quarta-feira, 24 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (265)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

265 - Fuscão Preto (1982), de Jeremias Moreira Filho ***

A refilmagem de O Menino da Porteira no ano passado, levada a cabo pelo mesmo diretor da primeira versão em 1977, trouxe de volta ao set o cineasta paulista Jeremias Moreira Filho. Nome de talento do cinema sertanejo, há nos filmes de Jeremias uma apropriação tão orgânica do universo que retrata, que é como se ele não tivesse feito outra coisa na vida senão domar cavalos, botar gado para pastar e ouvir moda de viola em volta da fogueira. Mas a sua biografia é bem diversa, pois fez Escola de Belas Artes, teatro com Eugênio Kusnet no Centro de Estudos Macunaíma e produção, direção e montagem de filmes publicitários. Nos anos 60 e 70 vai para o set, em diferentes funções, em muito boa companhia - Luis Sérgio Person, Reynaldo de Barros, Olivier Perroy e Roberto Palmari. Por outro lado, nos mesmos anos 60 e 70, o cantor Sérgio Reis, paulista também, transitou pelo bolero, iê-iê-iê, e fez sucesso com a canção Coração de Papel, de sua autoria. Mas a consagração mesmo viria em 1973 quando gravou a música O Menino da Porteira, de Teddy Vieira e Luisinho, passando a direcionar sua carreira para o gênero sertanejo. E foi o encontro entre os dois, Moreira Filho e Reis, que resultou na estreia em longas do primeiro, O Menino da Porteira (1976), seguido de Mágoa de Boiadeiro (1977), ambos estrelados pelo segundo. Os filmes ajudaram a projetar o cantor e colocou o nome de Jeremias Moreira Filho na lista do cinema popular brasileiro. Já na década seguinte, foi mais uma vez uma música de sucesso, Fuscão Preto, e mais um cantor sertanejo, Almir Rogério, que colocaria o cineasta outra vez no set para realizar outro filme, que teve título homônimo da canção. Coincidentemente, Almir Rogério fez sua primeira gravação exatamente de uma música de Sérgio Reis, Triste, na década de 70, mas foi no início dos 80 que sacudiu as rádios AM do país com a música de refrão-chiclete, que virou verdadeiro fenômeno de massa. Daí que Enzo Barone - que produziu filmes para Walter Hugo Khouri - e Ennio Barone botaram dinheiro, Francisco de Assis escreveu o argumento e o roteiro, Jeremias Moreira Filho dirigiu e Almir Rogério protagonizou Fuscão Preto - que durante décadas marcou a precoce depedida do cineasta das telas. Mas esse filme também contou com uma garota, do Rio Grande do Sul, que desde a adolescência vinha galgando a carreira de modelo e já se encontrava em posição de destaque, namorava um certo jogador Camisa 10, integraria a Ford Models, e se tornaria apresentadora de televisão na Rede Manchete. Seu nome, claro, Xuxa Meneghel. Nessa mesma época, Xuxa atua também em Amor Estranho Amor, de Walter Hugo Khouri, que depois, já milionária, consegue, absurdamente, tirar de circulação, já que achou que os amassos com o garoto do elenco em cena não ficaria bem para sua carreira de apresentadora de programa infantil. Em Fuscão Preto, Xuxa está prometida em casamento para o namorado de infância Denis Derkian, que tem Monique Lafond como amante, e só quer se casar com a moça porque seu pai Mário Benvenutti, prefeito da cidade, está de olho na fazenda de Dionísio Azevedo, pai dela. Tudo porque quer instalar nas terras do outro uma plantação de cana para fabricar álcool como combustível. Só que chega na cidade Almir Rogério, um domador de cavalos que se apaixona pela bela, e também um fusca preto que mais parece do além. O tal fuscão agita a cidade, fica obcecado por Xuxa, e ela ficará dividida entre os dois homens e o fascínio incontrolável que sente pelo estranho carro. O argumento do filme boi baseado na canção que diz "me disseram que ela foi vista com outro num fuscão preto pela cidade a rodar". Só que Francisco de Assis criou todo um entrecho no roteiro em que se opõem a tradição, encarnada por Azevedo, que quer manter a fazenda como pasto, e o progresso, encarnado por Benvenutti, que quer mergulhar nas promessas da indústria do álcool. Como progredir nem sempre significa andar por linhas retas, o segundo tentará meios espúrios para conseguir seu intento. O roteiro apostou ainda em um certo ar de mistério e de apelo sexual que ronda o tal fuscão preto - e as cenas sensuais com Xuxa e o carro são sensacionais, com direito a banho de rio e amassos e roças entre corpo e máquina (lembram de Crash - Estranhos Prazeres (1996), de Cronenberg?). Fuscão Preto acabou ganhando ares de cult, algo que seria quase impensável para um filme de temática sertaneja, mas que corresponde à aura criada em torno de si. Principalmente pela presença de Xuxa em mais um papel cheio de desejos inesperados - para a imagem que construiu depois - e pelas soluções que a trama encontra. Ainda no elenco a boa presença do veterano cantor e comediante Zé Coqueiro, que atua em todos os filmes dessa fase do diretor.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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