Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
086 - Nem os Bruxos Escapam - O Resgate (1975), de Valdi Ercolani ****
É difícil entender porque certos cineastas de talento fazem poucos ou mesmo apenas um único filme. Ainda mais quando a partir desses poucos ou mesmo um filme ficamos imaginando até onde poderia ir a carreira desses diretores quase invisíveis. Como o gaúcho Valdi Ercolani, que perambulou por São Paulo, Rio de Janeiro, Madrid, Londres e Paris e depois voltou ao país para, nos anos 1970, montar a produtora Filme Três, responsável por esse seu único filme de ficção. Na trama, Nildo Parente, Paulo César Pereio, Erico Vidal e Luiz Linhares formam uma turma de bandidos que sequestra um garoto para botar a mão em um milhão de resgate. Durante a fuga, o carro enguiça e eles vão parar no que restou de uma fazenda onde vivem Elza Gomes e sua neta Cristina Aché. Enquanto escondem suas identidades e a do menino e convivem com as duas mulheres, a cobiça se instaura e planeja, sorrateiramente, eliminar o número máximo possível de concorrentes da bolada. Esse Nem os Bruxos Escapam tem elenco dos deuses. A começar por Elza Gomes, magnífica atriz em mais que merecido papel de protagonista e premiada no Festival de Brasília. Ela é daquelas velhinhas adoráveis, mas que numa bobeada nossa é capaz de enfiar a faca fundo em nossas costelas. Aqui ela tem um papel sob medida, e quando altera a voz inigualável e o arfar do peito na mesa de jantar em desabafo de ódio, a gente respira em suspenso, pois minutos antes servira um frango ao molho pardo no melhor estilo grande mama - o que também nos faz olhar para os pratos com cuidado para ver se não tem veneno neles. Depois tem Cristina Aché, linda linda linda e em inicinho de carreira. Desde sempre talentosa, ela dá um frescor irresistível para sua Isabel, cujo sonho - sugestionado por Erico Vidal - de ir para o Rio de Janeiro fazer publicidade é, antes de tudo, para poder comprar todos os produtos da Avon. E ao ficar em dúvida se faria sucesso na cidade maravilhosa, Vidal nocauteia com declaração deliciosa: claro que sim, as mulheres bonitas vão para Rio de Janeiro, e as feias mudam-se para São Paulo. Parente, Pereio, Linhares e Vidal também estão ótimos e fazem a cama para a ambiência desse filme notável, mas quase escondido - ainda que muito premiado: Brasília, Governador do Estado, APCA. Esse Nem os Bruxos Escapam, que tem o subtitulo O Resgate, é mais um belo exemplar do cinema policial dos anos 1970. Pena que lá pelas tantas o roteiro, de Ecorlani e Isabel Câmara, mistura rastros de Psicose e de O Caso dos Dez Negrinhos naquela fazenda decadente e saudosa de seus tempos de safra e põe quase tudo a perder. Só que antes dele caminhar para o desfecho, a sedução de bom cinema mostrado é tanta, que só nos resta constatar, mais uma vez, que ainda que um ótimo final pode salvar um filme e um péssimo final pode destruir, há aqueles que se instalam feito posseiros em nosso coração, independente de seus destinos.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
(em 2009 - 315 filmes)
086 - Nem os Bruxos Escapam - O Resgate (1975), de Valdi Ercolani ****
É difícil entender porque certos cineastas de talento fazem poucos ou mesmo apenas um único filme. Ainda mais quando a partir desses poucos ou mesmo um filme ficamos imaginando até onde poderia ir a carreira desses diretores quase invisíveis. Como o gaúcho Valdi Ercolani, que perambulou por São Paulo, Rio de Janeiro, Madrid, Londres e Paris e depois voltou ao país para, nos anos 1970, montar a produtora Filme Três, responsável por esse seu único filme de ficção. Na trama, Nildo Parente, Paulo César Pereio, Erico Vidal e Luiz Linhares formam uma turma de bandidos que sequestra um garoto para botar a mão em um milhão de resgate. Durante a fuga, o carro enguiça e eles vão parar no que restou de uma fazenda onde vivem Elza Gomes e sua neta Cristina Aché. Enquanto escondem suas identidades e a do menino e convivem com as duas mulheres, a cobiça se instaura e planeja, sorrateiramente, eliminar o número máximo possível de concorrentes da bolada. Esse Nem os Bruxos Escapam tem elenco dos deuses. A começar por Elza Gomes, magnífica atriz em mais que merecido papel de protagonista e premiada no Festival de Brasília. Ela é daquelas velhinhas adoráveis, mas que numa bobeada nossa é capaz de enfiar a faca fundo em nossas costelas. Aqui ela tem um papel sob medida, e quando altera a voz inigualável e o arfar do peito na mesa de jantar em desabafo de ódio, a gente respira em suspenso, pois minutos antes servira um frango ao molho pardo no melhor estilo grande mama - o que também nos faz olhar para os pratos com cuidado para ver se não tem veneno neles. Depois tem Cristina Aché, linda linda linda e em inicinho de carreira. Desde sempre talentosa, ela dá um frescor irresistível para sua Isabel, cujo sonho - sugestionado por Erico Vidal - de ir para o Rio de Janeiro fazer publicidade é, antes de tudo, para poder comprar todos os produtos da Avon. E ao ficar em dúvida se faria sucesso na cidade maravilhosa, Vidal nocauteia com declaração deliciosa: claro que sim, as mulheres bonitas vão para Rio de Janeiro, e as feias mudam-se para São Paulo. Parente, Pereio, Linhares e Vidal também estão ótimos e fazem a cama para a ambiência desse filme notável, mas quase escondido - ainda que muito premiado: Brasília, Governador do Estado, APCA. Esse Nem os Bruxos Escapam, que tem o subtitulo O Resgate, é mais um belo exemplar do cinema policial dos anos 1970. Pena que lá pelas tantas o roteiro, de Ecorlani e Isabel Câmara, mistura rastros de Psicose e de O Caso dos Dez Negrinhos naquela fazenda decadente e saudosa de seus tempos de safra e põe quase tudo a perder. Só que antes dele caminhar para o desfecho, a sedução de bom cinema mostrado é tanta, que só nos resta constatar, mais uma vez, que ainda que um ótimo final pode salvar um filme e um péssimo final pode destruir, há aqueles que se instalam feito posseiros em nosso coração, independente de seus destinos.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
Belíssimo texto e ótimo resgate meu caro Adilson. Não vi este filme, mas pelas sua palavras fica claro que trata-se de algo bastante interessante.
ResponderExcluirMatheus Trunk
www.violaosardinhaepao.blogpsot.com
Ótimo texto. Dá vontade de procurar pelo filme na mesma hora. Aliás, é possível?? Rsrsrs. Um abraço
ResponderExcluirAs bonitas vão para o Rio de Janeiro, e as feias mudam-se para São Paulo, como assim? Ai que meda, vou voltar pro Rio agora mesmo rsrs Só o cinema dos anos 70 para produzir uma coisa assim... Beijos, querido.
ResponderExcluirMatheus,
ResponderExcluirPois é, uma das maravilhas de pesquisar cinema brasileiro é que a gente encontra filmes que sequer tínhamos ouvido falar.
Abs
Maurilio,
ResponderExcluirBom vê-lo de volta.
Vale realmente a pena conhecer.
Um abraço
Andrea, querida,
ResponderExcluirRi muito com essa cena.
Aliás, todas as cenas da Cristina Aché e do Erico Vidal são ótimas.
Um beijo.
Pek,
ResponderExcluirQue vontade de conhecer este filme! Onde consigo?
Prefiro São Paulo, onde tem muita gente bonita (homens e mulheres). Década de 70, o ranço Rio X São Paulo era muito maior do que hoje, pois outras cidades eram ignoradas. Com o avanço da tecnologia e do turismo interno, o Brasil ficou pequeno sem lugar para brigas bairristas (embora ainda haja resquício...)
Bjs.
Noel, o filme é bem bacana.
ResponderExcluirNão sei se foi lançado em DVD, assisti no Canal Brasil.
Vou ver para você.
Bjs