domingo, 31 de outubro de 2010

longas brasileiros em 2010 (245)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

245 - Terra Teu, Terra Come (2010), de Rodrigo Siqueira ****

Rodrigo Siqueira é um cineasta mineiro há quase uma década radicado em São Paulo. E foi na paulista Videofilmes de Walter Salles e João Moreira Salles que encontrou abrigo para fazer esse seu "Terra Deu, Terra Come". Vencedor do último Festival É Tudo de Verdade, de Amir Labaki, no filme o diretor volta ao estado natal e mergulha naquele universo do sertão entranhado na obra de Guimarães Rosa, aqui não menos emaranhado pela cultura afro-brasileira. E é no encontro dessas tradicões mineiras e africanas, que Terra Deu, Terra Come faz mergulho de resgate e de respiro a partir de personagem gigante, o garimpeiro Pedro de Almeida. Morador do quilombo Quartel do Indaiá, distrito de Diamantina, em Minas Gerais, ele é também mestre de cerimônias de velórios e de cortejos fúnebres fincados nas raízes da cultura negra - e confessa mais de uma vez seu receio de que a tradição se perca. Daí, acompanhamos uma dessas cerimônias com a morte de outro morador do lugar, João Batista, longevo em seus possíveis 100 ou 120 anos e apreciador contumaz de cachaça. Pedro de Almeida, a esposa e outros habitantes participam desse ritual e nos permite conhecer tudo aquilo, ao mesmo tempo em que recontam a própria história do garimpeiro. Relatos sobre diamantes, tesouros enterrados e diabo querendo roubar o corpo dos mortos desfilam pela tela e nos desafia a seguir o fio da meada de universo aparentemente tão distante e ao mesmo tempo com ecos tão profundos e misteriosos em todos nós - somos muito daquilo, muito mais do que queremos ou possamos admitir ou saber. Ainda que às vezes se alongue desnecessariamente, o filme prende a atenção e ecoa mesmo muito tempo depois do visto. Terra Deu Terra Come é mais um título a explorar com inteligência os limites entre a realidade e a representação no documentário, além de contar com personagens absolutamente sedutores em sua rusticidade e poesia dual Roseana/africana do sertão.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

2 comentários:

  1. Pek,

    Que pena que dificilmente tal filme entre em cartaz no hoje pobre circuito de Brasília. Depois que o Cine Academia pegou fogo, não há mais espaços que programem filmes alternativos/arte.

    Bjs.

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  2. Pois é Noel, mas a situação de BH também não anda boa não.
    Esse filme assisti na CineBH.
    Atualmente temos apenas 5 salas de cinema alternativo, Belas Artes, Cineclube Savassi e Humberto Mauro - sendo o Belas o único, basicamente, que lança filmes, já que os outros trabalham com reprises e mostras.
    Bjs

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