quinta-feira, 2 de setembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (201)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

201 - A Serpente (1992), de Alberto Magno +

Billy Davis, Nelson Pereira dos Santos, J. B. Tanko, Flávio Tambellini, Leon Hirszman, Arnaldo Jabor, Neville D´Almeida, Braz Chediak, Bruno Barreto, Haroldo Marinho Barbosa. Esses foram alguns dos cineastas que adaptaram Nelson Rodrigues, com melhor ou menor brilho. Mas ainda que se possa encontrar um deslize aqui e acolá nos filmes desses moços, nada se compara a esse A Serpente, que Alberto Magno dirigiu e a Magnus Filmes de Jece Valadão produziu em 1992 . Segundo registro no Dicionário de Filmes Brasileiros, de Antonio Leão, o filme jamais foi lançado comercialmente nos cinemas, ainda que tenha competido no Festival de Brasília daquele ano. Na trama, Monique Lafond e Cristina Bério são as irmãs Lígia e Guida, que vivem no mesmo apartamento com seus maridos Marco Nanini e Jece Valadão, por exigência do presente do pai delas, Ary Fontoura. As duas irmãs têm sentimentos de amor, desejo e repulsa, e quando Monique conta para Cristina que seu casamento não foi consumado e que se devirginou com um lápis, a segunda oferece seu marido, Jece, para que a primeira possa descobrir o prazer com um homem em uma noite de sexo. A partir daí, nada será como antes na vida dos dois casais. O problema entre o balé clássico e o moderno, é que se o primeiro passa incólume pelo tempo, o segundo fica velho quase que imediatamente. Ainda que aqui temos a presença do genial Klauss Vianna na ficha técnica, a abertura dos bailarinos na mata densa que vai parir a serpente Zezé Motta já causa certo desconforto - mesmo que Motta esteja interessante na personificação com os contorcionismos sedutores. Mas o que complica de cara mesmo é a cenografia kitsh de Alberto Cruz, que coloca o signo da serpente de forma onipresente - os personagens estão emaranhados por eles, que viram casa, cama, luminárias e o cambau a quatro - e ainda com direito a uma inacreditável réplica do Cristo Redentor, onde Nanini e Motta se roçam e ele mija sacudindo o pinto. Nessa parte técnica o que salta aos olhos são os belos figurinos de Carlos Prieto, e, sobretudo, a maquiagem que dá um tom hiperrealista no que é mostrado. A estética adotada pelo filme não deixa espaço para o elenco, que também pena na mão da direção. Jece, Monique e Nanini, atores experientes - o primeiro, inclusive, no universo rodrigueano - têm algumas de suas piores atuações: Monique está linda mais inconvincente; Nanini com máscara andrógina só tem praticamente uma cena de destaque quando mostra o pau; e Jece faz cara de quem não está acreditando em nada daquilo e com aparente desconforto do tipo "o que estou fazendo aqui", ainda que a produção seja sua. Mas é Cristina Bério que se sai pior na pele da interessante personagem da irmã que morde e assopra. A Serpente só tem apenas uma hora e vinte de projeção, mas ao final se há algo que não conseguimos ver de jeito nenhum é um lastro sequer do universo sempre impactante de Nelson Rodrigues.

Foto: reprodução retirada do blog O Discreto Charme das Capas

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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