sábado, 1 de maio de 2010

longas brasileiros em 2010 (104)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

104 - Cômicos... + Cômicos... (1971), de Jurandyr Passos Noronha **1/2

Pesquisar é procurar, é achar, é ver, é procurar entender, é rever, é rever outra vez. E pesquisar é, sobretudo, para disponibilizar, para criar acesso, para compartilhar. Daí que pesquisar cinema brasileiro não é apenas fascinante, como também é achar, procurar entender, rever, e rever outra vez mais que um filme, um país. E é, sobretudo, para disponibilizar esse país, para criar acesso a ele, para compartilhá-lo. Em uma notável galeria de pesquisadores do cinema nacional sempre haverá um lugar especial para Jurandyr Passos Noronha. Mineiro de Juiz de Fora, cineasta documentarista, Noronha procurou por esse país retratado nas telas literalmente abrindo latas para encontrá-lo, como também fazendo o caminho de volta com ele para a tela nos três longas-antologias que dirigiu - Panorama do Cinema Brasileiro (1968); Cômicos... + Cômicos... (1971); e 70 Anos de Brasil (1975). Nesse Cômicos... + Cômicos... ele assina também, além da direção, o argumento e o roteiro. Daí, criou um entrecho ficticio - uma equipe de filmagem às voltas com os tropeços do ato de filmar - que entre um intervalo e outro vai projetando cenas de filmes protagonizados por um elenco estelar de comediantes que fizeram história e contribuiram para criar a identidade fílmica brasileira. Enquanto do lado de cá, nas filmagens, vemos Paulo Silvino, Rafael de Carvalho, Roberto Guilherme, Santa Cruz, Costinha e Wilza Carla, lá nos filmes projetados vemos escolas do riso de registros diversos: Genésio Arruda, Jararaca e Ratinho, Alda Garrido, Alvarenga e Ranchinho, Procópio Ferreira, Amácio Mazzaropi, Violeta Ferraz, Oscarito, Grande Otelo, Dercy Gonçalves, Zezé Macedo, Colé Santana, Zé Trindade, e muitos outros. Esses deuses do riso estão em cenas de filmes como Acabaram-se os Otários (1929 - Luiz de Barros), Chico Fumaça (1957 - Victor Lima) e Dona Violante Miranda (1960 - Fernando de Barros). Há de ponta a ponta nesse Cômicos... + Cômicos... carinho e admiração confessos de Noronha por esses ídolos do cinema popular. Está tudo lá, e essa reverência acaba contaminando quem está do lado de cá, além de que ver ou rever as cenas é deleite à parte. Isso porque quanto a forma como ele estruturou seu filme - a filmagem e as cenas dos filmes - ela quase nunca encontra resultado muito orgânico. Não há intimidade necessária e pretendida entre um registro e outro, o da equipe e o das cenas. E quando Paulo Silvino ou Genésio Carvalho anunciam, identificam ou comentam sobre aqueles que estão projetando, essas falas ficam um tanto deslocadas e sem atingir o objetivo primeiro, que seria como espécie de álbum aberto e revivido por olhos virgens ou nostálgicos do que se vê. Mas não um álbum de momentos congelados no passado, e sim arte viva presente/futuro. Ainda que essa estrutura não funcione a contento, ao final da projeção pode-se constatar, mais uma vez, que o Brasil sempre foi prodigioso na arte da comédia. E um país que tem comediantes como Zé Trindade, Zezé Macedo, Ronald Golias, Chico Anysio, Regina Casé e Débora Bloch só pode mesmo exibir saúde de fé na vida. E que no final é o que essa antologia de Jurandyr Passos Noronha também celebra.

P.s.: e como eram deslumbrantes nossos cartazes, heim!

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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