quarta-feira, 3 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (247)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

247 - Belair (2009), de Noa Bressane e Bruno Safadi ***

Belair, de Noa Bressane e Bruno Safadi, é mais um documentário que usa farto material de arquivo. Só que aqui os diretores optaram por uma ambiência em que o entorno circula - ou pelo menos busca de certa forma isso - na mesma chave desse material. Como se sabe, a Belair foi a produtora que reuniu em 1970 os cineastas Rogério Sganzerla e Julio Bressane, mais a musa Helena Ignez e toda uma trupe - com destaque especial para Maria Gladys - e que produziu sete filmes durante apenas quatro meses. De fevereiro a maio daquele ano vieram à tona A Família do Barulho (Bressane); Carnaval na Lama (Sganzerla), Barão Olavo, O Horrível (Bressane); Copacabana Mon Amour (Sganzerla); Cuidado Madame (Bressane); Sem Essa Aranha (Sganzerla); e a Miss e o Dinossauro, esse uma espécie de making off dos dois últimos - Carnaval desapareceu, de a Miss ficaram algumas imagens. Esse bloco compõe bela página do Cinema Marginal, movimento que agregou muitos outros nomes, como Andrea Tonacci, Carlos Reichenbach, Elyseu Visconti e Jairo Ferreira. A admiração e o reconhecimento de identidade entre Rogério e Julio foi recíproca - A Mulher de Todos (1969), do primeiro, e O Anjo Nasceu (1969), do segundo, foram exibidos no mesmo Festival de Brasília daquele ano - e Rogério foi procurar Julio no hotel de madrugada para conversa que renderia a parceria, a amizade e todo um projeto de cinema. Em O Anjo Nasceu ficamos frente à uma sequência perturbadora. Nela, a câmera fixa em uma estrada durante longos minutos sintetiza em muito o que foi o Cinema Marginal, que pelo registro de exasperação refletia em muito a falta de caminhos para o Brasil afundado nas trevas das ditadura militar. Esse Belair começa um pouco assim, mas em registro diverso, com um barco deslizando pelo mar sem pressa e atravessado pelo sol, compondo bela imagem em estética e em signo decifratório do que viria a seguir. As imagens dos filmes focalizados continuam modernas e impactantes, e ver Ignez, Gladys e Guará Rodrigues- trio infernal do movimento - mais Jorge Loredo, Luiz Gonzaga e Grande Otelo é deleite puro. Noa e Bruno - ele, diretor do interessante Meu Nome é Dindi (2007) - buscam o Julio, Helena e Maria atuais, que assistem trechos do filmes, contam histórias e fazem pequenas observações. Do lado de cá, acompanhamos essa bela viagem e, de quebra, vemos todo um Brasil desfilar pela tela. Ainda que como nas querelas de Aldir Blanc - "o Brasil não conhece o Brasil" - muitos ainda hoje não conheçam essa, entre muitas outras, faces do país.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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