terça-feira, 31 de agosto de 2010

longas brasileiros em 2010 (199)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

199 - Horas Fatais - Cabeças Trocadas (1986), de Francisco Cavalcanti **1/2

Quem botar olhos desavisados nesse Horas Fatais - Cabeças Trocadas, de Francisco Cavalcanti, pode achá-lo um tanto tosco: as locações são naturais e quilômetros de distância de qualquer cartão postal; fora José Mojica Marins não há nenhum ator conhecido do grande público; e as mulheres não são nenhuma Brastemp - Lilian Gonçalves é a única que pode ser reconhecida. Mas basta olhar um pouco mais para ver que há muito mais verdade nesse filme policial que em tantos outros realizado hoje com suas ruas azuladas e estética picotada em clip. De meados dos anos 1970 até a metade dos anos 1990, Charles Bronson barbarizou com sua franquia Desejo de Matar, em que a justiça era feita com as próprias mãos depois que sua mulher e filha eram violentadas por bandidos. Não era argumento original, já que desde o Velho Testamento que o brado "olho por olho dente por dente" já reinava, mas sagrou-se, definitivamente, ovo de colombo de sucesso mundial. Esse Horas Fatais - Cabeças Cortadas parte do mesmo princípio, só que sai o astro Bronson e entra o próprio Francisco Cavalcanti, ator, diretor, roteirista e produtor atuante da Boca do Lixo. Na trama, ele abandona o balcão do bar da praia - do qual era o dono, mas a polícia planta cocaína no local, o tortura barbaramente e ele tem que vender o ponto - depois que a mulher e a cunhada são violentadas e mortas. Os assassinos? Dois playboys da cidade, um deles filho de juiz e acobertado pelo violento e corrupto delegado José Mojica Marins. Como seu filho, ainda criança, viu os assassinos e passa a correr risco, com a ajuda de Turíbio Ruiz, policial aposentado que esconde o menino e ensina Cavalcanti o manejo de armas, ele parte em busca de vingança. No meio disso tudo há ainda um pistoleiro em seu encalço e Clery Cunha - co-diretor do filme - como apresentador de programa justiceiro sensacionalista nos moldes dos Ratinhos, Leões e Datenas da vida. Já na cena inicial, quando vemos aquelas mulheres sem beleza estética sendo estupradas e oferecendo aí o mote para a trama, já se percebe que estamos mesmo é na Boca do Lixo, onde, muitas vezes, a vontade e a capacidade de fazer cinema era muito maior e mais urgente que qualquer preocupação com perfumaria. As atrizes são mulheres como essas tantas que vemos em qualquer centrão de capital, beira de rodoviária ou mesmo nas periferias. E outras soluções encontradas durante o visto também reforça esse viés quase artesanal, mas como indústria pulsante como raras vezes o cinema brasileiro conseguiu ser - a arma lançadora de míssil e principal ferramenta do matador é outro elemento quase inacreditável. Horas Fatais - Cabeças Trocadas pode até ficar no rame-rame dos filmes justiceiros, mas é exemplo inequívoco de que houve um tempo em que o cinema popular o era de fato, sem que para isso se travestisse de prolongamento da estética de novelas consumida no dia-a-dia, atualmente não só na telinha, mas também frequentemente no escurinho do cinema.


Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

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