quarta-feira, 25 de agosto de 2010

longas brasileiros em 2010 (195)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

195 - O Anjo Nasceu (1969), de Julio Bressane *****

E no princípio era o verbo... Antes de radicalizar sua estética no mergulho abissal da Belair com Rogério Sganzerla, Helena Ignez e toda uma trupe ensandecida, Julio Bressane ainda contava histórias - mas é bom dizer também que um tanto diferentes do usual. E nessa chave fez os longas Cara a Cara (1968) e esse O Anjo Nasceu - já Matou a Família e Foi ao Cinema (1969) tem trama toda calcada em manchetes sensacionalistas de jornais. E na história aqui, Milton Gonçalves e Hugo Carvana são dois gauches tortíssimos a vagar de crime em crime em epopéia de uma quase redenção ao contrário. Quando as coisas ficam feias, o cerco se fecha e a perna de Carvana não pára de sangrar, eles resolvem malocar em casa de praia da granfa Norma Bengell. Essa, que chega com a empregada Maria Gladys, nem imagina que ao virar a chave na fechadura vai botar a si e a outra de corpo e alma em inferno de violência e sadismo. Já virou quase chavão a contraposição de que se no primeiro Cinema Novo os personagens sempre, ao final, caminhavam ou corriam em busca de uma saída, no Cinema Marginal essa possibilidade inexistia. Daí o clima permanente de exasperação e de danação. Em O Anjo Nasceu a exasperação dá as caras em altíssima potência, mas não só em berros vindos de fundo sem fundo, mas também de carne esfolada e de nervos rompidos - e é mesmo quase insuportável ver esse encontro dos dois marginais com as duas donas. Como deve ser insuportável para muita gente também ficar cara a cara - sem trocadilho - com o longuíssimo e belo plano final. Com elenco reduzido, mas em alta combustão, Bressane construiu um pequeno grande filme de horror. Mas não o terror gore que nos faz tapar os olhos, ou abri-los ainda mais dependendo do gosto do freguês, em determinados momentos. Ou mesmo daquele horror construído de climas a nos terrificar os fios tensos. O Anjo Nasceu atiça e revira todos os nossos sentidos e fica quase impossível não sentir o cheiro e o gosto de carnes nunca vocacionadas para o paraíso. É para sempre altamente perturbador. Prêmio da Crítica no Festival de Brasília, o filme marcou o encontro com Maria Gladys, que se tornaria uma das maiores musas de um dos nossos mais polêmicos cineastas. Destaque total para o belíssimo cartaz.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

4 comentários:

  1. Assino em baixo, Adilson!

    Gostei da mudança do visual. Estou pensando em dar uma mexida no meu blog também.

    Um abraço!

    ResponderExcluir
  2. O site ficou lindo! Adorei! Abração!

    ResponderExcluir
  3. Pois é Sérgio, ontem fiquei fuçando as opções e resolvi mudar.
    Abração

    ResponderExcluir
  4. Que bom que gostou Alexandre. Acho que ficou legal.
    Abs

    ResponderExcluir