Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
099 - Engraçadinha Depois dos Trinta ((1966), de J.B. Tanko *****
Genial diretor do cinema popular, J.B. Tanko se notabilizou por inúmeras chanchadas como a impagável Mulheres à Vista (1959), com Zé Trindade, e vários filmes com Os Trapalhões, como o cultuado Os Saltimbancos Trapalhões (1981). Nos anos 1960 fez mergulho corajoso na obra de outro gênio, o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues, que resultou nos filmes Asfalto Selvagem (1964), e esse Engraçadinha Depois dos Trinta - ambos dando conta da trajetória de Engraçadinha, uma entre tantos deliciosos personagens rodrigueanos. Se em Asfalto quem fez a personagem título foi Vera Vianna - que em Depois dos 30 faz a filha dela, Silene - nessa continuação o papel coube à beleza clássica de Irma Alvarez - que é dublada por Glauce Rocha. Agora, Engraçadinha já está casada com Zózimo, e Silvio, o grande amor trágico da juventude e que era seu irmão, é apenas lembrança doída. Engraçadinha virou dona de casa, converteu-se em religiosa, tem asco do marido, e vê com olhos nem tão abertos os desvarios da filha Silene, que herdou a petulância erótica da mãe, e o filho ciumento de ambas, mãe e irmã. A vida da família é revirada de ponta a cabeça por dois homens: o aparecimento de Fernando Torres, velho amigo do pai de Engraçadinha que está de olho na dona e assedia não só a família como a todos dando carteirada de jurista; e Claudio Cavalcanti, o Leleco, namorado de Silene que tem que salvar o rabo cobiçado por Cadelão - personagem também presente em Bonitinha, mas Ordinária. Adultério, incesto e pederastia são temas vistos nesse Engraçadinha Depois dos Trinta de uma forma mais direta ou mais sutil, e que evidencia a coragem de J. B. Tanko em trazer para as telas o Nelson Rodrigues que barbarizava nas crônicas, nos romances e nos palcos da época. Essa mesma década de 60 veria os primeiros filmes adaptados do mestre: o Boca de Ouro (1963), de Nelson Pereira dos Santos; O Beijo (1964), de Flávio Tambellini; e A Falecida (1965), de Leon Hriszman. Produzido pelo veterano Herbert Richers, com roteiro de Tanko e diálogos de Nelson, esse Engraçadinha Depois dos 30 é uma beleza. Ainda que não haja o humor corrosivo e habitual das entrelinhas de Nelson Rodrigues, a não ser na figura de Fernando Torres, que diz uma coisa prática e pensa outra sacana, há, e muito, do universo que permeia a literatura e dramaturgia rodrigueana, em que famílias aparentemente acimas de qualquer suspeita escondem retratos ainda mais conspurcados que o de Doriam Gray em seus sótãos. Nesse sentido, toda a cena do encontro entre Irma Alvarez e Oswaldo Loureiro é emblemática desse olhar, e que proporciona Irma mostrar do que é capaz, tanto a atriz quanto a personagem. Décadas depois, caberia à Lucélia Santos encarnar com brilho Engraçadinha outra vez no cinema, e Claudia Raia na TV.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
(em 2009 - 315 filmes)
099 - Engraçadinha Depois dos Trinta ((1966), de J.B. Tanko *****
Genial diretor do cinema popular, J.B. Tanko se notabilizou por inúmeras chanchadas como a impagável Mulheres à Vista (1959), com Zé Trindade, e vários filmes com Os Trapalhões, como o cultuado Os Saltimbancos Trapalhões (1981). Nos anos 1960 fez mergulho corajoso na obra de outro gênio, o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues, que resultou nos filmes Asfalto Selvagem (1964), e esse Engraçadinha Depois dos Trinta - ambos dando conta da trajetória de Engraçadinha, uma entre tantos deliciosos personagens rodrigueanos. Se em Asfalto quem fez a personagem título foi Vera Vianna - que em Depois dos 30 faz a filha dela, Silene - nessa continuação o papel coube à beleza clássica de Irma Alvarez - que é dublada por Glauce Rocha. Agora, Engraçadinha já está casada com Zózimo, e Silvio, o grande amor trágico da juventude e que era seu irmão, é apenas lembrança doída. Engraçadinha virou dona de casa, converteu-se em religiosa, tem asco do marido, e vê com olhos nem tão abertos os desvarios da filha Silene, que herdou a petulância erótica da mãe, e o filho ciumento de ambas, mãe e irmã. A vida da família é revirada de ponta a cabeça por dois homens: o aparecimento de Fernando Torres, velho amigo do pai de Engraçadinha que está de olho na dona e assedia não só a família como a todos dando carteirada de jurista; e Claudio Cavalcanti, o Leleco, namorado de Silene que tem que salvar o rabo cobiçado por Cadelão - personagem também presente em Bonitinha, mas Ordinária. Adultério, incesto e pederastia são temas vistos nesse Engraçadinha Depois dos Trinta de uma forma mais direta ou mais sutil, e que evidencia a coragem de J. B. Tanko em trazer para as telas o Nelson Rodrigues que barbarizava nas crônicas, nos romances e nos palcos da época. Essa mesma década de 60 veria os primeiros filmes adaptados do mestre: o Boca de Ouro (1963), de Nelson Pereira dos Santos; O Beijo (1964), de Flávio Tambellini; e A Falecida (1965), de Leon Hriszman. Produzido pelo veterano Herbert Richers, com roteiro de Tanko e diálogos de Nelson, esse Engraçadinha Depois dos 30 é uma beleza. Ainda que não haja o humor corrosivo e habitual das entrelinhas de Nelson Rodrigues, a não ser na figura de Fernando Torres, que diz uma coisa prática e pensa outra sacana, há, e muito, do universo que permeia a literatura e dramaturgia rodrigueana, em que famílias aparentemente acimas de qualquer suspeita escondem retratos ainda mais conspurcados que o de Doriam Gray em seus sótãos. Nesse sentido, toda a cena do encontro entre Irma Alvarez e Oswaldo Loureiro é emblemática desse olhar, e que proporciona Irma mostrar do que é capaz, tanto a atriz quanto a personagem. Décadas depois, caberia à Lucélia Santos encarnar com brilho Engraçadinha outra vez no cinema, e Claudia Raia na TV.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
Meu caro Adilson: seus comentários nos deixam com vontade de ver o filme. Onde você o cosneguiu? Sou fã de carteirinha do Tanko, realmente um cineasta e homem acima da média. Pelos seus comentários, este parece ser um filme muito especial. Outra coisa: Irma Alvarez é uma das mais belas atrizes que o Brasil produziu. Cara, em qual filme que ela ficou careca para fazer o papel? Ainda estou atrás da revista "Fairplay" que ela foi capa, mas não acho de jeito nenhum. Tenho algumas edições da "Revista do Rádio" em que ela aparece. Se estivessemos nos Estados Unidos, a gente ia ter uma caixa de DVDs do Tanko.
ResponderExcluirMatheus Trunk
www.violaosardinhaepao.blogspot.com
Meu amigo, que bom que anda gostando dos textos aqui no Insensatez, e tê-lo como leitor assíduo é uma honra.
ResponderExcluirEsse filme, que também era doido para ver, passou ontem no Canal Brasil e passa ainda amanhã ou depois.
Aliás, a melhor programação atual do Canal Brasil está no Brasil Cult, que está exibindo filme que sempre fui louco para assistir.
Esse filme com a Irma careca é o incacabado O Cavalo de Oxumaré, do Ruy Guerra.
Pois é, sou também fã do Tanko, que acho genial, mas é mais um cineasta injustiçado
Um abração
Oi Adilson. Acredita que perdi esse filme no CANAL BRASIL?!!! Quero muito assistir! Vai reprisar hoje as 04:30 da manhã! Vou tentar gravar. Seu blog é ótimo! Conheci através do ESTRANHO ENCONTRO. Amo cinema nacional. Quando estudava cinema as produções nacionais sempre foram minha prioridade! parabéns!
ResponderExcluirAlexandre,
ResponderExcluirSeja muito bem-vindo.
Obrigado pelo apreço, e conhecer o Insensatez pelo Estranho Encontro da minha querida Andrea é satisfação dobrada.
Pois é, o filme vai reprisar mesmo, Vale muito a pena assistir.
Você fez cinema?
Um abraço
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOi Adilson, Fiz HISTÓRIA DO CINEMA...Depois meus caminhos foram para o TEATRO. Mas o cinema e principalmente o cinema nacional tem lucar cativo no meu coração. Adoro os filmes da boca do lixo, filmes esquecidos, Walter Hugo e etc. Muito boa sua crítica do filme O MENINO E O VENTO, um dos meus preferidos!
ResponderExcluirBacana, Alexandre.
ResponderExcluirTrabalho com cinema há 20 anos e ocupei ou ocupo diferentes espaços na área - pesquisador, programador de cinema, colunista de jornal, comentarista de rádio. Tenho também um site de pesquisa, o
www.mulheresdocinemabrasileiro.com
onde vai encontrar muita coisa sobre o cinema da Boca, com perfis e entrevistas.
Quando puder, dê uma passada por lá.
Atualmente divido espaço entre cinema e teatro, pois integro uma companhia em BH, além de fazer assessoria de imprensa para cerca de 15 grupos de teatro daqui.
O Menino e o Vento é mesmo uma beleza, e fico feliz que tenha gostado do texto.
Um abraço.
Oi Adilson! Consegui assistir ao filme ontem! Muito bom! Agora fico aguardando os outros filmes baseados na obra do Nelson Rodrigues. Tomara que o CANAL BRASIL um dia os reprise. Esses abaixo nunca consegui assistir:
ResponderExcluir* Somos dois - 1950 - Direção: Milton Rodrigues
* Meu destino é pecar - 1952 - Direção: Manuel Pelufo
* Meu nome é Pelé - 1963 - Direção: Carlos Hugo Christensen
* Bonitinha mas ordinária - 1963 - Direção: J.P. de Carvalho
* Asfalto selvagem - 1964 - Direção: J.B. Tanko
* Boca de ouro - 1990 - Direção: Walter Avancini
Ei Alexandre, que bom que conseguiu ver.
ResponderExcluirDesses que listou só vi O Bonitinha do J.P.Carvalho e o Boca do Avancini - do primeiro gosto muito, do segundo lembro-me que não gostei quando vi no cinema, mas adoraria rever.
Esse do Christensen nem tinha ouvido falar.
Um abraço
Pek,
ResponderExcluirEste é um filmaço!
Bjs.
Acredita que o Avancini fez uma versão do BOCA DE OURO para o mercado americano falado em Inglês? É com o Tarcício Meira também e o nome do filme é BOCA. Como não ví o nacional não posso dizer se é pior mas o americano é bem ruim! Mas fiquei tão curioso que comprei o VHS pelo AMAZON.COM
ResponderExcluirNoel,
ResponderExcluirÉ um belo filme mesmo.
Bjs
Alexandre,
ResponderExcluirSei que existe essa versão do Avancini para os americanos, mas jamais consegui assistir.
Adoraria conhecer.
ABs