segunda-feira, 12 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (85)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

085 - Grande Sertão (1965), de Geraldo Santos Pereira e Renato Santos Pereira *1/2

Imaginem adaptar para o cinema Dom Casmurro, mas deixar de lado o embate se Capitu foi adúltera ou não? Sim, isso é possível, só que aí já não seria mais a obra-prima de Machado de Assis. Pois foi mais ou menos assim que os irmãos Santos Pereira fizeram com Grande Sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. Para eles, a relação conflituosa de Riobaldo com Diadorim, devido à atração indesviável do primeiro pelo segundo, foi para as cucuias, já que com meia hora de filme se sabe que ela é mulher, e o centro da ação mesmo é a vingança contra Hermógenes, que matara o pai do falso moço. Com isso, o filme é, antes de tudo, um ajuste de contas entre jagunços, ainda que o narrador Riobaldo de Maurício do Valle faça lá suas digressões roseanas - "viver é negócio muito perigoso", "sertão, esses seus vazios". Fosse uma história original, daria para apreciar esse faroeste de jagunços engolfados em poeira e tiros no sertão das Minas Gerais, pois tem produção caprichada, música de Radamés Gnatalli, fotografia de José Rosa, e atores como Sonia Clara, Luigi Picchi, Joffre Soares, Milton Gonçalves, Zózimo Bulbul, além de do Valle. Mas o livro é gigante demais para esquecermos da fonte, o que nos faz arregalar os olhos enquanto assistimos a redução da complexidade da história em movimento retilineo mais que uniforme. Na trama, Riobaldo leva vida sossegada com o padrinho, mas ao encontrar Riobaldo quando o bando de Joca Ramiro pernoita na casa, segue destino irrefreável, vira jagunço e entra no bando. Quando Hermógenes mata o chefe, Riobaldo jura vingança e, junto com Reinaldo/Diadorim e os outros jagunços, vai em captura do traidor. Os gêmeos mineiros Renato e Geraldo Santos Pereira desenvolveram a carreira em Minas à frente da Vila Rica Cinematográfica, primeiro co-dirigindo e depois atuando como produtor do outro enquanto um deles dirigia. No livro Ciranda Barroca, citado no Dicionário de Filmes Brasileiros, de Antônio Leão, Geraldo diz que depois da afinação da direção em dupla no primeiro filme, Rebelião em Vila Rica (1958), a experiência em Grande Sertão desafinou com muitas divergências entre eles, que não mais repetiram a co-direção - entre outros filmes de cada um, Geraldo dirige, em 1976, o interessante O Seminarista. A literatura impecável e sofisticada de João Guimarães Rosa teria mais sorte no cinema na obra-prima A Hora e Vez de Augusto Matrága (1965), de Roberto Santos, e em outros belos filmes como Cabaret Mineiro (1980) e Noites do Sertão (1984) - ambos de Carlos Alberto Prates Correia, Outras Estórias (199), de Pedro Bial, e Mutum (2006), de Sandra Kogut.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

2 comentários:

  1. Pek,

    Bela análise do filme. Ao ler sua resenha, lembrei-me de que vi este filme na mesma época em que a Globo colocou no ar a série com Bruna Lombardi no papel de Diadorim. Sei que fiz a inevitável comparação e achei que a série era muito superior ao filme.

    Bjs.

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  2. Noel,
    Que bom que gostou.
    Eu adoro a série e estou com vontade de comprar o DVD, que já saiu.
    Bjs

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