terça-feira, 16 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (259)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

259 - Fica Comigo Esta Noite (2006), de João Falcão **1/2

O conto, a novela e o romance estão para a literatura assim como o curta, o média e o longa-metragem estão para o cinema. Afora as diferenças óbvias de linguagem, o pesadelo diferencial é que na primeira todos os formatos têm como porto as livrarias; já no segundo, se o curta encontrou sua janela de exibição nos festivais e o longa lugar de honra nas telas, o média padece de falta crônica de espaço. Cada um desses formatos tem sua lógica de existência, a saber o fôlego de cada relato em palavras ou imagens. Mas como o média está, quase sempre, condenado à prateleira - nem a TV, lugar propício pelo funcionalismo de suas grades, dá-lhe abrigo - ou bate-se a cabeça e faz mesmo assim, ou estica projetos adequadíssimos para ele e os tornam longas. É o que parece ser o caso desse Fica Comigo Esta Noite, segundo filme de João Falcão - o primeiro foi A Máquina (2005). Adaptado da peça homônima de sucesso de Flávio Marinho, o filme de Falcão - ele também diretor de teatro - agrada durante o mostrado, mas deixa sabor de incompletude incômodo na saliva ao final. E não é porque seja daqueles que acabam de repente e nos deixam a ver navios, mas sim por parecer que finalizou sem dar conta de preencher adequadamente seu espaço - daí se fosse média talvez o roteiro se concentrasse mais ao formato e solucionaria melhor suas ambições. Quando se assiste a um curta ou a um média, e o mesmo vale para a leitura de um conto ou de uma novela, já sabemos de antemão que o tempo da narrativa já está configurado e, por isso, o andar da carruagem é particular. Mas quando é longa ou romance, o fôlego da narrativa é maior, e, consequentemente, o nosso também, e por isso consentimos e estamos preparados para, neles, as voltas que o mundo dá. Fica Comigo Essa Noite dá a impressão de que fomos traído nesse acordo e quando o filme termina fica quase impossível não cafifarmos com nossos botões em transe interrompido: uai!; ou vixe!; ou bah!; e etc, dependendo da geografia de cada espectador. A trama, ainda que batidíssima, é sedutora: casal se apaixona à primeira vista, casa rapidinho cheio de paixão, mas a mesma arrefece com o cotidiano. Daí, inesperadamente ele morre, recusa a abandonar a esposa, perambula como fantasma pelo mundo dos vivos, e faz de tudo nem que seja para estar com ela uma última vez. Sucesso nos palcos com Débora Bloch e Luiz Fernando Guimarães - Prêmio Shell para ela - a peça estreou com Marisa Orth e Carlos Moreno, mas foi na remontagem do casal TV Pirata que os teatros ficaram lotados. É tarefa dispensável e injusta analisar o que não há nos filmes, mas é impossível não pensar que se talvez João Falcão tivesse escalado Bloch e Guimarães o resultado teria saído melhor. Isso porque mesmo sendo boa atriz, Aline Moraes ainda não tem - pelo menos aqui - uma persona cinematográfica; e Vladimir Britcha, que é comumente escalado para comédias, não varia muito o repertório de interpretação no gênero, e é dez mil vezes melhor no drama - quem já o viu na peça dramática Hamelin, de André Paes Leme, sabe disso. No elenco, Gustavo Falcão, Clarice e Laura Cardoso, o primeiro como o Fantasma do Coração de Pedra, a segunda como uma estagiária de anjo da guarda, e a terceira como duplo da segunda, protagonizam ótimas sequências - Gustavo faz boa figura em interpretação a la Johnny Deep nos filmes de Tim Burton. Na trilha sonora de Robertinho do Recife, bom uso da música-tema Fica Comigo Essa Noite, de Aldelino Moreira, sucesso eterno na voz de Nelson Gonçalves e aqui interpretada pelo próprio Brichta, e participação luxuosa de Zé Ramalho.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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