sexta-feira, 30 de julho de 2010

longas brasileiros em 2010 (174)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

174 - Noite (1984), de Gilberto Loureiro **1/2

Um dos escritores mais populares do país, o gaúcho Érico Veríssimo é dono de obra literária monumental e que sempre seduziu as gentes do audiovisual - seus livros viraram novelas e filmes, sendo a minissérie O Tempo e o Vento (1985), de Doc Comparato, a adaptação mais aclamada. Se Olhai os Lírios do Campo (1938) é seu livro mais popular, e a trilogia O Tempo e o Vento o de maior prestígio, a novela Noite, publicada em 1954, também teve seu lastro - foi traduzida na Noruega, na França, nos Estados Unidos e na Inglaterra. E foi também levada ao cinema nesse que é o único longa dirigido por Gilberto Loureiro, nome presente em vários longas, seja como diretor assistente, roteirista, diretor de arte, montador e produtor. Gaúcho como Veríssimo, Loureiro escolheu essa trama em que acompanhamos Eduardo Tornaghi vagando pela noite de Porto Alegre em aparente crise de amnésia ou mesmo como fugitivo de um bárbaro assassinato. Já no início se questiona com o famoso bordão existencial "Quem sou eu?". E ainda que uma cigana tente se aproximar para talvez elucidar o enigma prefere sempre quebrar todos os espelhos que reflitam sua imagem, em chave psicanalítica que remete à infância de banhos por três tias carpideiras e sob os berros do pai preocupado com o futuro macho do filho. Aliás, é esse link com a psicanálise que irá pontuar e permear todas as suas andanças e seus encontros com seres que mais parecem do outro mundo - Paulo Cesar Peréio, Guará Rodrigues, Cristina Aché e Aldine Muller. Sexo-tortura e recriação da pietá com prostituta são apenas algumas dessas imersões do personagem, que se quando criança assustou o pai com uma possível fragilidade boiola, pode também ter atiçado o desejo das tias carolas, já que de adulto, e como Tornaghi, o pau exposto cresce generoso entre as pernas. É mérito do filme mostrar não apenas a nudez das mulheres mas também a dos homens, algo quase impensável, levando-se em conta as exceções de um Belmonte, Carlão, Karim ou Cláudio Assis, no cinema bem-comportado por demais desses nossos dias de retomada sem fim. O filme tem fotografia envolvente de Antonio Penido, premiada em Gramado, e não muito fácil já que todas as cenas são noturnas e muito delas em externas. Noite é filme que poderia render mais, mas não deixa de ter certo fascínio, e que teve lançamento relâmpago nos anos 1980, ficando depois disso um tanto esquecido na poeira do tempo.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

2 comentários:

  1. Antes de mais nada, gostei do seu texto. Outra coisa: eu devia ter lido mais Érico Veríssimo. Só li Um Certo Capitão Rodrigo, Tibicuera e uns contos dele, e todos são excelentes. Gostaria muito de ver esse filme, porque como você bem salientou ficou "tanto tempo esquecido na poeira do tempo". O personagem principal não tem nome, parece ser algo interessante. Acho que é o único filme que a Aldine Müller fez fora de São Paulo. Estou sempre no seu blog meu caro.

    Matheus Trunk
    www.violaosardinhaepao.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. Meu amigo,
    Vale mesmo a pena conhecer esse Noite.
    E fico muito feliz em tê-lo como leitor assíduo do Insensatez.
    Abs

    ResponderExcluir