sábado, 23 de abril de 2011

longas brasileiros em 2011 (017)



Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2011 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
(em 2010 - 289 filmes)

017 - A Herança dos Devassos (1979) de Alfredo Sternheim - co-direção de César Cabral ****

A Herança do Devassos (1979) foi uma produção conturbada na carreira de Alfredo Sternheim. Co-produção Brasil/Argentina, o filme foi dirigido por César Cabral e Sternheim, sendo que os dois se desentenderam durante as filmagens. Confusões à parte, A Herança dos Devassos é filme belíssimo, com todo um clima doentio de perversão, incesto e sombras que circundam uma família disfuncional. Mais de uma vez Alfredo Sternheim já disse que Walter Hugo Khouri, com quem trabalhou em A Ilha (1961/63) e Noite Vazia (1964), foi sua verdadeira escola. Mas sempre faz questão de dizer também que seu cinema é bem diferente do mestre. Com certeza porque é mesmo, e também por causa de uma certa parte de uma crítica implicante, que o denominava um sub-Khouri no início da carreira. Só que nesse caso aqui é impossível não se lembrar do mestre, seja por causa da presença de Sandra Bréa e Roberto Maya, dupla dos inesquecíveis O Prisioneiro do Sexo (1979) e Convite ao Prazer (1980), seja pela forma como filma suas atrizes, Bréa e Elisabeth Hartmann, em imagens belíssimas – a direção de fotografia e a camera é do craque Antonio Meliande. A Herança dos Devassos tem como tema central a degradação de uma família aristocrática. Quando a matriarca morre, o casal de filhos, uma tia, e o mordomo recebem a visita da viúva de um primo, que vem para o velório e para a abertura do testamento. Inadvertidamente, essa prima Délia, interpretada por Sandra Bréa, envolve-se amorosamente com Rogério, vivido por Roberto Maya, um dos filhos da falecida. Esse fato despertará a ira de Laura, interpretada por Elisabeth Hartmann, que mantém uma relação quase incestuosa com o irmão. Délia acaba por descobrir os segredos e os fantasmas que rondam aquela família e aquela casa, e quando resolve ir embora se vê presa em uma teia que poder lhe custar a própria vida. O elenco, que conta ainda com Francisco Cúrcio, Claudette Joubert, Ricardo Dias, Mara Prado e Edward Freund, está sensacional. Mas é realmente no trio protagonista em perfeita sintonia, que esse A Herança dos Devassos encontra seu ponto alto.


Comentários estendidos na Revista Zingu!

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*** bom
**** muito bom
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longas brasileiros em 2011 (016)



Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2011 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
(em 2010 - 289 filmes)

016- Corpos Quentes (1987), de Alfredo Sternheim ****

Corpos Quentes é dos filmes prediletos de Alfredo Sternheim da sua fase explícita. Não há como discordar do cineasta, pois Corpos Quentes é mesmo um baita filme. A trama começa com um assédio de um garotão por uma mulher em um bar que poderia ser como outros tantos que acontecem nas noitadas. Só que depois da transa, enquanto ela dorme, ele tenta surrupiar sua grana. Ela acorda, nega a pagar o michê, mas é agredida e obrigada por ele a abrir o cofre da casa e entregar-lhe seu dinheiro e jóias. Mal sabia ele com quem estava mexendo. Ela pega o revólver, atira uma balaço nele e o enterra no bosque que margeia sua casa. Essa poderia ser também mais uma daquelas histórias de sexo com final trágico, mas daí ficamos sabendo que a moça já tinha um possível assassinato nas costas, pois fora suspeita de assassinar o próprio marido. E quando o namorado de sua empregada e a própria descobrem o corpo enterrado, e o ambicioso rapaz resolve chantageá-la, eles acabam também por encontrar o mesmo destino das covas no quintal – ainda que mortos acidentalmente. Com tantos sumiços, entram em cena o amigo e a namorada da primeira vítima, e também o irmãos gêmeo da segunda, um padre, que farão de tudo para descobrir o que aconteceu naquela casa. Corpos Quentes tem ótimo roteiro, com personagens muito bem construídos. O filme conta ainda com interpretação arrebatadora de Ludimila Batalov. Atriz de recursos dramáticos e sem pudor em protagonizar as cenas de sexo explícito, Batalov é o ponto altíssimo desse penúltimo filme de Alfredo Sternheim. Durante toda a trama sua personagem é assaltada por pesadelos, todas claro repletas de sexo – é engraçadíssimo ver fantasmas de pau duro e fudendo a valer – , o que exige da atriz ser convincente não só na cama mas também na interpretação. Corpos Quentes é prova de que filme de sexo explícito não precisa ser sinônimo de bagaceira, e aqui Alfredo Sternheim realizou um ótimo exemplar do gênero.

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longas brasileiros em 2011 (015)



Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2011 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
(em 2010 - 289 filmes)



015 - Orgasmo Louco (1987), de Alfredo Sternheim **1/2

Orgasmo Louco é título da fase final dos filmes explícitos de Alfredo Sternheim, e também de sua carreira até agora, já que, infelizmente, a partir de 1988, não dirigiu mais. Aqui, a trama tem como protagonista um homem, o ator Ronaldo Amaral, diferente de outros filmes em que muitas vezes coube a mulher ser o centro da cena. Ronaldo Amaral é João, que começa a história saindo da prisão e sendo recebido com afeto pelo irmão. Daí ficamos sabendo aos poucos que o motivo de ter sido trancafiado está ligado ao assassinato da esposa, interpretada por Ludmila Batalov. Aconselhado pelo irmão a esquecer os fantasmas do passado, os dois saem à noite e vão para uma boate, onde João fica fascinado pela stripper – interpretada pela musa Sandra Midori. Os dois iniciam um romance, ainda que João faça de tudo para afastá-la de sua cama, pois não consegue levar o sexo até o final. Contrariando o irmão, João leva a nova pretendente para a casa de praia onde viveu com a esposa. Lá, conta a história de sua vida para ela, e, mais uma vez, se vê de cara com a possibilidade de repetir seu destino. Em Orgasmo Louco, Alfredo Sternheim aproveita a conduta sexual irrefreável da vítima para desfilar mais cenas de sexo explícito, sacrificando mais o roteiro. O filme mantém o interesse, mas não está no mesmo patamar de outros como Sexo Doido (1986) e Corpos Quentes (1987). Em depoimento para o Dicionário de Filmes Brasileiros – Longa Metragem, de Antonio Leão da Silva Neto, Sternheim assinalou o clima noir do filme e ressaltou o trabalho de Sandra Midori: “Mais levado para o filme noir, gosto do resultado e da atuação de Sandra Midori, talvez a melhor que ela fez em meus filmes”. No entanto, é importante também ressaltar a ótima atuação de Ludmila Batalov, que iria brilhar no filme seguinte do cineasta, Corpos Quentes ((1987).

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sexta-feira, 22 de abril de 2011

longas brasileiros em 2011 (014)



Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2011 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
(em 2010 - 289 filmes)

014 - Sexo Doido (1986), de Alfredo Sternheim ***

A grande diferença entre Alfredo Sternheim e muitos outros realizadores de filmes explícitos é que os dele têm histórias. E alguns poderiam ter sido perfeitamente títulos de produção comercial, a não ser pelas tais cenas de rala e rola, tamanho o cuidado na confecção do roteiro – sem, claro, muitas vezes apela para frases picantes, chulas, divertidas e de duplo sentido: “largue esse telefone e venha falar no meu”. Como é o caso desse Sexo Doido, realizado em 1986 e protagonizado por Sandra Morelli e Fernando Sábato. Sternheim rodou 13 filmes explícitos, sendo Sexo Doido um dos últimos. Ou seja, mesmo trafegando em gênero que dava muito dinheiro, mas nenhuma respeitabilidade – e muitos ataques e desprezo pela crítica -, o cineasta não abriu mão de contar boas histórias e de, ele mesmo, continuar assinando seus roteiros, como sempre fez. Isso sem falar no fato de que também assinava o próprio nome nessas produções, algo incomum na época – seu produtor, Juan Bajon, da Galápalos Produções Cinematográficas, foi outro que também assumiu sua identidade verdadeira nessa fase. Em Sexo Doido, Sandra Morelli é Jô, uma jovem milionária filha de deputado imbuída de vontades feministas e que fica saturada em ser apenas mais um objeto para o desejo masculino. Logo no início da trama ela dá um esporro no namorado que a deixa esperando em encontro marcado, avisa que as coisas vão mudar dali para a frente, vai embora e o deixa plantado no local. Jô entra em um cinema pornô onde está sendo exibido um filme com temática rural, com direito a trepada de cavalos. Rechaça o espertinho que senta ao seu lado cheio de intenções e fica vidrada quando aparece na tela Fernando Sábato, o astro da fita. Jô fica completamente obcecada pelo belo e faz de tudo para conhecê-lo. É aí que arquiteta uma armadilha para o ator e acaba seqüestrando-o em sua casa de praia, onde o prende nu na cama e faz dele seu objeto sexual. Sexo Doido se vale de alguns diálogos discursivos de teor feminista um tanto carregados, e não abre mão de colocar em cena uma bichinha divertida e uma mulher devoradora e libidinosa – ela, interpretada pela musa Márcia Ferro. Mas é mesmo no carisma de Sandra Morelli e no poder da trama que o filme se sustenta. Há de se notar que o tal feminismo da protagonista acaba sendo uma cilada para ela mesmo, pois depois de fazer do moço seu objeto, ela cairá em seus braços apaixonada, enquanto ele está apenas de olho na sua fortuna. Ou seja, o roteiro pisca para a libertação da mulher, mas acaba reservando para ela o papel de vítima eterna. Há de se aplaudir a coragem do cineasta em acrescentar cena de sexo explícito homossexual masculina, de forma alguma apelativa, algo incomum nas produções da época. Em sua biografia na Coleção Aplauso, Alfredo Sternheim elenca Sexo Doido como um de seus filmes preferidos dessa fase e assinala o absurdo de alguns considerarem o filme uma cópia invertida de Ata-me, do espanhol Pedro Almodovar. Está certíssimo. A afirmativa é mesmo absurda, pois Almodovar dirigiu seu filme em 1990, já Alfredo realizou o seu cinco anos antes.


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