sexta-feira, 4 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (130)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

130 - O Judeu (1987/96), de Jom Tob Azulay ****

Como quase toda religião, o catolicismo tem áreas de luz e porões da mais profunda treva. Mas como historicamente é a de maior poder, as ações em cada um desses cômodos tanto podem nos fazer transcender como também arrepiar de medo do cóccix até o pescoço - e daí a gente até se arrepende das vestimentas de anjo nas coroações da infância. Como recentemente nos escândalos globais de pedofilia, ou recuando algumas décadas na intransigência contra o uso da camisinha mesmo com a explosão de morte pela Aids varrendo continentes. E o medo vira pavor quando botamos o olho no período assassino da Inquisição, momento histórico tenebroso abordado por esse belo O Judeu, de Jom Tob Azulay. Produção acidentadíssima que começou em 1987 mas só foi concuída em 1996, o filme viu, ainda em curso, morrer seu protagonista Felipe Pinheiro em 1993, e a mãe dele na trama, a GRANDE Dina Sfat em 1989 - além de outros cinco atores conforme registro no Dicionário de Filmes Brasileiros, de Antônio Leão. Ainda vemos no filme dois atores com personagens importantes e que também nos deixariam depois: José Lewgoy e Fábio Junqueira. O filme é sobre o poeta e dramaturgo Antonio José da Silva (1704 - 1736), conhecido como Judeu. Nascido no Rio de Janeiro, como tantas outras famílias de cristãos novos - judeus convertidos ao catolicismo - a sua também foi levada para Lisboa, onde tantas foram julgadas e mortas pela Inquisição. O filme começa com Antonio José ainda criança e sua descoberta do que é ser cristão novo até o enfrentamento com o Santo Ofício, que encarcera e tortura sua família - mãe - Dina Sfat, prima - Fernanda Torres, mulher - Cristina Aché. Felipe Pinheiro, como quase todo cristão novo, já tinha passado pelas torturas da Inquisição, mas é quando Fábio Junqueira denuncia Fernanda Torres, e quando José Lewgoy, o terrível inquisidor-mor do Santo Ofício, resolve disputar força com a monarquia de Portugal, é que o destino do Judeu e de sua família é selado. José Lewgoy ganhou prêmio de Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Brasília em 1995 - também ganhou Melhor Filme e Melhor Direção de Arte para Adrian Cooper - e foi mais que merecido. Sua composição de Dom Nuno da Cunha mete medo na gente sem fazer muito esforço. Revelando sua face tenebrosa sempre nas entrelinhas do que fala, seus embates com José Neto, um Dom Marcos em permanente conflito de consciência no julgamento arbitrário de Antonio José e de sua família, trazem à tona todo o poder tenebroso da Igreja Católica e o esforço sem limites para mantê-lo. O carioca Jom Tob Azulay, que vinha dos musicais Os Doces Bárbaros (1977) e Corações a Mil (1983), fez em O Judeu um filme de registro completamente diverso e um grande momento no cinema nacional. A ficha técnica é um luxo só - Cláudio Kahns - co-produção; Geraldo Carneiro, Millôr Fernandes e Givan Pereira - roteiro; Adrian Cooper - direção de arte; Ruy Guerra - supervisão final.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

2 comentários:

  1. Uma das produções mais problemáticas de nosso cinema, um filme realmente maldito. O que mais surpreende como saiu tão bom!

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  2. Pois é meu amigo, o resultado é muito bom mesmo, depois de tantas complicações.
    Coitado do Azulay, deve ter sofrido muito.
    Um abração

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