo a minissérie O Tempo e o Vento (1985), de Doc Comparato, a adaptação mais aclamada. Se Olhai os Lírios do Campo (1938) é seu livro mais popular, e a trilogia O Tempo e o Vento o de maior prestígio, a novela Noite, publicada em 1954, também teve seu lastro - foi traduzida na Noruega, na França, nos Estados Unidos e na Inglaterra. E foi também levada ao cinema nesse que é o único longa dirigido por Gilberto Loureiro, nome presente em vários longas, seja como diretor assistente, roteirista, diretor de arte, montador e produtor. Gaúcho como Veríssimo, Loureiro escolheu essa trama em que acompanhamos Eduardo Tornaghi vagando pela noite de Porto Alegre em aparente crise de amnésia ou mesmo como fugitivo de um bárbaro assassinato. Já no início se questiona com o famoso bordão existencial "Quem sou eu?". E ainda que uma cigana tente se aproximar para talvez elucidar o enigma prefere sempre quebrar todos os espelhos que reflitam sua imagem, em chave psicanalítica que remete à infância de banhos por três tias carpideiras e sob os berros do pai preocupado com o futuro macho do filho. Aliás, é esse link com a psicanálise que irá pontuar e permear todas as suas andanças e seus encontros com seres que mais parecem do outro mundo - Paulo Cesar Peréio, Guará Rodrigues, Cristina Aché e Aldine Muller. Sexo-tortura e recriação da pietá com prostituta são apenas algumas dessas imersões do personagem, que se quando criança assustou o pai com uma possível fragilidade boiola, pode também ter atiçado o desejo das tias carolas, já que de adulto, e como Tornaghi, o pau exposto cresce generoso entre as pernas. É mérito do filme mostrar não apenas a nudez das mulheres mas também a dos homens, algo quase impensável, levando-se em conta as exceções de um Belmonte, Carlão, Karim ou Cláudio Assis, no cinema bem-comportado por demais desses nossos dias de retomada sem fim. O filme tem fotografia envolvente de Antonio Penido, premiada em Gramado, e não muito fácil já que todas as cenas são noturnas e muito delas em externas. Noite é filme que poderia render mais, mas não deixa de ter certo fascínio, e que teve lançamento relâmpago nos anos 1980, ficando depois disso um tanto esquecido na poeira do tempo.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (68)


Celia Biar.




Salve Salve!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (173)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

173 - Janete (1983), de Chico Botelho ****

Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, David Neves, Rogério Sganzerla, Jean Garret, Wilson Barros. São muitos os talentos que o cinema brasileiro perdeu prematuramente e em auge criativo. Como é também o caso do paulista Chico Botelho, morto aos 43 anos. Integrante do Novo Cinema Paulista - Cinema da Vila Madalena - que na década de 1980 sacudiu a produção cinematográfica, Botelho foi também câmera e diretor de fotografia de alta cepa - como a magistral do curta Caramujo-Flor (1988), de Joel Pizzini. Janete foi sua primeira direção de longa, e já há aqui indícios do que faria em termos estéticos um pouco depois em Cidade Oculta, sobretudo na fotografia de cenas noturnas de uma São Paulo banhada em luz azulada e sendo varada por motoqueiros de óculos escuros extravagantes. Só que diferente do tom quadrinista de Cidade, em Janete o registro é realista, ainda que se refrigere no mundo mágico e lúdico do circo. Nice Marinelli é Filomena da Silva, jovem prostituta de 18 anos que tem que abandonar a viração, pois os canas resolveram deixar os michês de lado, desde que esses sentem o pau nas meninas - e o sentido aqui não é sexual, é porrada mesmo. Daí tenta arrochar em parceira um velho no Viaduto do Chá, mas é pega e vai parar na prisão. Lá, a homossexualidade feminina reina, dá uns amassos em Maria Sílvia, e se torna a preferida da vez de Lilian Lemmertz, funcionária manda-chuva do pedaço. Em uma das saídas para a rua conhece trapezista de circo, fica encantada e jura que volta. Quando consegue fugir, adota o nome de Janete e faz da procura do circo sua possibilidade de redenção. Pouco conhecida - fez filme de John Doo e de Denoy de Oliveira, e alguns trabalhos na TV - Nice Maricelli está ótima como Janete. Sem ser propriamente bonita, mas com charme, presença, e total integração à personagem, ela é a grande força que move esse quase road-movie social. Com argumento e roteiro de Botelho, fotografia premiada de José Roberto Eliezer, e trilha sonora premiada de Arrigo Barnabé, Janete é uma pequena jóia do cinema brasileiro da década de 1980. Se a solidão urbana em Cidade Oculta é total, está submetida aos caos e esquadrinhada em motivos gráficos, a solidão em Janete - uma quase menina sem família, sem eira nem beira, e sem lenço e sem documento - ainda encontra acenos de solidariedade e possibilidades de refugo passageiro. Mesmo que, como na bela canção de Gil, aquela estrada possa dar em nada. Um verdadeiro quem é quem daquele novo cinema paulista mostra as caras na ficha técnica do filme - André Klotzel, Alain Fresnot, Walter Rogério, Maria Ionescu. Botelho acertou também no elenco, pois além do luxo da diva Lilian Lemmertz em um de seus últimos filmes - e ela está sensacional como a protetora de Janete, em cenas de cama, banho e de peitos de fora - ainda tem as damas Lélia Abramo, Ruthinéa de Moraes e Maria Sílvia. E mais Cláudio Mamberti, o sumido das telas Flávio Guarnieri, e atuações carinhosas do saudoso Luiz Armando Queiróz como integrante da trupe circense e de Jayme del Cueto como um gaúcho. A ótima trilha de Arrigo Barnabé, que tem canção-tema com Caetano Veloso, mais música de Teixeirinha com Os Almôndegas e Roberto Carlos, pontua todo o filme. E quando Janete faz parada breve em puteiro e dança abraçadinha feito namorada com freguês ao som de Cavalgada de Roberto Carlos - que é tocada na íntegra - percebemos que já amamos a personagem e que o filme terá um lugar especial reservado em nossa retina.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quarta-feira, 28 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (172)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

172 - Gente Fina é Outra Coisa... (1977), de Antonio Calmon *****

Fazer lista de melhores é sempre uma tarefa ingrata. Mas se a dita for sobre os melhores cineastas brasileiros de todos os tempos será impossível não passar por Walter Hugo Khouri. Como será impossível não passar por Jean Garret. E como também será, definitivamente, impossível não passar por Antonio Calmon. Dono de uma filmografia impactante, a câmera de Calmon é sempre tesuda, sacana, indecente, desconcertante e necessária E vamos combinar que poucos sabem como ele utilizar melhor as músicas em seus filmes. Como nesse Gente Fina é Outra Coisa, em que há Odair José, Wando, Elvis Presley e Guantanamera. No filme, Ney Santana é Tadeu, guapo em seus vinte e três aninhos, um pobretão chegado à uma boa cama de granfinas. A trama tem três capítulos - A Guerra das Lagostas, Chocolate ou Morango, e O Prêmio - com variação de elenco, mas sempre com ele dando as cartas. Não é tipico filme de episódios com, por exemplo, três diretores ou três histórias diferentes. Aqui, acompanhamos o mesmo personagem de Ney, só que em situações distintas, ou em três atos como o filme anuncia. No primeiro - o melhor de todos - ele é copeiro assediado e repudiado por Maria Lucia Dahl, a patroa que morde e assopra. Cansado de ser humilhado, ele vai querer dar o troco. No segundo ele é o motorista sobre o qual Louise Cardoso, em véspera de casamento, crescerá o olho em meio a predileção por sorvetes. E no último é um misto de copeiro e jardineiro metido em embolada familiar e com a cabeça virada por três deusas: Márcia Rodrigues, a patroa; Selma Egrei, a amiga da patroa; e Kátia D´Angelo, a arrumadeira. Produzido por Pedro Carlos Rovai e com roteiro de Leopoldo Serran, Calmon, Rovai e Mauro Rasi, Gente Fina é Outra Coisa é clássico do cinema popular dos anos 1970. Todos os segmentos são bacanérrimos, mas realmente é em A Guerra das Lagostas que se vê plenamente a genialidade desse moço, que, infelizmente, abandonou o cinema e se bandeou para a TV. Ney Santana está perfeito como Tadeu, mas é Maria Lucia Dahl que mostra, mais uma vez, porque é uma das musas incontestáveis de Calmon. A atriz encarna perfeitamente o propósito do cineasta e faz de suas personagens - como em O Bom Marido (1978), por exemplo - um misto de ironia e feminilidade exposta e falsamente ultrajada. Em cenas como a de dança-esfrega com Marieta Severo, essa em papel bem diverso dos que a vemos comumente, está toda a pulsação do cinema de Calmon. Assim como nas de Maria Alves e Glória Cristal se balançado na cozinha aos versos de A Noite mais Linda do Mundo (A Felicidade), de Odair José, e cantarolando Moça, de Wando - que também é usada magistralmente na cena de cama. Só esse ato vale toda a filmografia de muita gente por aí.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

terça-feira, 27 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (171)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

171 - Mônica e a Sereia do Rio (1987), de Maurício de Sousa **
direção das cenas ao vivo de Walter Hugo Khouri

Tem algumas junções que parecem mesmo improváveis. Como esse encontro entre o mestre da animação Maurício de Sousa e o mestre do cinema existencial Walter Hugo Khouri em Mônica e a Sereia do Rio. Khouri dirigiu as cenas ao vivo com a cantora e compositora Tetê Espíndola, aqui também se fazendo de atriz. Essas cenas foram filmadas na Pousada das Águas Quentes, em Goiás, e tem fotografia de Antonio Meliande. No filme, Mônica caminha pela cidade até que se vê em espaço totalmente em branco e se desespera, afinal se não há traçado nem ela tampouco poderá existir. É aí que o pincel desenha uma porta à sua frente, ela abre, mas fica sem coragem de entrar -ao contrário da Alice de Lewis Carrol, ela ja tem seu coelho, o qual comanda com rédea curta, daí o mundo mágico que a espera pode não ser tão tentador assim. Um providencial pontapé a jogará em uma floresta, onde encontra Tetê, uma fada, que lhe avisa que lá pode-se ser o que quiser. As duas fazem um trato, Tetê canta e Mônica conta histórias. Daí, acompanhamos quatro histórinhas - A Gruta do Diabo, Jacaré de Estimação, O Tocador de Sinos e a Sereia do Rio - entremeadas pelo canto da habitante da floresta que se transmuta em personagens como arara, onça e uma sereia. Esse formato adotado pelo filme não funciona muito bem. As cenas com Tetê Espíndola são curiosas, mas as músicas que canta não são das mais inspiradas, daí toda aquela empolgação ou embevecimento que Mônica demonstra ao ouvi-las não convencem muito. No início, quando a floresta aparece um pouco em névoa, a atmosfera faz a gente pensar imediatamente "está aí o Khouri", só que logo depois a gente fica procurando por ele o tempo inteiro, mas em vão. Nem as coreografias são inspiradas e a presença de algumas crianças também não ajudam muito. Já as animações também são irregulares. Jacaré de Estimação e Tocador de Sinos, a primeira protagonizada por Cebolinha e a segunda por ele e por Cascão são adoráveis e as melhores. Já A Gruta do Diabo, com Cebolinha e Cascão, e A Sereia do Rio, com Mônica e Cebolinha são fracas - aliás, Cebolinha parece mais protagonista que a famosa dentuça. Mônica e a Sereia do Rio é filme curioso, mas só.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (136)


Norma Aleandro.




Nu!!!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (170)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

170 - O Signo do Caos (2003), de Rogério Sganzerla ****

"Todo brasileiro devia ser proibido de existir". "Mas ele já é punido ao nascer e morre sem saber porque". "Vou abrir a barriga do Brasil e tirar tudo que tem dentro". "Não gosto de conhecer quem eu não conheço". "No Brasil todo mundo faz cinema, e todo mundo acha que está fazendo cinema". "Vamos tirar o cinema da sala de brinquedos". Essas e outras falas geniais estão no último petardo de Rogério Sganzerla, O Signo do Caos. Quem conhece sua obra sabe do fascínio de um dos nossos maiores e mais modernos cineastas pela passagem do mestre Orson Welles pelo Brasil para filmar o inacabado It´s All True e todas as complicações decorrentes. E como em outros filmes seus, Sganzerla mais uma vez revisitou o fato nesse seu último trabalho. Tanta fixação, para além da genialidade de Welles, é porque, certamente, o episódio fala, ainda que involuntariamente, muito do que é o cinema e, sobretudo, muito do que é o Brasil. Aqui, ele focaliza Dr. Amnésio, controlador da alfândega marítima e seu bando de funcionários/compasas, que se atiram com fúria e escárnio às latas de filmagens de It´s All True. O discurso oficial é de o que filme não presta - "nogento e pestilento", ele vocifera - por divulgar imagem negativa do Brasil no exterior em plena era da Política da Boa Vizinhança, mas na verdade o que impera é o gozo de poder rasteiro, tupiniquim e hipócrita. E enquanto esses censores exibem as imagens internamente, ele disparam pérolas de achaques e impropérios. Só Morel, Salvio do Prado - ater-ego de Rogério? - faz as defesas do filme, mas que se revelarão quase terrivelmente inúteis diante aos própositos da da urbe. Há, depois, uma comitiva aloprada de poder travestido idem que dá continuidade ao julgamento da obra de Welles, enquanto ela própria encena a visão de país que quer negar. O Signo do Caos é soberbo nessa primeira parte em preto-e-branco, com um Olávio Terceiro como Dr. Amnésio em estado de graça. Quando fica colorido e entra a segunda parte da comitiva ele cai um pouco, porém sem perder o fascínio. Durante grande parte do filme, sente-se a ausência de Helena Ignez, a grande musa, e mulher, do cineasta e de seu cinema. Mas quando ela aparece de vermelho e de piteira logo a gente reconhece o quanto o cinema sganzerliano e o moderno cinema brasileiro deve à essa deusa - a cena em que é filmada em plongée no pier com um mar de chumbo ao fundo é, por si só, obra de arte. O Signo do Caos coloca em cena mais três beldadades - Djin Sganzerla, a lolita lasciva; Giovanna Gold e Camila Pitanga, ambas líndissimas - mas é Helena que nossos olhos procuram. Tem ainda no elenco outro mito do Cinema Marginal, Guará Rodrigues, em um de seus últimos filmes.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (67)


Lolita Rodrigues.




Salve Salve!

domingo, 25 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (169)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

169 - Esquina da Ilusão (1953), de Ruggero Jacobbi ***

Tem certas atrizes, pelo menos para quem começou a consumir audiovisual na virada da década de 1960 para 70 em diante, que parecem ter sido sempre mulheres maduras. Como Míriam Pires, como Zilka Salaberry, como Carmen Silva. E como Nicette Bruno. Daí que ver Nicette de cabelos longos loiríssimos e em plenos 20 anos é uma das grandes surpresas desse Esquina da Ilusão. Produzido pela Vera Cruz, o filme foi dirigido por Ruggero Jacobbi, italiano nascido em Veneza em 1920 e radicado no Brasil a partir de 1946, onde desenvolve carreira importante no teatro e realiza dois filmes - o primeiro é Presença de Anita (1951) para a Maristela. A trama é sobre imigrantes italianos do Brás que vieram para o Brasil fazer a vida, mas que não deram grandes saltos como outros patrícios que aqui chegaram antes. Luiz Calderaro é Dante Rossi, dono de um botequim que, para impressionar o irmão rico que ficou na Itália, se faz passar por outro Rossi, esse sim um bem-sucedido dono de uma metalúrgica. Quando esse irmão resolve vir ao país, Calderaro pede ajuda aos amigos para que possa enganar o visitante de que ele é realmente o empresário. Entre os que o ajudam está Alberto Ruschel, mostorista do verdadeiro milionário e que se passará por secretário - prática que já vinha fazendo para impressionar Nicette Bruno, a namorada e interesseira atriz que sonha em ter uma companhia de teatro. Mas Ruchel não contava que junto com o italiano viria sua filha, Ilka Soares, por quem vai se apaixonar. Esquina da Ilusão é daqueles filmes edificantes na linha de Frank Capra, só que aqui com sotaque italiano embutido, ainda que todos falem mesmo é o bom e velho português. Há uma certa ingenuidade, sobretudo na resolução dos conflitos, que quase põe o filme a perder. Mas ainda assim nos interessamos por aqueles personagens que se situam em uma das comunidades de classe-média mais tradicionais de São Paulo. Como é uma produção da Vera Cruz, há um certo glamour mesmo nesse universo de dificuldades dos imigrantes italianos, o que será focalizado por lente completamente diversa e com tintas mais realistas alguns anos depois em O Grande Momento (1958), de Roberto Santos. Ilka Soares e Alberto Ruschel tem química, ainda que o romance dos dois seja mostrado de forma extremamente pudica. Também no elenco, boas presenças de Diná Lisboa, Marina Freire e Adoniran Barbosa - ótimo com um falso cônsul. Destaque para a bela fotografia de Ugo Lombardi, também cineasta - dirigiu o delicioso É Proibido Beijar (1954) - e pai da atriz e roteirista Bruna Lombardi.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo