quinta-feira, 15 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (88)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

088 - Rota Comando (2009), de Elias Junior *1/2

Impossível desassociar esse Rota Comando, de Elias Junior, de Tropa de Elite (2007), de José Padilha. Seja pelas similaridades, seja pelas diferenças. Tropa é sobre a polícia de elite do Rio de Janeiro, o BOPE - Batalhão de Operações Policiais Especiais, e Rota é sobre a de São Paulo, a ROTA - Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar. Há nos dois filmes o uso da narração de um policial, no primeiro do Capitão Nascimento, no segundo do policial Assis, e ambos mostram o cotidiano deles com a família. O filme de Padilha é baseado no livro Elite da Tropa, de Braulio Mantovani, e o de Elias Junior em Matar ou Morrer, do ex-capitão da Rota, e deputado, Conte Lopes. No primeiro há um elenco de atores conhecidos e desconhecidos, no segundo o elenco é todo desconhecido do grande público. Tropa é grande produção e custou mais de 10 milhões, Rota é independente e custou menos de um milhão - fala-se em 500 e 750 mil. Agora, a grande diferença está mesmo no gênero, pois ainda que os dois focalizem polícia versus bandidos, Tropa de Elite está mais para o filme policial e Rota Comando para o filme de ação. Como se sabe, a complexidade de um roteiro pode ser desenvolvida em qualquer gênero, até mesmo no cinema infantil. Mas na comparação entre a trama policial e a trama de ação, costuma-se ter mais espaço para essa complexidade no primeiro, já que o segundo prioriza mais a própria ação. Daí, se Tropa de Elite suscita toda uma discussão moral e ética e mesmo sobre quem emite e paga a fatura na instauração da violência urbana germinada e alimentada pelo mundo das drogas - com direito à ai ai ai de ponta a ponta se o filme é fascista ou não, nesse Rota Comando é tudo preto no branco. Aqui, polícia é polícia, bandido é bandido, e a mulata não é mesmo a tal. E a filosofia da ROTA e a do filme de Elias Junior fica clara em fala emblemática lá pelas tantas: "no mundo há dois lados, o do bem e do mal. E se você escolheu o segundo, saiba que um dia a Rota vai te pegar. E para nós, não importa se você virá na nossa patrulha sentado ou deitado". A trama começa com o policial Assis sendo baleado para, em flashback, acompanharmos as investidas da Rota no seu dia-a-dia, e, sobretudo, no embate com três marginais: Vadão, Alemão e Ceará. O primeiro trocou o Rio por São Paulo, de onde traz seus excessos de violência e sadismo. O segundo é o chefe do morro, que se envereda pela prática do sequestro. E o terceiro, que também veio do Rio, é daqueles que mantém negócio de fachada para comercializar as drogas. Em Rota Comando não há espaço para discussão sobre de onde vem o mal e o porquê daquele estado de coisas, a Rota existe para caçar bandidos. Aqui quem tem voz é a polícia, gênese no livro de origem de Conte, ao contrário de outro livro famoso sobre o tema, o Rota 66, de Caco Barcellos. E como o próprio cineasta já disse, no filme a polícia é o mocinho. Daí, quando um policial morre há todas as honras, bandeira nacional e salva de tiros. No caso do bandido só há o terceiro, e a salva de tiros é nele mesmo. Em Rota Comando impressiona a boa produção desse longa de estreia de Elias Junior, ainda mais levando em conta ser independente - e o mérito maior vem daí. O diretor revela pegada para as cenas de ação, mesmo que em desfile de cenas-clichê - quem aprecia filme de ação pela ação, independente do contexto, pode se entreter. Falta dizer que há um conhecido na ficha técnica do filme sim: Paulo Ricardo, ex-RPM, na trilha sonora - com direito a participação de Andreas Kisser, do Sepultura.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

3 comentários:

  1. Prezado Adilson: comprei mais ainda não vi este filme. Mas parece ser bem trash mesmo. Eu gostei muito do livro "Rota 66" do Caco Barcellos. O livro do Conte teria saído como uma resposta a obra do jornalista. Gostaria de ler para conhecer o lado dele. Ele tem um programa de rádio aqui em SP e até que é bem-feito, ele é bastante conhecido. Mas o filme parece ser mesmo um sub-Tropa de Elite rsrs.

    Matheus Trunk
    www.violaosardinhaepao.blogspot.com

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  2. Caro Matheus,
    Não achei o filme trash não, como disse no texto a produção surpreende.
    Tem é muitas cenas-clichês, mas quem gosta de filme de ação por ação deve até gostar.
    No meu caso é porque não gosto quando é só ação, prefiro uma contextualização.
    Um abraço

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