quinta-feira, 6 de maio de 2010

longas brasileiros em 2010 (109)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

109 - Shock (1984), de Jair Correia **1/2

Na década de 1980 dois vilões surgiram no cinema para barbarizar a vida de jovens/adolescentes americanos e, de quebra, renovar o horror: Jason Voorhees e Freddy Grueger em, respectivamente, Sexta-Feira 13 (1980), de Sean S. Cunningham, e A Hora do Pesadelo (1984), de Wes Craven. O sucesso foi mundial, rendeu inúmeras sequências e conquistou também o Brasil. Bom, eram os mesmos anos 80 do BRock que, em outra seara, também fez a cabeça de jovens/adolescentes brasileiros com bandas como Blitz, Titãs, Legião Urbana, Ultraje a Rigor e Kid Abelha. E foi bebendo um pouco nesses dois universos que o cineasta e montador Jair Correia construiu esse Shock, ainda que sai o horror e entra o suspense, e o pop/rock performático aqui só faz cama para uma festa pra gente jovem, onde serão reunidos os personagens. Mas aqui também tem um matador aniquilando um a um, porém bem mais real que os outros que vieram do além-túmulo, além das machadadas e garras afiadas darem lugar à mortes por estrangulamento. Na trama, Elias Andreato e sua namorada Claudia Alencar organizam uma festa com banda ao vivo em local isolado e à beira de um lago - impossível não se lembrar do Crystal Lake onde Jason apronta todas. Quando a festa acaba e todos vão embora, Elias e Cláudia resolvem ficar na casa para tomar conta dos instrumentos sem saber que em dois quartos estão mais dois casais: Taumaturgo Ferreira que quer traçar a virgem Mayara Magri, mas devido a recusa da moça fuma um baseado e apaga; e Aldine Muller e Kiko Guerra que fazem exatamente o contrário do primeiro casal e transa horrores. Quando uma moça aparece morta no armário, eles descobrem que tem um matador na casa, as chaves de saída desapareceram, e eles serão perseguidos durante toda a noite. Shock tem alguns méritos, a começar pelo cinema de gênero situado em cena atual da época com jovens em que a gente acredita, ainda que os diálogos sejam o calcanhar de aquiles. Pelo menos a Isa de Mayara Magri é uma que nos conquista, e daí sofremos com seu estado de vítima - a do conflito entre a virgindade e os desejos insistentes do namorado e também por estar a mercê de uma situação de perigo que desconhece. É a personagem mais bem construída, sendo que muito disso é mérito de sua composição de atriz. Todos os personagens são flagrados em dois momentos específicos, a alegria da balada e o medo da morte, como se o roteiro - de Correia e Gertrude Eisenlohr - quisesse com isso revelar a verdadeira cara de cada um frente frente a perigo extremo. Outro recurso interessante é identificar o assassino apenas pelas botas de cano longo, uma alusão possível para o poder da repressão militar - ainda estávamos em final de ditadura - afinal todos aqueles jovens são o oposto do sistema, curtem rock, praticam o amor livre e fumam baseado. Essa solução estética funciona maravilhosamente no encontro entre Isa e o matador, com boa parte da cena filmada apenas em ângulo das pernas para baixo. Só que o que é solução interessante acaba cansando também, pois o matador anda o filme inteiro para lá e para cá, e a gente fica vendo ele filmado pelas pernas, ente solos de bateria, curtição de baseado e soneca. Pena que esse Shock não se sustenta até o final, e são mesmo os diálogos que o joga para baixo e uma direção pouco pulsante. Já que a estrutura básica está toda lá: jovens confinados e um assassino matando sem explicação. Curiosidade adicional é perceber a fixação da direção em tirar a roupa de Aldine Muller, a única das moças que fica desnuda até em momento de pânico.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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