Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
068 - Na Mira do Assassino (1968), de Mário Latini ****
(em 2009 - 315 filmes)
068 - Na Mira do Assassino (1968), de Mário Latini ****
Assistir filme policial brasileiro é experiência das mais impactantes, pois se há um gênero em que o cinema nacional mais soube falar do país é com certeza esse - pelo menos do país daqueles que quase nunca passam de estatísticas. E essa plebe rude é, quase sempre, formada por mocinhos nem tão mocinhos e bandidos nem tão bandidos, mas todos em caldeirão de alto teor de miserabilidade. E temos aí algo mais brasileiro impossível, em que a geografia excludente por si só é palco tanto para a antropofagia quanto para a autofagia, pois esses Joãos, Marias e Cabos Josés se transformam matando e comendo uns aos outros, e por fim tirando lasca da própria carne, como crônica de morte anunciada e indesviável. Na Mira do Assassino é filme corajoso e também exemplar de uma época de não mais. Corajoso porque sua estética é suja, como é suja a vida em que bandidos e policiais trocam tiros para serem lidos no outro dia em manchetes. Por isso nada de fotografia azulada de ruas e becos fedidos, uma maldição que assola filmes atuais com esse recorte. Ao contrário, muitas das cenas são à noite e os personagens mergulham em sombras, como sombras são muitos deles em suas vidas ordinárias. E é também de um tempo de não mais porque aquela malandragem há muito passou o bastão, e o Toninho de Agildo Ribeiro e o Marcondes de Wilson Grey são mesmo personagens de canção, daqueles que aposentaram a navalha e chacoalham no trem da central. No filme, Agildo - grande ator - é um bandido sitiado pela polícia no ap de um promotor e sua esposa e que ele faz de reféns. Enquanto vê o cerco se fechar à sua volta, ele conta a história de sua vida, e de como um roubo na caixa de esmola da igreja para compar um carrinho para trabalhar na freira e dois copos de groselha para oferecer à amiga magricela, nada mais é que passaporte previamente carimbado para uma trajetória sem volta. E Toninho é apenas um daqueles meninos que comem tomate debaixo das bancas e que a música de Erlon Chaves pranteia, como se fossem Pixotes de ontem, de hoje e de sempre. E além de Agildo e Grey - que faz um escroque como só ele sabia fazer - ainda tem Glauce Rocha, essa atriz estupenda e que traz em si gerações de dor em apenas um olhar. Sua Magricela, aliás, parece embrião para a impactante Norma Suely de Navalha na Carne (1970), obra-prima de Braz Chediak - e que aqui faz assistência de direção.
Obs.: imagem enviada pela querida Andrea Ormond, do blog Estranho Encontro, que, gentilmente, escaneou de capa de VHS. É muito bom saber quando alguém é um pesquisador de verdade, como é Andrea, pois a linha mestra de todo pesquisador sério é contribuir para o acesso às informações. Obrigado, queridona, minha admiração por você e pelo seu trabalho é sem tamanho.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
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* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
Adilson, a idéia é essa mesma. A pesquisa só vale a pena quando a gente pode compartilhá-la. Seu trabalho tb deixa isso muito claro, vai daí o meu carinho por vc. Beijo grande.
ResponderExcluirAndrea, querida.
ResponderExcluirMais uma vez, muito obrigado.
Bjs
Pek,
ResponderExcluirQue bom que há pesquisadores como você, que nos permite saber fatos interessantes do cinema nacional. Mais um filme que não sabia da existência.
Bjs.
Obrigado, Noel.
ResponderExcluirNão me canso de dizer que o cinema brasileiro é mesmo inacreditável, com muitos filmes pedindo para serem descobertos.
Bjs