terça-feira, 29 de junho de 2010

longas brasileiros em 2010 (146)


Longas brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)


146 - Ganga Bruta (1933), de Humberto Mauro *****

Em tempos atuais em que quase tudo é descartável, vê-se, muitas vezes, vigorar a antiga máxima de que em terra de cego quem tem um olho é rei. Daí, a supervalorização de talentos assim assim, palmas de pé para quem mal as merecem sentado e com dedos a estalar miudinho, e a injusta equação em julgamentos apressados para validar genialidade onde não há. Expressões sagradas e rigorosas como obra-prima então virou moeda comum em qualquer balcão de secos e molhados a identificar meros produtos travestidos de arte. Agora, se há um exemplo de obra-prima absoluta no cinema brasileiro não há de se pestanejar quando se está diante de Ganga Bruta, de Humberto Mauro. É incrível como esse filme do início da década de 1930 continua vanguarda até hoje e a por no chinelo muito muito muito do cinema que se faz hoje do Oaipoque ao Chuí - seja independente ou via leis de incentivos, seja BO ou superprodução. Com argumento de Octávio Gabus Mendes, roteiro e direção de Mauro, fotografia de Afrodisio de Castro e Paulo Morano, terceira câmera de Edgar Brasil, e música magistral de Radamés Gnatalli - mais Humberto Mauro - Ganga Bruta é um assombro de beleza, mas nada disso impediu seu fracasso quando foi lançado. Mas nada como o velho e justo tempo para colocar as coisas em seu devido lugar, e hoje Ganga Bruta é um dos maiores filmes de nossa história. Na trama, Durval Bellini mata Lu Marival, a noiva adúltera, em plena noite de núpcias. Absolvido por unanimidade - em décadas e décadas pré-Quem ama não mata - vai descansar no interior. Lá, conhece Déa Selva, cai de amores, e faz o caminho inverso, já que induz a moça ao adultério, já que ela é noiva de Décio Murillo. Ganga Bruta é um assombro de ponta a ponta, com enquadramentos geniais e construções de signos em cenas inesquecíveis - a pipa tomada pela cruz de martírio é uma dessas construções acachapantes. Durval Bellini tem a virilidade adequada para seu personagem e consegue ir do desespero na hora do crime e da surra aloprada em bando em um bar até o enternecimento pelo novo amor. A cena quase coreografada em que brinca de perseguição no jardim com Déa Selva e fica siderado na perna da moça revelada pelo rasgo do vestido pelos arbustos não só culmina em fato decisivo para a trama como também em puro cinema - essa sequência é mais uma entre tantas geniais, pois o clima vai de uma aparente brincadeira de criança até a explosão do desejo imperativo. E para compor essa sinfonia impecável, Mauro contou com a beleza e a jovialidade exuberantes de Déa Selva, uma de nossas maiores deusas, aqui em sua estréia no cinema - ainda no elenco, lugar de destaque também para outra bela musa, Lu Marival. Ganga Bruta é filme de mil estrelas.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

2 comentários:

  1. Pek,

    Gosto muito deste filme, mas nunca o vi em tela grande. Deve ser fantástico.

    Bjs.

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  2. Noel,
    Ver todos esses clássicos em tela de cinema foi mesmo um privilégio.
    Bjs

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