sábado, 25 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (223)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

223 - Gugu, O Bom de Cama (1980), de Mário Benvenutti ***

O paulista Mário Benevenutti podia dar vida tanto aos personagens densos de Walter Hugo Khouri, como em Noite Vazia (1964) e As Deusas (1972), encarnar o drama classudo de Alfredo Sternheim Anjo Loiro (1973), como também emprestar sua vivacidade para comédias eróticas como Macho e Fêmea (1973), de Ody Fraga. Fez mais de 50 filmes, mas poderia ter feito mais se não tivesse morrido em acidente de carro em 1993, aos 67 anos, junto com sua esposa. Produzido por Cassiano Esteves -e outros parceiros - produtor importantíssimo da Boca do Lixo para filmes de cineastas como Raffaele Rossi, Geraldo Vietri e Jean Garret, Benvenutti foi para trás das câmeras uma única vez com esse Gugu, O Bom de Cama. E para o elenco reuniu um time de veteranos da comédia - Agildo Ribeiro, Consuelo Leandro, Nair Bello e Marcos Plonka, mais Marlene Silva, Rogéria e Luiz Pimentel, além de fazer uma ponta a la Quanto mais Quente Melhor (1959), de Billy Wilder. Na trama, Agildo Ribeiro é Gugu, o filho da modista Consuelo Leandro, que trabalha no ateliê com ela, tem mãos de fada, e lava, passa, borda e cozinha. Ele tem vários posters de homens pregados na parede do quarto e discos de Carmen Miranda, mas a mãe não quer morrer sem antes ter a garantia de que ele se casou e encheu a casa de netos. Certo dia aparece Marlene Silva, que bate á porta para preencher vaga de assistente, gama e estupra Gugu, com quem tem um filho. Porém, achando que a vida ainda tem muito para lhe dar, ele abandona o lar em São Paulo e vai dar pinta no Rio de Janeiro, onde vira estilista famoso, sem saber que o filho Luiz Pimentel está refazendo seus passos. De início, Gugu, o Bom de Cama parece ser só mais um daqueles filmes a fazer graça sobre viados pintosos, cheios de caras e bocas, trejeitos e frescuras. E é isso mesmo. Só que vai muito além por um simples motivo: conta com o talento gigantesco de Agildo Ribeiro. Estereótipos e personificações caricatas estão por aí aos montes em tantos filmes, peças de teatro e nos Zorra Total da vida. Mas há uma diferença enorme quando por baixo da construção de estereótipos e tipos caricatos tem talentos inquestionáveis como o de Agildo, um dos comediantes mais subestimados do país. Ele rouba a cena, seja quando diz que aprendeu em um filme mineiro que todo machão molha a ponta do lápis na boca, quando quer convencer o filho de que é espada; ou quando pede para a mãe comprar o último número da revista de halterofilismo Músculos em Profusão - e tudo dito com lábios cerrados e cara hilariante. Além de fazer dobradinha ótima com Luiz Pimentel, o filho Régis, uma moçoila espalhafatosa. Gugu, O Bom de Cama aposta no retrato manjado de que homossexual é quase uma mulher, como diria a saudosa Vera Verão - e é bom lembrar sempre que homossexuais são e podem ser tudo: bombados, discretos, bonecas, bichinhas e bichonas. E no final das contas é filme que não se leva a sério, diverte e sem nenhuma contra-indicação - a não ser no título, mas uma vez, divertidamente enganoso.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (222)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

222 - Cara a Cara (1968), de Julio Bressane ****

Em 2007, Ilana Feldman e Cléber Eduardo lançaram o curta Almas Passantes - um percurso com João do Rio e Charles Baudelaire. Além de ficcionar um encontro entre o escritor e o poeta na cidade maravilhosa, eles colocaram Helena Ignez como uma passante no centro no Rio de Janeiro. Nada mais adequado, pois basta uma olhada para a forma como a atriz caminha para que o encanto se faça. Como acontece com Jeane Moreau em Ascensor para o Cadafalso (1957), de Louis Malle, e em A Noite (1961), de Michelangelo Antonioni, quando Helena Ignez flana em seus filmes, a gente vai imediata e cegamente atrás. E flanar é o que ela mais faz nesse Cara a Cara, estreia em longas de Julio Bressane - que antes da explosão do Cinema Marginal e do rompimento, andava com a turma do Cinema Novo e tem, inclusive, a Difilm deles na distribuição de seu primeiro rebento. Cara a Cara é daqueles filmes em que aparentemente nada de muito relevante está acontecendo. Paulo Gracindo e seus comparsas conspiram e fazem politicagem; Antero Oliveira bate ponto no serviço público e vigia Helena Ignez atrás das arvores; e Helena anda para cá e para lá em pose de dondoca moderninha. Só que quando o filme explode virulento, e ao som de Maria Bethãnia, um atordoamento se instala com tal intensidade, que fica-se estático frente a natureza violentamente exposta. Bressane - que também assina o argumento e o roteiro - cria cenas esteticamente impactantes, como as reuniões dos políticos na laje em meio às espinhas de antenas de TV; o personagem de Antero de Oliveira quase sempre mostrado em plongé a lhe achatar em meio aos arquivos poeirentos, gavetas intermináveis e corredores labirinticos; Helena Ignez na aula de balé empestiando de solidão os movimentos sincronizados das alunas. Subvertendo o universo de Kafka, o personagem de Antero - que faz trabalho sem rosto e lava os pés da mãe doente - faz ecoar seu grito, ainda que, ilusoriamente, a quebra das amarras o prenderá ainda mais ao seu destino anunciado. Premiado no Festival de Brasilia - Menção Honrosa para Bressane e Melhor Fotografia para Afonso Beato - Cara a Cara é estréia cheia de promessas de um cineasta que se confirmaria um dos grandes da nossa cinematografia. Destaque também para a estreia do ator João Paulo Adour aos 23 aninhos e no auge da beleza.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (80)


Yara Lins.





Salve Salve!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (221)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

221 - O Porão das Condenadas (1979) de Francisco Cavalcanti ***

Olho por olho, dente por dente. E na seaara cinematográfica brasileira ninguém parece saber melhor sobre isso que o cineasta e ator Francisco Cavalcanti. Realizador de mais de 20 filmes, Cavalcanti é nome de talento no gênero policial, em que protagoniza tramas interessantes e imbuídas da famosa e polêmica justiça pelas próprias mãos. Foi assim em Horas Fatais - Cabeças Trocadas, que dirigiu em 1986, e nesse O Porão das Condenadas, lançado no final da década anterior. Se em Horas Fatais ele vingava a morte da esposa e da cunhada, estupradas e assassinadas, em O Porão a vez é a do pai. Na trama, ele - ainda garoto - e seu pai são metralhados por seis irmãos assassinos, que não aceitam o fato da irmã ter fugido e se casado com um pobretão. Só que o menino sobrevive, cresce, vira Francisco Cavalcanti, e é preparado pelo tio Ruy Leal para ir à desforra. No meio do caminho, Sônia Garcia, noiva do rapaz, se junta aos dois na missão sangrenta. O grande achado desse O Porão das Condenadas está no roteiro engenhoso de Madalena Silva, que marca presença também em outros filmes do cineasta. Pois a história poderia ser mais uma daquelas de cão e gato armados até o pescoço, se ela não colocasse no meio do caminho 17 vítimas inocentes que poderão ser mortas por causa do herói. Isso porque Cavalcanti rouba mala cheia de dinheiro dos bandidos em plena viagem de ônibus e a culpa acaba caindo sobre os outros passageiros. Daí enquanto acompanhamos as táticas do trio para matar o sexteto, ficamos também roendo as unhas pelo destino daquelas pessoas. E tem um dado engraçado. Como se sabe, na produção do cinema popular das décadas de 1970 e 80 os nomes dos filmes contavam muito, sendo que vários deles nem tinham a ver com o entrecho. Aqui, os tais 17 inocentes realmente vão parar em um porão, onde são, inclusive, acorrentados. Só que não há apenas moças entre o grupo, mas também homens de diferentes idades. Portanto, o título correiro seria O Porão dos Condenados - ainda que sejam elas mesmo que pagam o maior preço, sendo estupradas e mostrando os peitos quase o tempo todo. Aliás, o cartaz é bem sintomático dessas intenções para atrair o público. Felizmente, cinema policial ainda é um gênero visitado pela produção atual, ainda que menos do que merece. Agora, que esses novos realizadores deveriam conhecer esses títulos que já foram feitos, ah isso deviam. Com certeza, poupariam a torra de dinheiro, quase sempre público, e também a nossa paciência com tantos rebentos frouxos e pseudomodernos.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (220)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

220 - Pára, Pedro! (1969), de Pereira Dias **

Muito antes das FMs da vida nos enfiarem goela abaixo música segmentada, como MPB, rock ou mesmo evangélica, ou ainda, vez ou outra, atolarem em série o pé na jaca em um gênero só, como axé, pagode ou funk, havia uma diversificação muito maior em uma mesmo rádio. E isso era um reflexo fiel da música brasileira, que sempre foi múltipla e era produzida e difundida lado a lado em suas diferentes ramagens. Daí que na década de 1960 havia samba, Bossa Nova, música de protesto, Tropicália, iê-iê-iê, música popular, e tudo ao mesmo tempo agora. E é por isso que se ouvia em 1967, ao mesmo tempo agora, Chico Buarque cantando Roda Viva, Caetano Veloso cantando Alegria Alegria, Roberto Carlos cantando Como É Grande Meu Amor Por Você, Nelson Gonçalves cantando A Volta do Boêmio. E é por isso também que músicas populares como Pára, Pedro, gravada naquele ano em compacto simples, fez do gaúcho José Mendes - parceiro de José Portella Delavy na canção - sucesso nacional e internacional, com passagem direta para o imaginário brasileiro . Para quem foi criança nessa época, era impossível não cantarolar o refrão "Pára Pedro, Pedro Pára". Foi com essa música que o ídolo, falecido precocemente em acidente de carro aos quase 35 anos e no auge da fama, foi parar no cinema, e fazer do filme homônimo a primeira produção colorida do Rio Grande do Sul e uma das maiores bilheterias do cinema gaúcho. Afinal, também naquela época, tínhamos um cinema genuinamente popular. Foram três filmes originados de sucessos de José Mendes, todos eles dirigidos por Pereira Dias - que depois vai dirigir cinco produções para outro ídolo das massas, Teixeirinha. A trama de Pára, Pedro! é ralíssima: em uma festa, Pedro dá um soco no secretário de um candidato a deputado porque entende que o homem havia difamado sua namorada, dizendo que ela estava de cacho com o político. Como a vítima caiu e bateu a cabeça em uma pedra, todos pensam que Pedro o matou e o aconselham a fugir. Inconformada com o sumiço do seu amor, Rosário contrata um bando para caçar o fugitivo, que pensa que ela realmente está com o novo pretendente e que foi ele e o coronel da região que estão à sua procura. Ainda que a história seja primária e o elenco idem - há muitos não-atores locais sem cancha para a câmera - há, talvez por isso mesmo, um tom de ingenuidade tão verdadeiramente impresso em cada fotograma que nos faz acompanhar com interesse o mostrado - muito do mérito é também de Pereira Dias, que fará o mesmo com os filmes de Teixeirinha. Como em outros títulos que focalizam a cultura gaúcha, aqui há também muito chimarrão, churrasco e danças tipicas como o fandango. Mas há um registro que parece tão sincero daquele povo, daquela região e daquela época, que o filme se sustenta em sua duração de quase uma hora e meia.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (148)


Danielle Darrieux.






Nu!!!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (219)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

219 - Não se Pode Viver Sem Amor (2010), de Jorge Durán ***1/2

Durante um bom tempo fica-se assistindo a esse Não se Pode Viver Sem Amor meio sem saber o que está se vendo, ou que diabos o cineasta Jorge Durán está querendo com ele. E mesmo a direção um tanto capenga nesse início só faz reforçar a impressão. Mas aí a trama vai rolando e quando a gente assusta já está dentro daquele universo um tanto estranho, mas sedutor pelos personagens tão estranhos quanto. É como se todos tivessem paralisado suas vidas em um transe, ou melhor, como se todos se movimentassem dentro desse transe, e cabe a quem está do lado de cá tentar vislumbrar ou colocar alguma ordem naquilo tudo. Tem um pouco a ver com certas epifanias que vivenciamos ao longo da vida, como em determinados momentos do mais puro caos em que somos sacudidos por uma força externa e que nos revela a face do outro lado da dor. O universo dos pequenos milagres. Simone Spoladore saí do interior com o garoto Victor Navega Motta e parte para o Rio de Janeiro para que ele possa conhecer o pai que o abandonou. Enquanto buscam o desaparecido, eles cruzam o caminho de Angelo Antonio, professor universitário em crise no casamento com Maria Ribeiro e às voltas com os dilemas do pai taxista Rogério Fróes; e também com Cauã Reymond e Fabiúla Nascimento, ele um jovem advogado desempregado que espera resultado de concurso, mas parte para vida de crime a fim de se ajeitar com ela, uma dançarina de boate. Tem ainda Babu Santana, como um vendedor de cachorro quente, que tenta refazer sua vida. Toda a trama se passa no dia de Natal, com acontecimentos fantásticos deflagrados pela faceta sensitiva do garoto. O roteiro de Dani Patarra e de Durán tem algumas lacunas que dão interesse nebuloso à história, mas ao mesmo tempo se mostra um tanto frouxo em algumas sequências, provavelmente não por ele, mas pelo tom claudicante adotado pela direção. O ator-mirim Victor Navega Motta empresta a veracidade fundamental para que embarquemos na proposta do filme - ainda no elenco, é impressionante como Fabíula Nascimento consegue se metarfosear para cada personagem que representa. Não se Pode Viver Sem Amor provoca na retina um espelhamento terno de compreensão para aquele estado de perdição, angústia e desencanto em que os personagens se encontram, como se fosse pedido a nós a redenção para todos eles. Caberá a platéia atender ou não a esse chamado. Prêmios no Festival de Gramado: Atriz - Simone Spoladore; Roteiro Dani Patarra e Jorge Durán; Fotografia - Luís Abramo.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (218)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

218 - Enquanto a Noite não Chega (2010), de Beto Souza ***

Assistir filme adaptado de livro é quase sempre experiência de pé atrás. E quando o livro é de cabeceira aí então é que o fígado chia. Enquanto a Noite não Chega é encantadora novela que o escritor e jornalista Josué Guimarães (1921 - 1986) publicou em 1978. Ali, em pouco mais de 100 páginas, decortina-se uma pequena jóia sobre a morte em tom de lirismo e poesia que faz fundo doído, mas sempre amoroso, na alma. A história de um casal de velhinhos que vive numa cidade abandonada e que só tem como companhia um coveiro que, com duas sepulturas abertas, espera os dois morrerem para cumprir sua missão, é ponto alto da literatura gaúcha e nacional. Sonho antigo da veterana atriz Carmen Silva de interpretar dona Conceição, a esposa de Dom Eleutério que vive, como o marido, de relembrar os mortos, quem acabou interpretando a personagem foi Clenia Teixeira - filha do ótimo novelista Teixeira Filho; Ídolo de Pano (1974/1975), Ciranda de Pedra (1981). A atriz dá conta do recado, como também seu parceiro Miguel Ramos. Enquanto a Noite não Chega, o filme, tem problemas? Tem. Como a música excessiva e também as imagens de lembranças repetidas. Ainda assim, os dois senões têm atenuantes. No primeiro caso, Beto Souza poderia ter tirado a música de várias cenas, o que contribuiria para o tom evocativo do filme. Mas ainda que ela sobre em muitos fotogramas, o estrago só não é irreversível porque a trilha de Totonho Villeroy - parceiro habitual de Ana Carolina - e que conta com presença luxuosa de Lokua Kanza, do Congo, é muito bonita. Villeroy, inclusive, nasceu em São Gabriel, região em que parte do filme foi rodado - as locações foram Bagé, Lavras do Sul e Suspiro, zona rural de São Gabriel, em Porto Alegre. Já quanto a reincidência das imagens - sobretudo do filho morto na Revolução de 30, André Arteche -, ela também só não incomoda fatalmente porque quando pensamos sobre a história vem fácil o lastro real de que tragédias pessoais, ainda mais no caso dos velhos que perderam o filho aos 20 anos, costumam não sair mesmo da memória. Agora, de tudo no filme o que impacta mais é a bela e diferente fotografia de Renato Falcão, que cria toda uma ambiência para que mergulhemos naquela realidade de névoas de sentimentos, dores e nostalgia. Enquanto a Noite não Chega foi exibido no último Festival de Gramado, só que não levou nenhum prêmio para casa. Mas é filme interessante e que volta a chamar atenção para Beto Souza, depois do controverso O Cerro do Jarau (2005).

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (79)


Vida Alves.




Salve Salve!




p.s.: uma homenagem também aos 60 anos da televisão brasileira, com atriz que protagonizou o primeiro beijo em novela.

domingo, 19 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (217)

Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

217 - A Morte Comanda o Cangaço (1960), de Carlos Coimbra ***

Como se sabe, em 1960 Nelson Pereira dos Santos foi para o nordeste filmar Vidas Secas (1963), só que choveu tanto que ele escreveu outro roteiro às pressas e dirigiu Mandacaru Vermelho no lugar daquele que viria ser sua obra-prima três anos depois. O mesmo aconteceu com Carlos Coimbra com esse A Morte Comanda o Cangaço. Diferente de Lima Barreto, que rodou o clássico O Cangaceiro (1952) no interior de São Paulo, Coimbra quis dirigir seus filme em locações reais no Ceará. E foi lá no Quixadá que rodou grande parte dele até que, inesperadamente, a tal chuva despencou na região, e a alternativa foi terminar a produção também no interior de São Paulo, ainda que em locações diversas da de Barreto. Primeiro filme de cangaço em cores e com fotografia excepcional e premiada de Tony Rabatoni, a fita foi idéia da atriz Aurora Duarte, que a produziu junto com o marido e faz a protagonista feminina. Na trama, Alberto Ruschel é um vaqueiro que vive com sua mãe Maria Augusta Costa Leite, até o dia em que o temível cangaceiro Milton Ribeiro manda um emissário cobrar grana preta em troca de proteção, e vejam só, contra eles mesmos. Cansada de ser explorada, Maria Augusta nega a propina e desafia o bando do terrível capitão, que se vinga botando fogo no rancho, decapitando a pobre mulher e fincando sua cabeça em um pau. Com isso, Ruschel jura vingança, monta bando de outros vaqueiros, vai atrás dos assassinos, e no caminho se envolve com Aurora Duarte, mulher prometida para o capitão. Quarto filme de Carlos Coimbra e o primeiro a explorar o filão aberto com O Cangaceiro, de Lima Barreto, A Morte Comanda o Cangaço tem direção sóbria e elegante do cineasta - o diretor ainda realizaria nessa seara Lampião, o Rei do Cangaço (1962), além de Cangaceiros de Lampião (1966), e Corisco, o Diabo Loiro (1969). A Morte Comanda o Cangaço - que reúne novamente a dupla do primeiro, Ruschel e Ribeiro - fez grande público no país inteiro e foi muito premiado - Prêmio , Saci, Governador do Estado de São Paulo, Cidade de São Paulo, Associação Brasileira de Cronistas Cinematográficos, Cinelândia, Jornal Diário Carioca - seja para filme, roteiro, fotografia, Ator, Atriz, Cenografia, Atriz Secundária (Lyris Castelani). Lyris, por sinal, como Maria dos Anjos - menção à Maria Bonita até na música - é bela e forte presença no elenco. Coimbra faria mais sucesso ainda com o filme imediatamente seguinte, Lampião, o Rei do Cangaço, produzido pelo experiente Oswaldo Massaini, que cresceu o olho com acerto para o tanto que o novo gênero poderia render, e selando aí uma parceiria importante entre produtor e diretor em muito outros títulos - dentre eles, o bacana e controvertido Independência ou Morte (1972).

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo