sexta-feira, 11 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (136)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

136 - Rua 6, S/N (2003), de João Batista de Andrade **1/2

Decifra-me ou te devoro, já dizia zombeteiramente perigosa a esfinge. E se o enigma toma roupagem de cinema, aí terá que se valer de sorrateiras imagens concatenadas para que o fascínio da descoberta não fique pelo caminho. Sim, porque ainda que tramas que tomam esse rumo podem enlouquecer geral durante a trajetória - e o cinema de David Lynch está aí para nos deixar esquecer disso - há de se ter uma lógica interna em meio ao caos para que o trem não descarrile de vez. Em Rua 6, S/N, o veterano cineasta mineiro João Batista Andrade se insinua por esse caminho, ainda que em registro aparentemente realista. Para quem foi alfabetizado pelo cinema em película o digital costuma fazer incômodo na hora da imersão - ainda mais o do início da década como é o caso desse filme, e mesmo com fotografia de Carlos Ebert - mas esse registro em câmera digital até que acaba contribuindo para estética pretendida. Isso porque Marco Ricca, o protagonista da trama, em suas andanças pela periferia brava do Distrito Federal vai encontrar não atores, na linha gente como a gente, que serão incorporados ao filme. Rua 6, S/N conta a história de Ricca, um homem que prefere ficar desempregado a encarar um computador, nova tecnologia que chega para ficar, e abandonar sua velha Olivetti. Além disso, acalanta a idéia de se tornar poeta e escritor. Certo dia presencia um crime praticado por um menino de rua siderado de cola, mas antes de Umberto Magnani, a vítima, morrer, este faz um último pedido para Ricca: entregar um maço de dinheiro para uma mulher, mas bate as botas sem pronunciar o endereço completo. A partir daí Ricca vai abandonar cada vez mais o asfalto de Brasília para percorrer regiões de terra vermelha e de homens de revóver na cintura nas cidades-satélites a procura da destinatária da bolada. Nesse caminho angustiante, envolve-se com Gracindo Jr, um político corrupto e seus capangas traficantes, enfrenta desentendimentos em casa com Luciana Braga, sua esposa grávida, e vê-se continuamente atormentado pela imagem de Christine Fernandes, possivelmente uma mulher de seu passado. Em filmes com tramas como a desse Rua 6, S/N o clima instalado é fundamental para que embarquemos de fato na atmosfera. E é aí que a porca torce o rabo, pois como João Batista Andrade - que assina também o argumento e o roteiro - escolheu o registro realista, alguns procedimentos da história, como o protagonista presenciar involuntariamente dois crimes logo no início, já nos faz duvidar e muito de tantas coincidências. Marco Rica tem perfil adequado para o desempregado Solano, com seu jeito anti-galã e o ótimo ator de sempre. Mas é dos poucos do elenco que se ajusta bem na roupa do personagem - Luciana Braga e Christine Fernandes já não são tão felizes nisso. Há uma certa e bem-vinda ousadia nesse Rua 6, S/N, de João Batista de Andrade. Mas para quem já nos deu petardos como Gamal, O Delírio do Sexo (1969), Doramundo (1978), e O Homem que Virou Suco (1980), a gente acaba esperando sempre mais.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quinta-feira, 10 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (135)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

135 - Quincas Berro D`Água (2010), de Sérgio Machado *****

Quincas Berro D`água confirma todo o talento que o cineasta Sérgio Machado mostrou no belo documentário Onde a Terra Acaba (2001) e em seu primeiro longa-metragem de ficção, o impactante “Cidade Baixa” (2005). Adaptado do romance A Morte e a Morte de Quincas Berro D`Água, de Jorge Amado, o filme conta a história de Paulo José, um funcionário público que certo dia abandona tudo, família e trabalho, e vira o rei dos boêmios, dos vagabundos, das prostitutas e dos marinheiros. Exatamente no dia de seu aniversário ele morre, mas seus amigos - Irandhir Santos, Frank Menezes, Luis Miranda e Flávio Bauraqui - nem querem saber, daí roubam seu corpo do caixão para uma última noitada nas ruas de Salvador e para o derradeiro encontro com Marieta Severo, a prostituta espanhola Manoela e grande amor da vida de Quincas. Enquanto aprontam todas, eles são perseguidos por Mariana Ximenes, filha do morto, Vladimir Brichta, genro, e Milton Gonçalves, delegado. Nesse Quincas Berro D`Água não há espaço para a cosmética da fome: os boêmios, vagabundos, prostitutas e marinheiros têm cara de boêmios, vagabundos, prostitutas e marinheiros. E como o cenário é a Bahia vista pelas portas dos fundos, não há também lugar para a faixada para turistas do Pelourinho nem tampouco para outros cartões-postais amados e manjados da cidade. A hora e vez é dos puteiros fétidos, dos quartos ensebados, dos botequins tira-faca e de cheiro de camarão podre do cais do porto. E é exatamente em meio a esse caos alegre, ainda que doído, que pulsa a vida e o tom libertário que Quincas escolheu para viver, e que o filme acarinha o tempo todo com profundo respeito e olhar amoroso para uma verdadeira fauna urbana e marginal – e contou para isso com elenco dos deuses, como um Irandhir Santos que é feito vinho, só fica melhor e melhor com o tempo. Assim como em Cidade Baixa, Sérgio Machado escolheu mais uma vez personagens marginalizados e os trouxe para o centro da cena. Ainda que os registros sejam diferentes, vê-se tanta humanidade assim em desvalidos que normalmente são tratados como nada na vida real só mesmo em filmes de alguns diretores de alta cepa, como no cinema essencial de Hector Babenco. Em cada riso desbragado desses fanfarrões que Machado buscou na literatura do GRANDE Jorge Amado vê-se a pontada funda de desamparo e desalento, mas ainda assim há alegria genuína e verdadeira. Quincas Berro D`Água é, antes de tudo, uma comédia de primeira, e ao mesmo tempo em que faz rir é também celebração. Aqui a morte é só uma desculpa para celebrar a vida.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (128)


Rosel Zech.





Nu!!!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (134)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

134 - Alegria de Viver (1958), de Watson Macedo ***

A Atlântida revelou e abrigou cineastas geniais, como Victor Lima, Jorge Ileli, Eurídes Ramos e Carlos Manga. E entre essa turma da pesada está, com certeza, o GRANDE Watson Macedo. Diretor de clássicos como Este Mundo É Um Pandeiro (1946) e Aviso aos Navegantes (1950), Watson Macedo construiu uma assinatura toda própria, que sempre foi sinônimo de entretenimento inteligente, em mais de duas dezenas de filmes. Atento ao seu tempo, foi dos primeiros - ou o primeiro? - a trazer o rock para as telas do cinema nacional. Daí, se na era de ouro das chanchadas da Atlântida o espaço estava garantido para os Reis e Rainhas do Rádio, Macedo vai abrir espaço para o rock nascente no país nesse Alegria de Viver, e depois já consolidado nos anos 60 em Rio, Verão e Amor (1966). E em Alegria de Viver ele não renega a Era do Rádio, pois há presença de Ivon Cury e do Trio Iraquitã, mas abraça o rock com as presenças endiabradas de Augusto César Vanucci - que quase repete o mesmo personagem em Rio, Verão e Amor - e de um dos precursores do gênero, Sérgio Murilo - aqui como ator. Essa dualidade está presente também nos dois clubes que são palcos para a trama e para as brigas entre as turmas, o de dança de salão comandado por John Herbert, e o de rock eletrizado por Vanucci. No filme, Herbert é um funcionário exemplar e dedicado, e seu patrão, amigo do pai dele que já morreu, sonha com o casamento dele com sua única filha, Eliana Macedo. Só que, de pirraça, nenhum dos dois querem se conhecer, sem saber que vão se conhecer com outras identidades e se apaixonarem. Começam aí as confusões e os desencontros do par amoroso, sempre às voltas com o bagunceiro Vanucci, a espivetada Yoná Magalhães, a capirira Anabella, e o abusado Sérgio Murilo. Outra semelhança com Rio, Verão e Amor é a presença de Yoná Magalhães como a faladeira espivetada Silvia - lá, o papel coube à Celi Ribeiro. Estreia em longas de Yoná aos 23 anos, e que na década seguinte faria a obra-prima Deus e o Diabo na Terra do Sol (1962), de Glauber Rocha, sua deliciosa personagem é um dos destaques do filme. Eliana Macedo, sobrinha de Watson, é, mais uma vez, a estrela. E também mais uma vez mostra toda a sua versatilidade atuando, cantando, dançando e brigando. Em número em que Eliana imita Carmen Miranda cantando à carater Disseram que Voltei Americanizada é como se Watson debochasse sutilmente dos conservadores de plantão e já avisando que misturaria chiclete com banana, pois esse Alegria de Viver coloca lado a lado Baião do Negrinho, de Airton Ramalho, com Eliana e Trio Irakitã, e Rock For Lili, de Carlos Imperial e Alberto de Castro, como o sacolejante Vanucci. Diversão garantida.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (60)


Tamara Taxman.




Salve Salve!

terça-feira, 8 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (133)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

133 - Paula, A História de uma Subversiva ( (1979), de Francisco Ramalho Jr ***

Paula, A História de uma Subversiva é filme que cresce em revisão. Projeto pessoal do cineasta e produtor Francisco Ramalho Jr, que durante a ditadura militar foi preso duas vezes, foi também um de seus poucos filmes com história original, já que tem carreira de diretor marcada em grande parte por adaptações literárias: Anuska - Manequim e Mulher (1968 - Ignácio de Loyola Brandão; À Flor da Pele (1976/77) - Consuelo de Castro; O Cortiço (1978) - Aluísio de Azevedo; Besame Mucho (1997) - Mário Prata; Canta Maria (2006) - Francisco J. C. Dantas. E é uma ótima história orginal, com argumento e roteiro dele. Walter Marins é um arquiteto que tem a filha desaparecida. Marlene França, sua ex-mulher, recebe a visita da polícia e quem aparece para solucionar o caso é Armando Bógus, um antigo torturador de Marins. O reencontro inesperado faz o arquiteto relembrar os anos de chumbo e sua paixão por Carina Cooper, Paula, aluna do seu tempo de professor e líder estudantil que ingressa na luta armada. Fracasso em seu lançamento na época e pouco visto depois, pois foi poucas vezes exibido, o filme tem um grande mérito não muito comum em filmes com o mesmo tema: os militantes falam e conversam, não fazem discurso como se bebessem água. Outro destaque é a coragem na escalação do elenco. Walter Marins e Carina Cooper fizeram filmes de cineastas importantes como Carlos Reichenbach, Roberto Santos e João Batista de Andrade, mas não são, até hoje, nomes muito conhecidos pelo público. E tem também a talentosa Regina Braga, que estreava no cinema e é até hoje pouquíssima, e inexplicavelmente, presente nas telas. Armando Bógus, ator presente na carreira do cineasta - pequena participação em Anuska - Manequim e Mulher, e protagonista em O Cortiço - faz bem o personagem Oliveira, que gosta de relembrar o passado de torturador praticando interrogatórios sangrentos agora como policial do setor de entorpecentes. Paula, A História de uma Subversiva é filme importante realizado na própria época da ditadura, mas liberado para exibição só em 1981 com o abrandamento da censura. É também registro de uma época, com personagens que falam gírias datadas - Regina Braga fala pô entre uma frase e outra - e que se degladiam entre os sonhos libertários dos anos 1960 e a dura realidade castradora dos 70 em que vivem e no que se transformaram. Esse dilema está muito bem colocado nas frustrações de Walter Marins, ex-professor do curso de arquitetura da USP que escrevia artigos no jornal do Partido Comunista detonando a arquitetura mercantilista, e que agora vive de concursos públicos do governo para manter seu escritório; e também no de Regina Braga, que se sente inútil e fútil com a carreira de fotógrafa de modelos. Paula, A história de uma Subversiva fala sobre os sonhos de uma geração e o cerceamento e morte de grande parte deles pelo processo histórico.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

segunda-feira, 7 de junho de 2010

crianças











Depois de duas semanas de muito trabalho e andação pelas cidades do interior de Minas Gerais - período em que fiquei, inclusive, um tanto distante do Insensatez, resolvi botar as manguinhas de fora.

Daí, nada como sacolejar em pleno domingo ao lado de amigos queridos e dessa deusa aí.

Salve eternamente Maravilha Elke!

Nu!!!

domingo, 6 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (132)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

132 - Os Trapalhões na Terra dos Monstros (1989), de Flávio Migliaccio **1/2

Os filmes dos Trapalhões foram, com certeza, portas de entrada para muita gente no cinema nacional. Fenônemo que se assemelha, mas de origem completamente diversa pelo conteúdo e por ser na TV, foi o cinema erótico nas noites de Sala Especial e de Cine Privê da Bandeirantes, Manchete e CNT - essas noites apimentadas também formaram muito público para o cinema brasileiro. Nas décadas de 1970 e 80 Os Trapalhões reinaram nas telas, muitas vezes com dois filmes por ano e sempre com bilheteria arrasadora - são das maiores na história do cinema brasileiro e liquidaram muitos arrasa-quarteirões estrangeiros. Realmente era um quarteto dos deuses, pois todos adoráveis: Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Na música Jeito de Corpo do disco Outra Palavras, o mano Caetano acertou em cheio com os versos singelos Eu sou Renato Aragão, santo trapalhão, eu sou Mussum, sou Dedé, Sou Zacarias carinho, pássaro no ninho, tal qual me vê na TV. E era assim mesmo que o grande público amava o quarteto na televisão e corria para vê-los na telona. E se desde a carreira solo de Renato Aragão no cinema como no belo Bonga, O Vagabundo (1971), de Victor Lima, até cults com os quatro como Os Saltimbancos Trapalhões (1981), de J.B. Tanko, a diversão estava garantida, do final dos anos 80 até os dias de hoje os filmes foram caindo em qualidade. Mesmo porque Zacarias morreu em 1990, e Mussum em 1994, lacunas terríveis na formação perfeita. Esse Os Trapalhões na Terra dos Monstros, de 1989, prenuncia essa fase de transição. E até mesmo o elenco já se diferencia enormemente dos primeiros filmes, pois se sempre houve espaço para ótimos galãs de quase segundo escalão da TV, como Mário Cardoso e Paulo Ramos, e deusas e ótimas atrizes como Monique Lafond e Louise Cardoso, os filmes do final dos anos 80 para diante vão abrir cada vez mais espaço para o mundo de cores da TV e da música. Daí, em Os Trapalhões na Terra dos Monstros temos Angélica, Conrado, Gugu Liberato, Dominó, além da modelo Vanessa de Oliveira. No filme, Angélica é filha de um magnata da indústria do papel, o GRANDE Benjamin Cattan, e que participa do quadro Sonho Maluco do Programa do Gugu na TV. Seu sonho? fazer um videoclip com a banda Dominó na Pedra da Gávea, Rio de Janeiro, a fim de chamar atenção para a questão da preservação ambiental. E é para lá que ela vai com Conrado para esperar a banda, mas se perde nas cavernas da Pedra. Dedé, Mussum e Zacarias, empregados do pai da moça, capitaneados por Didi, ex-motorista da casa, partem em busca dos desaparecidos. Mas lá na Pedra da Gávea vão descobrir um mundo perdido habitado por fenícios e monstros do bem e do mal. Os Trapalhões na Terra dos Monstros tem bons momentos, seja pela química sempre perfeita do quarteto, ou ainda pela presença dos divertidos monstrinhos do bem Grunks, além de um grandalhão que adora dormir. Mas é quase que despedida de um fascinante e adorável reinado.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (127)


Linda Lovelace.




Nu!!!