domingo, 13 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (137)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

137 - Atabaque Nzinga (2006), de Octávio Bezerra ***1/2

É só na batida dos tambores que Taís Araújo - Ana encontra paz. Eu não sei quem eu sou nem quem serei, mas serei - diz repetidamente em frente ao espelho. E é na busca de sua identidade, que Taís vai ser guiada pela GRANDE Lea Garcia - Mãe de Santo e reencontrar a história de todo um povo. Enquanto ajuda Taís a assumir a importância de sua raça, Leá conta para a ela a história de Nzinga, Rainha e guerreira na Angola do Século 17. Essa trajetória vai ser pontuada por belas imagens do povo de Angola, grandes nomes da cultura afro-brasileira e orquestrada pelos sons em transe do mago Naná Vasconcelos. Atabaque Nzinga alia ficção e realidade com Taís Araújo vivendo uma jovem em crise de identidade que, guiada pelos búzios da mãe de santo, percorre as ruas da Bahia e do Rio de Janeiro - onde será acompanhada do GRANDE Paulão - convivendo com pessoas reais e encontrando músicos, grupos de dança e cantores, que vão da Velha Guarda a sambistas, blocos afros, grupos de dança folclórica, percussionistas e irmandades religiosas. Tais Araújo tem uma certa fragilidade natural que cai bem em sua personagem, ainda que nem sempre consegue passar uma entrega de verdade totalmente convicente, como no seu encontro com a GRANDE Carmen Costa. Aliás, a participação de Carmen Costa, grande dama da Era do Rádio, do samba, das marchinhas de carnaval e da canção, é um dos pontos altos do filme. Presente em algumas chanchadas, como Depois eu Conto (1956), de José Carlos Burle e Vou Te Contá (1958), de Alfredo Palácios, aqui é filmada em seu esplendor elegante aos 85/86 anos, interpretando dois de seus maiores sucessos, Quase, de Mirabeau e Jorge Gonçalves, e Obsessão, de Mirabeu e Milton de Oliveira - Carmen Costa morreria pouco tempo depois, aos 87 anos. Outra grande aparição é a de Lia de Itamaracá. E são muitos talentos da cultura afro-brasileira que Taís encontra nos quase 90 minutos de filme entre o Rio e a Bahia, como Paulo Moura, Nestor Capoeira, Mestre Leopoldina, Bloco Ilê Ayê, Banda Didá, Balé da Cultura Negra do Recife, Nelson Sargento. Atabaque Nzinga, que tem roteiro e co-produção da atriz e cineasta Rose Lacreta, música de Naná Vasconcelos - que está em cena - e bela fotografia de Hélio Silva e Guerrinha, é filme importante, pois faz retrato da cultura negra em sua ponte Brasil-África de forma singular e orgânica em seu formato ficcção/documentário. Bastante diferente dos filmes brasileiros realizados nesses anos 2000, Atabaque Nzinga merece ser mais conhecido.


Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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