sexta-feira, 16 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (89)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

089 - Independência ou Morte (1972), de Carlos Coibra ***

Se há algo irritante e vergonhosamente reducionista é quando sapecam a frase clássica quase como se sacassem o revólver: o cineasta tal é um bom artesão. Sobretudo pelo duplo sentido que há nessa fala e no modo de dizê-la, algo mais ou menos como faz bem, mas não passa disso. E quase nunca é em sentido mais amplo, quando se utiliza dela para contextualizar um pensamento. No sentido primeiro há aí mais camadas que as que compõem uma cebola: de preconceito, de superficialidade, de descaso. Na ditadura do cinema de autor, é como se uma outra forma de fazer cinema em que o estilo não fique tão evidenciado, ou pelo menos sutilmente evidenciado, fosse desde já menor e não merecedora de olhar mais cuidadoso. O cineasta Carlos Coimbra é um desses casos, pois adoram chamá-lo de bom artesão, em sentido dúbio - e dá até para ver o ar blasé e superior quando dão a canetada final. E quando o assunto é esse Independência ou Morte, filme que ele dirigiu, roteirizou e montou, e que Oswaldo Massaini produziu em 1972, ano do sesquicentenário da indepêndencia, aí é que a porca realmente torce o rabo. Acusado de retrato oficial da versão histórica a serviço da ditadura militar, o que nos faz imediatamente link com os velhos livros de história e cadernos de moral e cívica, essa pecha apressada acabou por encobrir os vários méritos do filme. É verdade que o quiproquó palaciano em torno de Dom Pedro I e a independência nos faz bocejar muitas vezes, mas a forma como Tarcísio Meira encarna o imperador e os acontecimentos depois que o contador crava 40 minutos de filme faz com que os lampejos de sono sejam varridos para o lado de lá. Em relação ao primeiro ponto é importante ressaltar o belo trabalho de ator de Tarcísio Meira no filme. Talentoso e mais pão do que nunca, ele bafeja um ar inconsequente e de Don Juan de botequim em seu Pedro que nos conquista de imediato. Já os tais 40 minutos é a marca em que aparece Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos, momento em que esse Independência ou Morte vai para outro patamar, como no do outro casal torto e conturbado da história, aquele formado pelo Contratador João Fernandes e Xica da Silva. Glória Menezes está muito bem na personagem, mas esse salto não é só por isso, já que o filme tem também outro grande trabalho de atriz, o de Kate Hansen como a Imperatiz Leopoldina. O grande mérito é porque o aparecimento de Domitila é quando Dom Pedro I chuta o balde de vez, e o que poderia ser apenas um retrato oficial, como tantos injustamente o acusam, dá novo tom para o filme, que fica muitos decibéis acima quando traz essa história de amor para a boca de cena, e deixa lá no Ipiranga os outros acontecimentos. E, consequentemente, é também quando a Marquesa de Santos desaparece, em belíssima cena de despedida cruel já nos estertores, que o filme retrocede para o clima daqueles pré-40 minutos e muito de seu interesse se dissipa. Independência ou Morte tem produção caprichada, elenco idem, e muito mais méritos que os urubus de plantão sempre, e insistentemente, negaram-lhe e continuam negando.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

2 comentários:

  1. Olá Adilson.

    Eu adoro o filme, acho que tem cenas belíssimas - até hoje me lembro com gosto do bailado. No começo da Zingu!, quando o Coimbra morreu, escrevi uma resenha sobre o longa para dele falar bem, e criticar as críticas do filme.
    abs.

    ResponderExcluir
  2. Gabriel,
    Não me lembro de ter visto esse seu texto.
    Vou lá procurar.
    Um abraço

    ResponderExcluir