Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
083 - Vidas Nuas (1967), de Ody Fraga **1/2
Esse Vidas Nuas teve produção atribulada, e o resultado final denota seus percalços. Primeiro longa de Ody Fraga, um dos mestres da Boca do Lixo, começou em 1962/63 com o título Erótica, mas foi concluído só em 67 pelos produtores Antonio Pólo Galante e Sylvio Renoldi - e montado pelo grande Renoldi - com o título de Vidas Nuas. O filme é baseado no conto de Ody, Erótica, e mostra uma família disfuncional: a jovem Nelcy Martins vive com a mãe Maria Alba, que sofre ao lado do telefone a espera do chamado do amante-gigolô Alfredo Scarlat, e com o padastro Francisco Negrão, que assiste tudo sem reagir, a não ser frequentando um inferninho toda noite, onde assiste a rainha do stripper acrobático Tânia Reyes. E enquanto Nelcy é assediada pelo amante da mãe, ela suspira pelo padrasto, que fica, aparentemente, indiferente à suas investidas - precursor romance a la escândalo padrasto/enteada de Allen/Farrow e cantado na bela canção de Guinga e Aldir Blanc Catavento e Girassol, com Leila Pinheiro, "um torce para Mia Farrow, o outro é Woody Allen". Como se sabe, Ody Fraga era um homem culto e de formação refinada, e que colocou todo o seu talento, com melhores ou piores resultados, para o cinema popular da Boca, onde foi requisitado como argumentista, roteirista e dialoguista por vários cineastas, além da própria carreira como diretor. Nesse Vidas Nuas é como se assistíssemos uma trama de Antonioni com lastros de Bergman, só que filtrado pela noite megalopole de São Paulo, geografia pulsante da Paulista aos inferninhos das boates de stripper. Se a trama fica um tanto capenga e frouxa e encontra prumo no elenco, ainda que à sua maneira também disfuncional, o que enche os olhos é a fotografia de Bill Kostal. Fascinada pelos letreiros luminosos e pelo amplo percurso vertiginoso por inúmeros espaços da cidade - a trama é contada por Maria Alba em trajeto de carro pela cidade - a fotografia faz impactante registro da noite de São Paulo, que em poucas vezes surgiu na tela mais linda e sedutora. Já a trilha sonora, uma das marcas do cinema de Ody, fica meio samba do crioulo doido em turbilhão desconcertante, pois divide espaço entre solos de jazz, iê-iê-iê, calypso, e Amir Rogério, do cult popular Fuscão Preto, que aqui ataca em carne e osso com Tem Dó de Mim, ao lado da banda Os Quatro Fugitivos - ver as moiçolas sarocoteando ao lado da banda e do astro é imagem divertida e registro elucidativo da versão rock´n roll da época. Aliás, é outro número musical um dos pontos altos do filme, dessa vez com Nelcy Martins com seu perucão louro, o sutiã pontudo, e um inacreditável ursão de pelúcia, dançando no quarto a la Brigitte Bardot. Uma curiosidade é que o elenco é formado por senhores e senhoras nem tão novinhos e sedutores, principalmente os homens. Destacam-se Francisco Negrão com seu ar blasê condescendente, e só vamos saber o porquê nos estertores do filme; e Maria Alba com o porte imponente, que vez ou outra nos remete a uma Anna Magnani com seu ar trágico e de fúria desesperada. Curioso e irregular filme de estreia de um nome fundamental do cinema brasileiro.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
(em 2009 - 315 filmes)
083 - Vidas Nuas (1967), de Ody Fraga **1/2
Esse Vidas Nuas teve produção atribulada, e o resultado final denota seus percalços. Primeiro longa de Ody Fraga, um dos mestres da Boca do Lixo, começou em 1962/63 com o título Erótica, mas foi concluído só em 67 pelos produtores Antonio Pólo Galante e Sylvio Renoldi - e montado pelo grande Renoldi - com o título de Vidas Nuas. O filme é baseado no conto de Ody, Erótica, e mostra uma família disfuncional: a jovem Nelcy Martins vive com a mãe Maria Alba, que sofre ao lado do telefone a espera do chamado do amante-gigolô Alfredo Scarlat, e com o padastro Francisco Negrão, que assiste tudo sem reagir, a não ser frequentando um inferninho toda noite, onde assiste a rainha do stripper acrobático Tânia Reyes. E enquanto Nelcy é assediada pelo amante da mãe, ela suspira pelo padrasto, que fica, aparentemente, indiferente à suas investidas - precursor romance a la escândalo padrasto/enteada de Allen/Farrow e cantado na bela canção de Guinga e Aldir Blanc Catavento e Girassol, com Leila Pinheiro, "um torce para Mia Farrow, o outro é Woody Allen". Como se sabe, Ody Fraga era um homem culto e de formação refinada, e que colocou todo o seu talento, com melhores ou piores resultados, para o cinema popular da Boca, onde foi requisitado como argumentista, roteirista e dialoguista por vários cineastas, além da própria carreira como diretor. Nesse Vidas Nuas é como se assistíssemos uma trama de Antonioni com lastros de Bergman, só que filtrado pela noite megalopole de São Paulo, geografia pulsante da Paulista aos inferninhos das boates de stripper. Se a trama fica um tanto capenga e frouxa e encontra prumo no elenco, ainda que à sua maneira também disfuncional, o que enche os olhos é a fotografia de Bill Kostal. Fascinada pelos letreiros luminosos e pelo amplo percurso vertiginoso por inúmeros espaços da cidade - a trama é contada por Maria Alba em trajeto de carro pela cidade - a fotografia faz impactante registro da noite de São Paulo, que em poucas vezes surgiu na tela mais linda e sedutora. Já a trilha sonora, uma das marcas do cinema de Ody, fica meio samba do crioulo doido em turbilhão desconcertante, pois divide espaço entre solos de jazz, iê-iê-iê, calypso, e Amir Rogério, do cult popular Fuscão Preto, que aqui ataca em carne e osso com Tem Dó de Mim, ao lado da banda Os Quatro Fugitivos - ver as moiçolas sarocoteando ao lado da banda e do astro é imagem divertida e registro elucidativo da versão rock´n roll da época. Aliás, é outro número musical um dos pontos altos do filme, dessa vez com Nelcy Martins com seu perucão louro, o sutiã pontudo, e um inacreditável ursão de pelúcia, dançando no quarto a la Brigitte Bardot. Uma curiosidade é que o elenco é formado por senhores e senhoras nem tão novinhos e sedutores, principalmente os homens. Destacam-se Francisco Negrão com seu ar blasê condescendente, e só vamos saber o porquê nos estertores do filme; e Maria Alba com o porte imponente, que vez ou outra nos remete a uma Anna Magnani com seu ar trágico e de fúria desesperada. Curioso e irregular filme de estreia de um nome fundamental do cinema brasileiro.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
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