Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
100 - Em Família (1971), de Paulo Porto *****
(em 2009 - 315 filmes)
100 - Em Família (1971), de Paulo Porto *****
Alguns dos seres mais frágeis que habitam esse planeta são as crianças, os idosos, e o cães. Isso porque essencialmente domésticos, todos eles precisam de cuidados extremos e quase não conseguem mesmo viver sem ajuda do outro. Daí que quando são abandonados personificam e fazem eco com dor profunda e ancestral. E nem é preciso ser um Sebastião Salgado para que fotos estampadas em manchetes desse abandono, como velhinhos eternamente à espera em cadeiras ao sol nos jardins de asilos, cortem à navalha corações que ainda pulsam além da função orgânica. Se a teoria dos genes suicidas querem dar conta de uma possível explicação para a homossexualidade - e portanto direcionada para destino de unicidade, a linha evolutiva da heterossexualidade parece querer dizer muito mais que perpetuação da espécie. Mais que isso, é como se fosse tentativa desesperada de parir prole para que possa ser uma mínima garantia de não-solidão final e certeira. Em Família, de Paulo Porto, fala muito sobre isso tudo, e ao assisti-lo fica-se pensando para que os Avatar da vida, se quase tudo do que é o homem - pro bem e pro mal - e do que o interessa essencialmente está mesmo é em filmes como esse. Em Família é a história de Iracema de Alencar e de Rodolfo Arena. E é também a história de Paulo Porto, Anecy Rocha, Odete Lara, Antero de Oliveira, Fernanda Montenegro e Procópio Ferreira - e causa incomôdo pensar que só mesmo Odete e Fernanda ainda estão entre nós. Iracema e Arena viveram juntos 44 anos, mas agora têm que viver separados, ela no Rio e ele em São Paulo, pois não é mais possível pagar a casa em que criaram a família e onde seus cinco filhos cresceram. Daí, sobraram para esses filhos, que com maior ou menor tristeza e remorso decidirão o destino dos dois. Frango assado, farofa, maionese com alcaparras e ovos nevados são lembranças forçadas de infância para os filhos e tentativa de congelar o passado em realidade presente para os pais. Mas é em meio a essas guolseimas que custaram quarenta contos, para suspiro profundo de Arena, que a saga do casal de idosos será anunciada e selada ali mesmo. Daí, acompanhamos as intromissões caseiras da Iracema sogra na casa de uma Fernanda nora e amorosa de um lado, e das ranhetices do Arena pai nas brigas cotidianas com a filha Anecy em crescente impaciência do outro. O que fazer com nossos velhos? perguntam-se aqueles personagens com interesse estricto em suas vidas e desejos imediatos, como se todos também velhos não serão um dia. O casal progenitor, assim como Blanche Dubois, terá que contar com a bondade de filhos agora quase estranhos, mas como ela nem sempre vem, chora de lá e a gente chora de cá. O filme é um melodrama notável, e que avança muito além dos limites do gênero - e conta com um elenco dos deuses para isso e roteiro adaptado de Oduvaldo Vianna Filho, Ferreira Gullar e Porto. Em Família diz muito do talento de Paulo Porto, grande ator e cineasta pouco reverenciado. Para chorar baldes.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
Filme belíssimo, Adilson, com grandes atuações. É baseado na mesma peça que deu origem à "A Cruz dos Anos" (Make Way for Tomorrow), uma obra-prima do cinema americano dos anos 30.
ResponderExcluirUm abraço.
Pois é Sérgio, não conheço esse filme.
ResponderExcluirNo Dicionário do Leão, credita-se Em Família ser baseado no romance "The Years Are So Long", de Josephine Lawrence, que virou peça teatral de de Helene Nolan Leary, em 1937, traduzida por Paulo Pontes.
Chorei muito revendo esse Em Família rsrs
Um abração
Meu caro Adilson fico muito feliz em saber que não sou o único fã deste belíssimo "Em Família". Só para constar: Rodolfo Arena é uma lenda e um dos maiores atores brasileiros de todos os tempos.
ResponderExcluirMatheus Trunk
www.violaosardinhaepao.blogspot.com
Sim Matheus, é impressionante a capacidade múltipla de interpretação dele, e que nos extasia como em Chuvas de Verão, do Diegues.
ResponderExcluirUm abraço, meu amigo