Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
087 - Cipriano (2000), de Douglas Machado **
Como já foi dito mais de uma vez aqui, nada contra atores globais ou figurinhas carimbadas - aqueles que batem ponto em tudo quanto é filme. Agora, é claro que quando vemos um elenco completamente desconhecido e o vemos dando conta direitinho do recado, dá-se uma alegria enorme. Mesmo porque, como no canto da sereia, o Brasil não é só verde anil e amarelo, mas também cor-de-rosa e carvão. E por isso, o cinema tem mesmo é que brotar em cada rincão desse país, para daí nossa complexa geografia não ficar reduzida tão em massa na ponte aérea - já que de concentração, basta a assassina de renda. Como esse Cipriano, que foi anunciado como o primeiro longa feito no Piauí. A rigor, o filme fica um pouquinho abaixo dos 60 minutos, e só chega aos 70 porque intercala cenas de making off durante os créditos finais. As primeiras cenas são acachapantes. De cara vemos o protagonista e narrador Vicente, um doidim deitado na água só com a cara de fora e emitindo sons incompreensíveis. E como na narração ouvimos seu fraseado perfeito, essa ilógica do visto e do ouvido já faz sensação inquietante. Depois, a câmera passa para três daquelas velhinhas carcomidas, como parece que só tem mesmo no sertão, sentadas à frente de um barracão de adobe e entoando suas incelências. São duas cenas belas e de poesia bruta, um abre-alas para contar a história da família de Cipriano -Tarcisio Prado, e seus dois filhos, Bigail - Vilma Alcântara e Vicente - Chiquim Pereira. Cipriano é um velho que sonhou inquietamente a vida inteira e que agora resolveu não sair mais dessa esfera. Ele não fala e faz-se como morto, pelo menos para o doidim Vicente, que o renega como pai, ao contrário de Bigail, que continua cuidando/velando os dois, pai e filho. Os filhos tem como meta e destino chegar a um cemitério em frente ao mar, onde o velho Cipriano poderá bater as botas de vez e ser enterrado. A forma como o roteiro e a direção escolheu para contar essa história foi a partir de uma série de sonhos, território do sujeito e objeto da ação. E é aí que o filme se fragiliza. Não se sabe se por falta de grana - bem possível, ou mesmo por opção estética, os elementos que compõem essas criaturas da noite, como demônios e a própria morte, são mal resolvidos diante aos outros recursos cênicos da narrativa. Usar cospidores de fogo como demônios e dançarino contemporâneo andrógino para simbolizar a morte não é só primário, como também de efeito manjadíssimo. Há ainda um outro efeito utilizado em algumas cenas como se a ação dos personagens se revelassem através das células, o que também revela-se completamente desassociado do resto. Por vezes Cipriano faz lembrar o impactante Crede-Mi (1997), transposição de O Eleito de Thomas Mann para o sertão dirigida por Bia Lessa e Dany Roland. Só que aqui percebemos logo que o olhar é de dentro, o que faz parentesco com outro filme notável da década de 1990, O Sertão das Memórias (1996), de José Araújo. Cipriano, porém, é inferior aos dois. E se fica gigante quando acha seu caminho - como na cena em que volta a mirar Vicente na água, dessa vez levando cócegas das piabas que fazem insinuante bailado em volta de seu rosto - noutras vezes se apequenina, sobretudo quando deixa de lado esse olhar de dentro e sai muito para fora de seu registro orgânico. Ainda assim é filme de proposta corajosa e louvável.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
(em 2009 - 315 filmes)
087 - Cipriano (2000), de Douglas Machado **
Como já foi dito mais de uma vez aqui, nada contra atores globais ou figurinhas carimbadas - aqueles que batem ponto em tudo quanto é filme. Agora, é claro que quando vemos um elenco completamente desconhecido e o vemos dando conta direitinho do recado, dá-se uma alegria enorme. Mesmo porque, como no canto da sereia, o Brasil não é só verde anil e amarelo, mas também cor-de-rosa e carvão. E por isso, o cinema tem mesmo é que brotar em cada rincão desse país, para daí nossa complexa geografia não ficar reduzida tão em massa na ponte aérea - já que de concentração, basta a assassina de renda. Como esse Cipriano, que foi anunciado como o primeiro longa feito no Piauí. A rigor, o filme fica um pouquinho abaixo dos 60 minutos, e só chega aos 70 porque intercala cenas de making off durante os créditos finais. As primeiras cenas são acachapantes. De cara vemos o protagonista e narrador Vicente, um doidim deitado na água só com a cara de fora e emitindo sons incompreensíveis. E como na narração ouvimos seu fraseado perfeito, essa ilógica do visto e do ouvido já faz sensação inquietante. Depois, a câmera passa para três daquelas velhinhas carcomidas, como parece que só tem mesmo no sertão, sentadas à frente de um barracão de adobe e entoando suas incelências. São duas cenas belas e de poesia bruta, um abre-alas para contar a história da família de Cipriano -Tarcisio Prado, e seus dois filhos, Bigail - Vilma Alcântara e Vicente - Chiquim Pereira. Cipriano é um velho que sonhou inquietamente a vida inteira e que agora resolveu não sair mais dessa esfera. Ele não fala e faz-se como morto, pelo menos para o doidim Vicente, que o renega como pai, ao contrário de Bigail, que continua cuidando/velando os dois, pai e filho. Os filhos tem como meta e destino chegar a um cemitério em frente ao mar, onde o velho Cipriano poderá bater as botas de vez e ser enterrado. A forma como o roteiro e a direção escolheu para contar essa história foi a partir de uma série de sonhos, território do sujeito e objeto da ação. E é aí que o filme se fragiliza. Não se sabe se por falta de grana - bem possível, ou mesmo por opção estética, os elementos que compõem essas criaturas da noite, como demônios e a própria morte, são mal resolvidos diante aos outros recursos cênicos da narrativa. Usar cospidores de fogo como demônios e dançarino contemporâneo andrógino para simbolizar a morte não é só primário, como também de efeito manjadíssimo. Há ainda um outro efeito utilizado em algumas cenas como se a ação dos personagens se revelassem através das células, o que também revela-se completamente desassociado do resto. Por vezes Cipriano faz lembrar o impactante Crede-Mi (1997), transposição de O Eleito de Thomas Mann para o sertão dirigida por Bia Lessa e Dany Roland. Só que aqui percebemos logo que o olhar é de dentro, o que faz parentesco com outro filme notável da década de 1990, O Sertão das Memórias (1996), de José Araújo. Cipriano, porém, é inferior aos dois. E se fica gigante quando acha seu caminho - como na cena em que volta a mirar Vicente na água, dessa vez levando cócegas das piabas que fazem insinuante bailado em volta de seu rosto - noutras vezes se apequenina, sobretudo quando deixa de lado esse olhar de dentro e sai muito para fora de seu registro orgânico. Ainda assim é filme de proposta corajosa e louvável.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
Adoro! Tem um filme com ela chamado AMANTE MUITO LOUCA! Muito engraçado!!!! Tem uma cena memorável em que ela sai gritando em cabo frio na frente da casa da amante do seu marido: EU SOU BRIGITE A LOUCA!!!!! AMANTE SDO SEU MARIDO!!!!!!!!!
ResponderExcluirPek,
ResponderExcluirNunca tinha ouvido falar neste Cipriano. Saiu em dvd? Foi lançado no circuito comercial?
A propósito, seu livro ainda está comigo. Deixei para lhe entregar quando for a BH, a partir da segunda quinzena de maio.
Bjs.
Anônimo,
ResponderExcluirA Tereza Rachel é uma grande atriz. Devia estar mais na TV, onde tem trabalhos memoráveis.
E no cinema, Amante Muito Louca é um filme que quero comentar aqui.
Um abraço.
Noel,
ResponderExcluirParece-me que saiu em DVD sim, e que não foi lançado comercialmente.
Assisti no Canal Brasil.
Quanto ao livro, ótimo que venha à BH.Daí a gente se encontra.
Bjs