Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
084 - No Meio da Rua (2005), de Antonio Carlos Fontoura *
(em 2009 - 315 filmes)
084 - No Meio da Rua (2005), de Antonio Carlos Fontoura *
Ah, as boas intenções... O cinema pode investir na contação de história e pode investir na pesquisa de linguagem - e muitas vezes o melhor resultado é quando essas duas frentes se encontram. Agora quando quer passar mensagem, muitas vezes dá-se com os burros n`água. Como esse No Meio da Rua, de Antonio Carlos Fontoura. Aqui, na forma de recados: pais, não se esqueçam que seus filhos são crianças, e ao invés de atolá-los em uma agenda de cursos disso e daquilo e cobrá-los um futuro de campeão, ofereçam amor e amparo; ou, a favela é difícil, tem criminalidade e seus problemas, mas é também legal, tem moradores trabalhadores e bacanas, e oferece geografia pulsante de vida. Bom, tudo isso pode ser verdade e é algo que ninguém presta mesmo muita atenção, tanto os pais psicologizados de hoje em dia quanto aqueles que adoram ver o morro apenas como ninho de violência. Só que transformar isso em bom cinema requer muito mais que cartilha reducionista, pois afinal diz o bom e velho ditado que de boas intenções o inferno está cheio. Esse No Meio da Rua focaliza o encontro entre o menino bem nascido do asfalto, que corre de um lado para o outro entre escola, aula de computação e de tênis, e o menino do morro que faz malabarismo no sinal de trânsito para conseguir um trocado para o sustento da família. O primeiro é cobrado pelos pais, que adoram ter conversas de adulto com o filho e cobrar responsabilidade do pequeno, enquanto este demonstra precoce estado de stress. O segundo tem pais ausentes, assume com as irmãs o núcleo familiar, tem que se virar no trampo do sinal enquanto se desvia do aliciamento do mundo das drogas, mas mantém o brilho no olhar e a cara de criança feliz. Em uma das paradas no sinal, o primeiro fica amigo do segundo, empresta para ele o game que o pai trouxe dos states, mas este é surripiado pelos fogueteiros do tráfico. Daí, os dois novos amiguinhos resolvem esquadrinhar o morro para recuperar o jogo, no melhor estilo amizade sem fronteiras. Antonio Carlos Fontoura tem carreira das mais interessantes dos anos 1960 aos 80 - Copacabana Me Engana (1969), A Rainha Diaba (1974), Espelho de Carne (1984). Mas dos 90 para cá, seus filmes nem fazem sombra a vitalidade da primeira fase. O susto fica maior porque ele continua assinando o roteiro de seus filmes, e daí ficamos imaginando se ele perdeu a mão de vez, pois também como roteirista a qualidade vem ladeira abaixo - ainda mais que nessa seara brilhou também na TV, em séries memoráveis como Ciranda Cirandinha (1978) e Plantão de Polícia (1979/81). Os meninos podem até ser bonitinhos - Guilherme Vieira e Cleslay Delfino - mas o elenco adulto também não ajuda muito, com um Tarcísio Filho cada vez mais parecido com o pai, mas sem sua presença de impacto, e uma Flávia Alessandra ainda sem o domínio do registro do cinema. E algumas soluções do roteiro e da direção para referendarem a tese descrita acima constrangem. Como para mostrar que a favela é legal e não é esse perigo todo, colocam as donas sambando ou funkiando em cada esquina em pleno dia de feira e um patético chefe do tráfico correndo esbaforido atrás dos meninos. Ou como para mostrar que pais precisam acordar para a realidade dos filhos, encenam redenção do olhar sobre o menino visto até então como pivete de rua para convidado de honra para os banhos de piscina no condomínio de luxo. Ok, é uma opção de cinema infantil distante da realidade embusteira dos filmes da Xuxa - por exemplo. Mas o cinema de um diretor como Antonio Carlos Fontoura pode muito mais que isso. Muito mais.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
Pra quem já viu outras coisas que o Fontoura pode fazer este filme e aquele com o Zico são pífios. Espero que ele volte a fazer coisas como "Copacabana Me Engana", "Rainha Diaba" e "Espelho de Carne". A biografia dele na Aplauso é interessante também. Você chegou a conhecê-lo Adilson?
ResponderExcluirMatheus Trunk
www.violaosardinhaepao.blogspot.com
Pois é Matheus, nem parece que é o mesmo Fontoura. Eu tenho a biografia, mas ainda não li, e não cheguei aindaa conhecê-lo.
ResponderExcluirUm abraço, meu amigo.