Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
135 - Quincas Berro D`Água (2010), de Sérgio Machado *****
Quincas Berro D`água confirma todo o talento que o cineasta Sérgio Machado mostrou no belo documentário Onde a Terra Acaba (2001) e em seu primeiro longa-metragem de ficção, o impactante “Cidade Baixa” (2005). Adaptado do romance A Morte e a Morte de Quincas Berro D`Água, de Jorge Amado, o filme conta a história de Paulo José, um funcionário público que certo dia abandona tudo, família e trabalho, e vira o rei dos boêmios, dos vagabundos, das prostitutas e dos marinheiros. Exatamente no dia de seu aniversário ele morre, mas seus amigos - Irandhir Santos, Frank Menezes, Luis Miranda e Flávio Bauraqui - nem querem saber, daí roubam seu corpo do caixão para uma última noitada nas ruas de Salvador e para o derradeiro encontro com Marieta Severo, a prostituta espanhola Manoela e grande amor da vida de Quincas. Enquanto aprontam todas, eles são perseguidos por Mariana Ximenes, filha do morto, Vladimir Brichta, genro, e Milton Gonçalves, delegado. Nesse Quincas Berro D`Água não há espaço para a cosmética da fome: os boêmios, vagabundos, prostitutas e marinheiros têm cara de boêmios, vagabundos, prostitutas e marinheiros. E como o cenário é a Bahia vista pelas portas dos fundos, não há também lugar para a faixada para turistas do Pelourinho nem tampouco para outros cartões-postais amados e manjados da cidade. A hora e vez é dos puteiros fétidos, dos quartos ensebados, dos botequins tira-faca e de cheiro de camarão podre do cais do porto. E é exatamente em meio a esse caos alegre, ainda que doído, que pulsa a vida e o tom libertário que Quincas escolheu para viver, e que o filme acarinha o tempo todo com profundo respeito e olhar amoroso para uma verdadeira fauna urbana e marginal – e contou para isso com elenco dos deuses, como um Irandhir Santos que é feito vinho, só fica melhor e melhor com o tempo. Assim como em Cidade Baixa, Sérgio Machado escolheu mais uma vez personagens marginalizados e os trouxe para o centro da cena. Ainda que os registros sejam diferentes, vê-se tanta humanidade assim em desvalidos que normalmente são tratados como nada na vida real só mesmo em filmes de alguns diretores de alta cepa, como no cinema essencial de Hector Babenco. Em cada riso desbragado desses fanfarrões que Machado buscou na literatura do GRANDE Jorge Amado vê-se a pontada funda de desamparo e desalento, mas ainda assim há alegria genuína e verdadeira. Quincas Berro D`Água é, antes de tudo, uma comédia de primeira, e ao mesmo tempo em que faz rir é também celebração. Aqui a morte é só uma desculpa para celebrar a vida.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
(em 2009 - 315 filmes)
135 - Quincas Berro D`Água (2010), de Sérgio Machado *****
Quincas Berro D`água confirma todo o talento que o cineasta Sérgio Machado mostrou no belo documentário Onde a Terra Acaba (2001) e em seu primeiro longa-metragem de ficção, o impactante “Cidade Baixa” (2005). Adaptado do romance A Morte e a Morte de Quincas Berro D`Água, de Jorge Amado, o filme conta a história de Paulo José, um funcionário público que certo dia abandona tudo, família e trabalho, e vira o rei dos boêmios, dos vagabundos, das prostitutas e dos marinheiros. Exatamente no dia de seu aniversário ele morre, mas seus amigos - Irandhir Santos, Frank Menezes, Luis Miranda e Flávio Bauraqui - nem querem saber, daí roubam seu corpo do caixão para uma última noitada nas ruas de Salvador e para o derradeiro encontro com Marieta Severo, a prostituta espanhola Manoela e grande amor da vida de Quincas. Enquanto aprontam todas, eles são perseguidos por Mariana Ximenes, filha do morto, Vladimir Brichta, genro, e Milton Gonçalves, delegado. Nesse Quincas Berro D`Água não há espaço para a cosmética da fome: os boêmios, vagabundos, prostitutas e marinheiros têm cara de boêmios, vagabundos, prostitutas e marinheiros. E como o cenário é a Bahia vista pelas portas dos fundos, não há também lugar para a faixada para turistas do Pelourinho nem tampouco para outros cartões-postais amados e manjados da cidade. A hora e vez é dos puteiros fétidos, dos quartos ensebados, dos botequins tira-faca e de cheiro de camarão podre do cais do porto. E é exatamente em meio a esse caos alegre, ainda que doído, que pulsa a vida e o tom libertário que Quincas escolheu para viver, e que o filme acarinha o tempo todo com profundo respeito e olhar amoroso para uma verdadeira fauna urbana e marginal – e contou para isso com elenco dos deuses, como um Irandhir Santos que é feito vinho, só fica melhor e melhor com o tempo. Assim como em Cidade Baixa, Sérgio Machado escolheu mais uma vez personagens marginalizados e os trouxe para o centro da cena. Ainda que os registros sejam diferentes, vê-se tanta humanidade assim em desvalidos que normalmente são tratados como nada na vida real só mesmo em filmes de alguns diretores de alta cepa, como no cinema essencial de Hector Babenco. Em cada riso desbragado desses fanfarrões que Machado buscou na literatura do GRANDE Jorge Amado vê-se a pontada funda de desamparo e desalento, mas ainda assim há alegria genuína e verdadeira. Quincas Berro D`Água é, antes de tudo, uma comédia de primeira, e ao mesmo tempo em que faz rir é também celebração. Aqui a morte é só uma desculpa para celebrar a vida.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
Fiquei mais animado agora para assistir a esse filme depois que lí sua crítica. Sabe como é né: Essas coisas novas andam dão sem qualidade que dá até "medo" (risos)!
ResponderExcluirAlexandre,
ResponderExcluirEu adorei o Quincas Berro D´água.
Achei um filmaço.
Vale muito a pena ver.
Um abraço