domingo, 16 de maio de 2010

longas brasileiros em 2010 (118)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

118 - A Noiva da Noite - Desejo de 7 Homens (1974), de Lenita Perroy ***1/2

Obs.: não consegui imagem do filme. Na foto, Rossana Ghessa.

É impressionante que até a década de 1960 sejam apenas seis diretoras de longas no Brasil, mesmo assim sendo duas italianas, Carla Civelli e Maria Basaglia - Carmen Santos e Gilda de Abreu também não nasceram no país, mas vieram para cá nos primeiros anos; Carmen em Portugal, e Gilda na França, quando seus pais viajavam em férias. Só a partir da década de 70 é que esse panorama começa a mudar, e hoje somamos cerca de quase uma centena de cineastas. Uma das pioneiras dessa virada é exatamente Lenita Perroy, que dirigiu Mestiça, A Escrava Indomável (1973) com Sônia Braga, e esse A Noiva da Noite, com Rossana Ghessa. Uma das maiores polêmicas é a discussão se existe ou não um olhar feminino no cinema, e isso já rendeu ânimos acalorados, fóruns de debates, seminários, e até mesmo mostras e festivais - e sempre é questão abordada no site Mulheres do Cinema Brasileiro. As opiniões sobre o tema são diversas e, muitas vezes, contraditórias. Mas se há um pensamento possível é que se existe olhar feminino ele não é exclusividade da mulher, e o mesmo pode ser dito sobre o olhar masculino. A Noiva da Noite - Desejo de 7 Homens é um faroeste com um viril Francisco Di Franco voltando a uma cidade onde descobriu diamantes, o que causou a cobiça e a apropriação da mina pelo coronel Joffre Soares, a sua prisão e a morte de seu irmão. Disposto a vingança depois de conseguir liberdade condicional de uma pena de dez anos, ele chega ao vilarejo no dia do casamento de Rossana Ghessa, filha do seu inimigo, a sequestra, e a partir daí é perseguido pelo noivo e pelos mesmos campangas do crime de outrora. O filme tem produção, montagem e co-roteiro de Sylvio Renoldi, argumento e co-roteiro de Oswaldo Oliveira, e direção, cenário, figurinos e co-roteiro de Lenita. É, em princípio, um filme de machos, e a ambiência rude e hostil, as bebedeiras, as porradas e as mortes que pontuam a trama de ponta a ponta não nos deixa esquecer disso. Ainda assim, há algumas sutilezas que poderiam dar margem às especulações sobre o tal olhar feminino, como na nudez discreta de Rossana, nos sonhos telúricos de amor entre ela e Di Franco, na concepção cênica do final do casal, e mesmo na estruturação da personagem da protagonista feminina. Agora, independente dessas possíveis leituras, A Noiva da Noite é faroeste de ação e aventura que prende atenção e demonstra segurança da diretora. É um tipico papel para Francisco Di Franco, ator importante do cinema brasileiro e eterno Jerônimo, o Herói do Sertão da TV. Fato curioso é que Di Franco já é Di Franco na primeira parte do filme quando Ghessa é apenas uma garota. Anos depois, quando se reencontram, ele continua o mesmo Di Franco e ela um mulherão, ainda que na vida real os dois tivessem apenas cinco anos de diferença.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

4 comentários:

  1. Meu amigo, Lenita Perroy seria então uma pré-Kathryn Bigelow? hehehe!

    Um abraço.

    ResponderExcluir
  2. Não saberia dizer ao certo, meu amigo, pois não assisti ao Mestiça, a Escrava Indomável.
    Mas pelo que parece, tanto a Mestiça quanto a Lúcia desse A Noiva da Noite são mulheres fortes, o que pode configurar aí um olhar feminino/feminista em meio ao universo masculino
    Um abraço

    ResponderExcluir
  3. O tema é riquíssimo, Adilson. A participação restrita de mulheres no cinema, como diretoras, produtoras, críticas, colocam esta questão do olhar feminino em uma posição de relevo. Como sempre disse, não acho que o sexo da pessoa determine obrigatoriamente o olhar. Khouri, por exemplo, era feminino e masculino, uma totalidade. O que se deve fazer é inserir cada vez mais a presença feminina no cinema, como coisa comum. Talvez quando isto estiver finalmente banalizado, esse debate não faça mais sentido. Beijo, querido.

    ResponderExcluir
  4. Querida Andrea.
    Acho que você deveria escrever mais sobre isso naquela série de artigos que articula para o Estranho Encontro.
    É uma questão que me interessa muito e que sempre procuro trazer para o Mulheres do Cinema Brasileiro e também aqui para o Insensatez.
    Beijo grande

    ResponderExcluir