sexta-feira, 21 de maio de 2010

filmes brasileiros em 2010 (122)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

122 - Leila Diniz (1987), de Luiz Carlos Lacerda ****

Não deve ter sido muito fácil para Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, ter realizado esse Leila Diniz - e a presença do psicanalista Eduardo Mascarenhas, com quem o diretor e roteirista fez terapia durante anos, na assistência direção deve querer dizer muito sobre isso. Como se sabe, Bigode era muito amigo de Leila, e ela foi a protagonista de seu primeiro longa, Mãos Vazias (1971), uma adaptação de Lúcio Cardoso. E foi como convidada para um Festival na Austrália por esse filme, que ela morreu em uma explosão de avião em viagem antecipada de volta ao Brasil em 1972. Mas por mais que ele e o país inteiro ficaram chocados e choraram a morte de um de seus maiores mitos, Bigode conseguiu trazer para as telas toda a exuberância da atriz. Para isso, contou com a presença fulgurante e de entrega absoluta de Louise Cardoso, em um de seus melhores momento nas telas - outra presença espetacular já mostrara um ano antes em Baixo Gávea (1986), biscoito fino da lavra de Haroldo Marinho Barbosa. Curiosamente, Bigode conta em sua biografia na Coleção Aplauso que a primeira escolha foi a atriz Tássia Camargo, mas que depois de contrato assinado ela não pode fazer pois ficou grávida. Ele a tinha visto no documentário de Ana Maria Magalhães, Já Que Ninguém Me Tira Para Dançar (1987), sobre Leila, em que também estava Louise. Tássia, ótima atriz, provavelmente teria feito um belo trabalho, mas deve ter sido obra dos deuses para oferecer à Louise um de seus personagens mais exuberantes - vários prêmios de Melhor Atriz, Festival de Brasília, Natal, APCA. Leila Diniz focaliza a trajetória da musa desde o nascimento em lar comunista como filha do militante Tony Ramos e sua esposa Marieta Severo, e a relação com Stênio Garcia como partidário amigo da família e de Leila até o fim da vida, até o acidente fatal. Desbocada e liberada, era também romântica e adorava crianças. Política até a raiz do cabelo, pois abalava o coreto em época de ditadura militar por sua postura libertária, mas sem jamais empunhar qualquer bandeira partidária - gostava de dizer que a bandeira amada era a do Salgueiro. Estrela da TV em novela comportada de Glória Magadan, e musa de Nelson Pereira dos Santos em filmes nada comportados em Paraty - Fome de Amor (1968) e Azzylo Muito Louco (1969/71). O filme mostra também sua relação aberta com o sexo e os namoros/casamentos com Carlos Alberto Ricelli como Domingos de Oliveira, Rômulo Arantes como Toquinho, e Antonio Fagundes como Ruy Guerra. Tem ainda a recriação de sua bombástica entrevista para o Pasquim, do trabalho na novela O Sheik de Agadir (1966/67), de Glória Magadan, da exibição do barrigão grávida na praia, da surpreendente relação com Flávio Cavalcante. Na primeira parte, Leila Diniz tem história contada de forma muito fragmentada, afinal são muitos acontecimentos na vida dessa deusa que viveu apenas 27 anos, o que compromete um pouco o filme. Mas depois fica mais calmo na forma de contar sua história e seduz completamente quem está do lado de cá. Leila Diniz é um filme de transição na carreira de Bigode, que conta na Aplauso que antes dele fazia filmes baixo-astral, e que depois dele abraçou o cinema popular - é auto-crítica desmedida, pois dirigiu antes o belo e interessante O Princípio do Prazer (1979). Mas independente de auto-críticas severas, o fato é que com Leila Diniz Bigode fez um filme realmente solar, como solar foi essa mulher que mudou o comportamento de um país, que iria amá-la para sempre e reservar-lhe um lugar especial na sua história e no imaginário brasileiro.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

6 comentários:

  1. Ví a resenha desse filme e me lembrei do livro que indico abaixo! É um dos poucos filmes que trata de personagem homossexual sem ser estereotipado É uma tese de mestrado. Comprei o meu pelo MERCADO LIVRE também. Vale a leitura! Ótimo acabamento, papel de primeira qualidade e texto idem!

    Fica a dica!

    http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-138012572-a-personagem-homossexual-no-cinema-brasileiro-livro-2002-_JM

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  2. Esse livro é muito bom mesmo, Alexandre.
    Eu tenho e é sempre livro de consulta para as minhas pesquisas.
    Fica a dica para quem passa por aqui e ainda não conhece.
    Um abraço e obrigado.

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  3. Prezado Adilson: adoro esse filme do grande Bigode. Creio que é a obra-prima dele. Mas esse "Princípio do Prazer" é um baita filmaço e com um grande elenco. A Louise como você bem falou, é uma atriz extaordinária e uma das maiores musas do cinema brasileiro em todos os tempos. Queria que hoje ela fizesse mais filmes.

    Matheus Trunk
    www.violaosardinhaepao.blogspot.com

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  4. Pek,

    Vi este filme pela primeira vez no Cine Acaiaca. Com este post, fiquei recordando todos os adoráveis cinemas de rua que existiam em BH e que hoje são apenas lembranças.

    Bjs.

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  5. Matheus,
    Também acho que a Louise tem feito menos filmes do que deveria.
    Ela está muito bem em Leila Diniz, mas uma das minhas preferências com ela é o Baixo Gávea, do Haroldo Marinho Barbosa, um dos filmes da minha vida.
    Um abraço

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  6. Noel,
    Nem me fale.
    Frequentava todos e morro de saudades também.
    Com o fechamento dos cinemas de rua, o cinema como um todo morreu um tanto também.
    Bjs

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