segunda-feira, 3 de maio de 2010

longas brasileiros em 2010 (106)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

106 - A Viagem de Volta (1991), de Emiliano Ribeiro *1/2

Obs.: não encontrei imagem do filme. Foto do diretor Emiliano Ribeiro.

O argumento de A Viagem de Volta é bom: focalizar os tratamentos de internação em clínicas alternativas ao formato psiquiátrico tradicional para dependentes químicos. E para compor a história da personagem de Clarice Niskier a produção fez pesquisa em várias delas, nesse filme que é uma espécie de docudrama e tem roteiro assinado por Emiliano e Nelson Nadotti. Mas é aí que a porca torceu o rabo, pois onde há boa intenção nem sempre há bom cinema. Clarice Niskier pede para o pai Nelson Dantas para interná-la em uma dessas clínicas depois que a amiga Sura Berditchevsky morreu de overdose na sua frente. Ela deixou uma filha pequena para trás, que vive com a avó Theresa Amayo, um de seuss pólos de conflito. Daí vai parar em uma fazenda, onde terá que conviver com pacientes com dramas muitas vezes maiores que o seu, como gente que roubou e matou por causa do vício, todos comandados por Anselmo Vasconcelos, ele também um ex-viciado. Esse A Viagem de Volta é construído tendo como eixo o tratamento da protagonista, e enquanto vemos sua relação com os outros colegas de confinamento e as sessões de análise com o líder comunitário, acompanhamos também alguns flashbacks sobre sua descida ao inferno antes da internação. Mas faltou a Emiliano Ribeiro pulso firme na condução da trama nessa sua estreia em longas, já que vinha de larga experiência como assistente de direção em filmes fundamentais como Em Família (1971), de Paulo Porto, Toda Nudez Será Castigada (1972), O Casamento (1975) e Tudo Bem (1978) - os três de Arnaldo Jabor. Por diversas vezes ouve-se que a vida naquela fazenda, que está sempre de portas abertas para quem quiser desistir e ir embora, não é uma colônia de férias. Mas, paradoxalmente, as imagens mostram que é isso que parece ser, pois vemos os viciados jogando vôlei e fazendo arte-terapia, porém sem o ranger de dentes que todo dependente passa para largar o vício - a Mel de Débora Fallabela em O Clone (2001/2002), de Glória Perez, pareceria a encarnação do demônio para a placitude daqueles personagens. Clarice Niskier, em estreia no cinema, já sinaliza o que será capaz de fazer nas telas, como será alguns anos depois com sua inesquecível Luiza em Amores (1997), de Domingos Oliveira. No elenco ainda tem a veterana Teresa Amayo com toda sua carga trágica e talento como a mãe opressora, e Anselmo Vasconcelos mostrando que é capaz de fazer qualquer personagem com a credibilidade de sempre.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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