Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
117 - O Cortiço (1978), de Francisco Ramalho Jr **1/2
Se comparar livro e filme é viagem inútil e equivocada, quando o caso é como esse em que temos um dos mais esplendorosos romances da literatura brasileira aí é pura covardia. Lançado em 1890 pelo maranhense Aluísio Azevedo, O Cortiço é um marco do naturalismo e obra-prima líterária. Para quem já leu ou releu, como se esquecer de personagens absolutamente de carne, osso e suor como João Romão, Rita Baiana, Jerônimo, Bertoleza, Firmo e Pombinha? Em 1945, o veterano Luiz "Lulu" de Barros foi o primeiro a levar a saga dos desvalidos personagens para as telas, já a segunda só foi posta a cabo mais de três décadas depois. Dirigido por Francisco Ramalho Jr, também importante produtor de filmes como Das Tripas, Coração (1982), de Ana Carolina, e O Beijo da Mulher Aranha (1985), de Hector Babenco, aqui ele se fez de produzido, pois levantar um filme desse porte demandou alto investimento, que foi bancado pelo produtor Edgar Castro. Na história, Armando Bógus - João Romão - é um português que comanda com sovinice e mau-caratismo a venda e o cortiço onde vivem funcionários e agregados de sua pedreira, além de explorar Jacira Silva - Bertoleza, negra com quem dorme e trata como escrava. Ao lado, mora a família de Maurício do Valle - Barão Miranda, no melhor estilo Casa Grande & Senzala, e objeto de desejo de ascenção social de João Romão. Quando Mário Gomes - Jerônimo - chega ao cortiço com a esposa, Betty Faria - Rita Baiana - se apaixona perdidamente, esquentando ainda mais os ânimos do lugar e atiçando a ira do seu amante Marcus Vinícius - Firmo. O Cortiço reuniu nas telas um dos casais mais explosivos daquele momento, Betty Faria e Mário Gomes, que vinha de sucesso absoluto na novela Duas Vidas (1976/77), de Janete Clair. Na época, inclusive, cirulou boato infame envolvendo o astro e uma inadequada cenoura, e depois creditado a dor de corno de marido traído. Betty e Mário funcionam bem, ainda que o roteiro, também de Ramalho, não esteja à altura da matriz e não dê conta das matizes dos personagens - pelo menos uma cena de sexo dos dois à beira mar é tesuda. O Mesmo pode se dizer de Armando Bógus, que ainda que repita registro de interpretação, compõe bem seu João Romão. De resto, todos os outros personagens somem e os atores idem. A força do livro está no delineamento perfeito de cada personagem, ainda que para se confundirem e se misturarem naquela caldeira do diabo do cortiço, onde todos os seus dramas são encenados, revividos, julgados, punidos ou absolvidos. É o ambiente que manda na vida rude e crua dos habitantes do fétido lugar, todos eles explorados em sangue por João Romão. Só que do jeito que o roteiro ficou, não vemos muita força nem no conjunto e tampouco no individual. É importante ressaltar que na primeira metade o filme anda bem, e percebe-se lastro de pulsação no que é mostrado. Mas a medida que a história avança, o vigor vai desaparecendo, quando o contrário é que deveria imperar - o destino de Bertoleza então, um dos personagens mais impactantes, fica parecendo picolé de chuchu. Um dos pontos altos é Rita Baiana, a música envolvente de John Neschling na voz quente de Zezé Motta, e que extrapolou o filme e fez sucesso no rádio na época.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
(em 2009 - 315 filmes)
117 - O Cortiço (1978), de Francisco Ramalho Jr **1/2
Se comparar livro e filme é viagem inútil e equivocada, quando o caso é como esse em que temos um dos mais esplendorosos romances da literatura brasileira aí é pura covardia. Lançado em 1890 pelo maranhense Aluísio Azevedo, O Cortiço é um marco do naturalismo e obra-prima líterária. Para quem já leu ou releu, como se esquecer de personagens absolutamente de carne, osso e suor como João Romão, Rita Baiana, Jerônimo, Bertoleza, Firmo e Pombinha? Em 1945, o veterano Luiz "Lulu" de Barros foi o primeiro a levar a saga dos desvalidos personagens para as telas, já a segunda só foi posta a cabo mais de três décadas depois. Dirigido por Francisco Ramalho Jr, também importante produtor de filmes como Das Tripas, Coração (1982), de Ana Carolina, e O Beijo da Mulher Aranha (1985), de Hector Babenco, aqui ele se fez de produzido, pois levantar um filme desse porte demandou alto investimento, que foi bancado pelo produtor Edgar Castro. Na história, Armando Bógus - João Romão - é um português que comanda com sovinice e mau-caratismo a venda e o cortiço onde vivem funcionários e agregados de sua pedreira, além de explorar Jacira Silva - Bertoleza, negra com quem dorme e trata como escrava. Ao lado, mora a família de Maurício do Valle - Barão Miranda, no melhor estilo Casa Grande & Senzala, e objeto de desejo de ascenção social de João Romão. Quando Mário Gomes - Jerônimo - chega ao cortiço com a esposa, Betty Faria - Rita Baiana - se apaixona perdidamente, esquentando ainda mais os ânimos do lugar e atiçando a ira do seu amante Marcus Vinícius - Firmo. O Cortiço reuniu nas telas um dos casais mais explosivos daquele momento, Betty Faria e Mário Gomes, que vinha de sucesso absoluto na novela Duas Vidas (1976/77), de Janete Clair. Na época, inclusive, cirulou boato infame envolvendo o astro e uma inadequada cenoura, e depois creditado a dor de corno de marido traído. Betty e Mário funcionam bem, ainda que o roteiro, também de Ramalho, não esteja à altura da matriz e não dê conta das matizes dos personagens - pelo menos uma cena de sexo dos dois à beira mar é tesuda. O Mesmo pode se dizer de Armando Bógus, que ainda que repita registro de interpretação, compõe bem seu João Romão. De resto, todos os outros personagens somem e os atores idem. A força do livro está no delineamento perfeito de cada personagem, ainda que para se confundirem e se misturarem naquela caldeira do diabo do cortiço, onde todos os seus dramas são encenados, revividos, julgados, punidos ou absolvidos. É o ambiente que manda na vida rude e crua dos habitantes do fétido lugar, todos eles explorados em sangue por João Romão. Só que do jeito que o roteiro ficou, não vemos muita força nem no conjunto e tampouco no individual. É importante ressaltar que na primeira metade o filme anda bem, e percebe-se lastro de pulsação no que é mostrado. Mas a medida que a história avança, o vigor vai desaparecendo, quando o contrário é que deveria imperar - o destino de Bertoleza então, um dos personagens mais impactantes, fica parecendo picolé de chuchu. Um dos pontos altos é Rita Baiana, a música envolvente de John Neschling na voz quente de Zezé Motta, e que extrapolou o filme e fez sucesso no rádio na época.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
o cortiço é um dos livros que mais amei na vida! e ainda tem uma rita. mas o filme nunca vi.
ResponderExcluirRita,
ResponderExcluirTenho paixão pelo livro.
É sensacional!!!
Bjs