sábado, 20 de fevereiro de 2010

longas brasileiros em 2010 (41)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

041 - Agnaldo, Perigo à Vista (1969), de Reynaldo Paes de Barros **1/2

Obs.: não consegui foto do filme.

Muito antes da produção alemã, o cineasta matogrossense Reynaldo Paes de Barros já tinha feito seu Corra Lola Corra. E aqui quem passa sebo nas canelas é o cantor e ator Agnaldo Rayol. E como o moço corre! Mas não só a pé, como também de carro, trem, lancha, navio, avião, kart, bicicleta e pratica até automobilismo. O motivo de tanta correria é porque o personagem dele, Agnaldo Reis, um cantor de sucesso para a juventude, foge o filme inteiro de duas turmas: a de um pai nordestino, Milton Ribeiro, que quer fazê-lo casar com a filha grávida; e a de um bando de marginais capitaneados por David Cardoso que quer abocanhar parte dos lucros do astro na marra. Quando Agnaldo corre a pé é impossível não vir um riso involuntário, pois naquela época ele já era gordinho e daí ficamos cafifando como alguns dos capangas sarados, como um belo David de Baby Face, não conseguem botar as mãos nele. Mas esse riso de soslaio não compromete porque o filme é uma aventura e tem ritmo, certamente por causa do talento de Paes de Barros, que também escreveu o roteiro e fotografou. Como o filme é sobre um cantor de sucesso - e Agnaldo Rayol estava em evidência na época - ele flerta com a Jovem Guarda, seja no formato dos programas de auditório, aqui apresentado por Jô Soares, e pelas pontas de luxo de Erasmo Carlos e Wanderléa. Outra ponta especial é de Ronald Golias. Agnaldo, Perigo á Vista é mais um um filme curioso e singular no baú inacreditável e generoso do cinema nacional.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes cineastas (29)


Alberto Cavalcanti.




Patrimônio nacional.

andré novais


Não sou muito conhecedor de filmes em curta-metragem, pois delimitei minhas pesquisas no cinema brasileiro no formato longa, senão ficaria louco e perdido em meio a tanta produção, já que curta por aqui brota que nem coelho da cartola.

Mas ainda assim é claro que, vez ou outra, acabo vendo alguns e gostando muito.

(dois dos meus filmes prediletos são um curta e um média - Ilhas das Flores, de Jorge Furtado,que todo mundo gosta; e Socorro Nobre, de Walter Salles, que, parece, nem tanta gente assim. Isso sem falar em A Velha A Fiar, de Humberto Mauro, para sempre no meu imaginário)

Pois foi assim em uma sessão de curtas em BH, onde assisti dois filmes da Filmes de Plástico, produtora recém-formada e que reúne três cineastas talentosos, Gabriel Martins, André Novais Oliveira e Maurílio Martins - esse último querido amigo.

Como muita gente na platéia, é lógico que me diverti com Filme de Sábado, de Gabriel Martins, em que um mineiro dá seu jeito de trazer a praia para perto de si. Ainda que conheça pouco o Gabriel, acho o filme a cara dele - afetuoso e seríssimo na construção de sua estética.

Mas naquela noite o que mais me chamou a atenção mesmo foi o curta 150 Miligramas, de André Novais Oliveira.

Interessei-me por completo por aquela história de um adolescente que faz visitas ao psiquiatra, pouco fala com a mãe, conta seu sonho para o médico, solta balão no rio Arrudas, e acha um pouco o seu lugar na menina que gosta de ficar abraçada aos outros pacientes que esperam na sala de atendimento.

Além da história em si, que é boa e bem contada, achei que era um filme de um cineasta talentoso, e que até então não conhecia - e continuo não conhecendo, só já sei quem é.

Quando o menino solta o balão amarelo nas águas barrosas do Arrudas - rio poluído que cruza o centro da cidade de Belo Horizonte e que está no imaginário de quem vive na cidade e cercanias - mesmo depois que ele sai de cena e a bexiga segue seu curso, a gente vai junto e fica um pouco mais íntimo daquele garoto na frente da câmera e um pouco também do que está por trás.

Sabedouro do meu apreço pelo filme, Novais me presenteou com mais dois curtas seus: Uma Homenagem a Aluízio Netto, e o seu último filme, Fantasmas.

O primeiro, parece-me, ainda é um filme de escola livre de cinema. E ali a idéia é bem mais interessante que o resultado. Ainda que há clichês como imagens refletidas no espelho, vê-se com interesse ao filme, mesmo que ao final nem fique tanto dele. Dessa história de amor contada em dois tempos: um na linguagem dos discursos românticos prontos; e o outro também na cartilha dos discursos, só que dessa vez nas palavras de ordem comunistas.

E eis que se chega ao último, Fantasmas, exibido recentemente com sucesso na Mostra de Tiradentes.

Fantasmas é um filme do qual a gente gosta assim que a câmera é ligada. Com aquele muro que suja e cerceia um pouco a imagem, como saberemos também o quanto está cerceado e sujo o coração daquele que sofre de abandono.

Como em Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, de Karim Aiñouz e Marcelo Gomes, os personagens de Fantasmas também nunca são vistos. Mas como no filme da dupla, aqui também não temos uma simples narração, mas uma vivência que nos trás para aquela realidade, não de frente para o crime, mas para um posto de gasolina.

E em como Morro do Céu, de Gustavo Spolidoro, os jovens de Fantasmas também exalam estetosterona. E falam de futebol e das miudezas de camaradagem - ou brodagem, como se prefere hoje.

Mas se a câmera permanece parada e vez ou outra tentamos perseguir os letreiros do ônibus, o coração de quem olha, na câmera, bate forte à espera de um milagre.

Mesmo que esse milagre seja ver de novo e em zoom a dor que invade esse mesmo coração, e da qual nos é impossível ficar imunes do lado de cá.

Mais que uma promessa, a Filmes de Plástico já mostrou a que veio.
E o jovem cineasta também.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

serie deusas (106)


Virna Lisi.





Nu!!!

longas brasileiros em 2010 (40)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

040 - Rio, Verão & Amor (1966), de Watson Macedo ***

O Brasil já estava sob o duro jugo da ditadura militar, mas o Rio de Janeiro de Rio, Verão & Amor ainda tinha o glamour que hoje de certa forma ainda se sustenta, só que de ordem diversa, pois nostálgica, muito mais no incosciente coletivo e também no imaginário de cada brasileiro. A cidade maravilhosa de Macedo é das praias ensolaradas, das paqueras, das meninas de corpão violão e dos conversíveis. É tambem a arena onde se disputam os amantes da Bossa Nova e do iê-iê-iê, em um verdadeiro Fla x Flu. E é na praia que se encontram personagens deliciosos como Paulo e Gabriela, ele falso rico e ela podre de rica; o bonitão salva-vidas Pedro e sua namorada virgem Margarida; e também a maluquete Lolita e o rei do iê-iê-iê Maurício. A trama se sustenta nos mal entendidos entre o primeiro e o segundo casal, assistidos e avacalhados pelo terceiro. E tem ainda um empresário que quer se aposentar, dois candidatos de olho na sua vaga na presidência e uma francesa birutinha e triste. O filme custa a pegar no tranco, pois de início há uma forçação de barra na leveza a la Turma da Praia de Frank Avalon e Annette Funicello - ainda que seduza com números musicais como o de Lílian, a do Leno, cantando docemente na praia. Mas é quando se dá uma festa em um pensionato onde os homens se vestem de mulher para burlarem a vigilância da opressora dirigente que o filme pega ritmo e pega a audiência - e Augusto César Vanucci vestido de pantera é inacreditavelmente divertido. Outro destaque é a presença da belíssima Elizabeth Gásper como a francesa Monica, com um quê de uma Brigitte Bardot de Vida Privada, de Louis Malle, mas contaminada pelos ares do arpoador. Último filme do genial Watsom Macedo, Rio, Verão & Amor é sessão da tarde solar.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

longas brasileiros em 2010 (39)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

039 - Paraíba, Vida e Morte de Um Bandido (1966), de Victor Lima *****

O gênero policial no cinema brasileiro é um capítulo à parte (e a querida Andrea Ormond do blog Estranho Encontro já escreveu deliciosa introdução sobre o tema). Filmes como Assalto ao Trem Pagador (1962), de Roberto Farias, Mineirinho Vivo ou Morto (1967), de Aurélio Teixeira, O Marginal (1974), de Carlos Manga, Barra Pesada (1977), de Reginaldo Faria, Ódio (1977), de Carlo Mossy, e Eu Matei Lúcio Flávio (1979), de Antonio Calmon já valeriam uma cinematografia inteira. Como também é o caso desse Paraíba, Vida e Morte de Um Bandido. A produção é protagonizada por Jece Valadão, que nasceu para esse tipo de filme, pois é difícil encontrar outra persona no cinema nacional que incorpore tão organicamente cafajestagem sedutora e perigosa. É daqueles bandidos que a gente tem medo, mas fantasia perversões consentidas e secretas. Na trama, Paraíba se refugia ferido em uma igreja e a partir daí relembra sua vida: mortes, golpes, mulheres, traições. Temido por todos, o roteiro e a interpretação de Jece são nota 10, pois mostram, claramente, o gozo que ele tem em matar. E isso, que poderia nos causar aqueles julgamentos de praxe, "ah, é mais um psicopata", esvazia-se por completo, já que há uma sutileza o tempo todo que faz com que fiquemos incomodados com algo que certamente escorre pelos subterrãneos. Um fimaço do veterano Victor Lima, que já começa bem com uma arma pós-tiros que não se congela e fica ali em tempo real apontanda para nós. E ainda tem duas deusas em inicio de carreira: uma desglamourizada Rossana Ghessa, e a já fatal Darlene Glória.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (46)


Chica Xavier.




Salve Salve!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

longas brasileiros em 2010 (38)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

038 - O Ibraim do Subúrbio (1976)

episódio Roy, O Gargalhador Profissional, de Astolfo Araújo **1/2
episódio O Ibraim do Subúrbio, de Cecil Thiré *****

São muitos os exemplares de filmes em episódios no cinema brasileiro, sobretudo nos anos 1970. Por esse formato já passaram alguns dos nossos mais notáveis cineastas, como Roberto Santos, Joaquim Pedro de Andrade, Luiz Sérgio Person e Carlos Reichenbach. E, quase sempre, os episódios de um mesmo longa podem ter resultados muito desiguais. Não é totalmene o caso desse O Ibraim do Subúrbio, que focaliza personagens que sacolejam no velho e bom trem da central do Brasil. Pois ainda que Roy, O Gargalhador Oficial seja bem aquém do segundo e que dá título ao filme, há nele uma inquietação que interessa sempre. Roy é um morto de fome que encara os mais diferentes bicos para sustentar a família, quase sempre alimentada de ovos roubados do vizinho. Até que arruma um trabalho como gargalhador em um programa de auditório. É como se o neo-realismo italiano tivesse sido filtrado pela lente dos programas do Chacrinha, e a ácida crítica até se perde no resultado final, mas ainda assim garante boas cenas, sobretudo por causa dos talentos de seu elenco - Paulo Hesse, Wilson Grey, Suzana Faini, Lourdes Mayer, Sérgio Hingst, Fregolente, e uma Bia Lessa divertida e novinha novinha. Mas a cereja do bolo está mesmo no episódio O Ibraim do Subúrbio, protagonizado por José Lewgoy, que várias vezes disse ser esse um dos seus personagens prediletos no cinema. Ibraim é do subúrbio, mas tem veneração pelo Ibraim da zona sul, o Sued, e faz de conta que sua vida ordinária se desenrola no grand monde dos salões. Ele é alfaiate e seu nome é Casimiro de Abreu - adora dizer que é contra-parente do escritor - mas é chamado de Ibraim do Subúrbio pelos vizinhos pela sua mania de grandeza. Lewgoy, ótimo ator sempre, está realmente iluminado com sua fleuma incorruptível, ainda que tenha que limpar os sapatos das poças das ruas que insistem, em vão, chafurdá-lo. E ele tem ainda como sustentação também um ótimo elenco, com as presenças marcantes, como esposa e filha, de Eloisa Mafalda - atriz, infelizmente, pouco aproveitada no cinema; e Lucélia Santos - em inicinho de carreira, mas já com o talento arrebatador. Prêmio de Melhor Ator mais que merecido para Lewgoy no Festival de Gramado de 1977.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes comediantes (21)


Arnaud Rodrigues.




Deuses do riso





Ao lado de Chico Anysio em foto da dupla Baiano e os novos Caetanos

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

longas brasileiros em 2010 (37)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

037 - O Vale dos Amantes (1982), de Tony Rabatoni *1/2

O Vale dos Amantes parece ser, em princípio, um filme que dará voz à libertação dos desejos da mulher: a ex-stripper e agora dona de casa insatisfeita sexualmente; as duas jovens amiguinhas que roçam no matinho e juram amor eterno; e a empregada que transa com o namorado peão, mas pensa mesmo é no engenheiro bonitão. Só que isso não impede que em menos de 10 minutos de filme três delas já tenham tirado a roupa. Na trama, um engenheiro de São Paulo - Deny Cavalcanti, é contratado por um fazendeiro - Sérgio Hingst, para mapear o terreno onde ele quer construir uma paragem para turistas. Só que ele acaba se envolvendo com a mulher do patrão - Rita Cadillac, que de vestido amarelo lhe recebe à porta de casa, mas com olhar de quem queria mesmo é já estar no quarto. Só que lá pelas tantas esse affair entre o moço e a dona desaparece, e a bela Rita vai junto, já que a história se volta totalmente para o relacionamento das meninas em episódio de crime e punição. O Vale dos Amantes quer se levar a sério o tempo todo e ainda banhado em música grandiloquente, mas é quando abre a guarda que seus momentos de encanto vêm à tona. Como na ótima cena de flashback circular, em que Rita Cadillac vai de uma festa de forró na roça direto para um inferninho paulista onde faz stripper (ao som de Billy Paul?). O curioso é que ela começa a pensar no forró, a história gira para a cena da boate, e ao final ela está na boate pensando novamente e a trama volta para a roça. Essa cena vale quase o filme todo, que ainda se ressente de um final precipitado, como se tivessem cortado passagens ou os rolos tivessem acabado antes do término das filmagens.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

serie deusas (105)


Gina Lollobrigida.




Nu!!!

longas brasileiros em 2010 (36)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

036 - Mulher Desejada (1978), de Alfredo Sternheim ****

A filmografia de Alfredo Sternheim é curiosa. E interessa sempre. De um lado tem filmes de uma linhagem mais realista como Violência na Carne e Brisas do Amor; de outro, tem tramas que se embebedam em devaneios e transfigurações de um real menos ordinário, como em Herança dos Devassos e esse Mulher Desejada. Herança lembra o cinema de Walter Hugo Khouri, mas Mulher Desejada tem também, em alguns momentos, aquela ambiência do mestre - sobretudo na forma como a câmera ama suas atrizes. Aqui, é a vez da bela Kate Hansen, também Khouriana, que no filme é uma atriz em crise com o desejo e o amor: leva seus homens para a cama porque os deseja; quer amá-los, mas não consegue. Até que conhece o filho da caseira de uma casa de campo de uma amiga. Sternheim conduz com mão firme o enredo, e o olho da gente não deixa de percorrer os passos da atriz no filme e da atriz que a interpreta. No elenco, ele se valeu de parceiros como Elisabeth Hartmann e Ivete Bonfá - e tem ainda a bela Marlene França e uma ótima atuação de Eduardo Tornaghi - que parece ter nascido para o papel. Kate Hansen é daquelas atrizes que parecem estar sempre no fio da navalha e por isso sugere um diretor de mão firme para que também sua beleza estonteante não ofusque os personagens que interpreta. Em Mulher Desejada ela, mais uma vez, está linda. E o melhor, consegue segurar o papel difícil de ser desejada não só pelos homens e mulheres da tela, mas também pelos que estão do lado de cá.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

da dor


Sempre quis viver essa frase, que dá nome a um disco do mineiro Marco Antonio Araújo, e também a uma peça de teatro.

Quando a sorte te solta um cisne na noite.

Só que aos 46 anos já devia saber que se ela solta esse cisne na noite, com certeza de manhã ela o recolhe.

E ele não volta mais.

E aí, o coração parece sangrar.
De tanta dor.
Pois é difícil acostumar com o transitório.

Deve ser desses cisnes que as músicas de Roberto e Erasmo se alimentam para vir à tona e fazer eco tão doído no peito da gente.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

longas brasileiros em 2010 (35)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

035 - Cordão de Ouro (1977), de Antonio Carlos Fontoura **

Esse Cordão de Ouro tem algumas características do lendário Besouro, como a capoeira, a exploração dos escravos, o universo do candomblé e da umbanda. Só que aqui a saga é de Jorge, um escravo que se revolta e foge na ficcticia Eldorado, encontra seu orixá Ogum no paraíso Aruanda - que lhe fecha o corpo com o cordão - e se torna um defensor de sua raça. Em Cordão de Ouro, guardada as devidas proporções, Fontoura faz o que o inglês Derek Jarman faz em seus filmes, em que o moderno invade a cena do arcaico. Só que nos filmes de Jarman esses elementos realmente invadem a cena, como a nobreza usando máquinas de escrever ou Annie Lennoux cantando Cole Porter em Eduardo II (1991). Já em Cordão, eles convivem como se fossem partes de uma mesma moeda. Mas é aí que a porca torce o rabo. Pois no universo do filme, os escravos trabalham em uma mina de selênio e são vigiados por jagunços que se vestem de amarelo no melhor estilo dos capangas da Mulher-Gato do seriado; estes são também capitães do mato que perseguem os fugitivos em helicópteros e em jipes; e ainda tem uma Zezé Motta - em bela aparição - como Dandara, que nos faz imaginar, imediatamente, que Xica da Silva tomou banho de butique e trocou o tratador de Walmor Chagas pelo Pedro Cem de Joffre Soares. Cordão de Ouro é prova de que o cinema brasileiro, principalmente o da década de 70, sabia se reinventar, o que desperta sempre o interesse. Só que esse mesmo interesse sucumbe diante a incapacidade de Fontoura, um notável cineasta, em levar à cabo, ou pelo menos deixar um pouco mais claro suas reais intenções. Afinal, como aventura falta ao filme um certo tique tique nervoso; como demonstrativo da cultura negra falta um certo aquietamento, pois é tênue o limite entre o real e o exótico - um exemplo são as vestes brancas - uma praga também em filmes sobre presos - que paracem ser lavadas em Omo a cada cena; e por fim como a história de um mito, já que terminamos sem saber muito bem o que foi contado sobre esse homem.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (45)


Tônia Carrero.




Salve Salve!