Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)
113 - Ganga Zumba (1964), de Carlos Diegues *****
Ganga Zumba marcou a estreia de Cacá Diegues em filmes de longa-metragem com a história de escravos que vivem a dura realidade de sua condição, mas que sonham fugir para viverem no Quilombo dos Palmares, onde todos são iguais. São, dentre eles, Antonio Pitanga, Eliezer Gomes e Cartola, mais as duas escravas pelas quais Ganga Zumba vai se apaixonar, Léa Garcia e Luiza Maranhão. Depois de sofrimentos no tronco e nas mãos de feitores e dos capitães do mato, Eliezer Gomes conscientiza seus pares sobre questões como justiça e liberdade, e guiados por Jorge Coutinho partem em busca do Quilombo. Durante a fuga eles são perseguidos sem trégua, em trajetória inciadora que confirmará Ganga Zumba como líder de seu povo. Nenhum outro cineasta não negro - pelo menos não totalmente - se debruçou com tanto foco sobre essa cultura como Cacá Diegues. E aí tanto vale para filmes específicos sobre ela, como esse Ganga Zumba, Xica da Silva (1976), Quilombo (1984) e Orfeu (1999), como também reservando papéis para atores negros sem que os personagens assim exigissem, como o delegado de Milton Gonçalves em Um Trem Para as Estrelas (1987), e a dubladora de Zezé Motta em Dias Melhores Virão (1989) - e que é o que sempre deveria ser. Já que, em grande parte, seja no cinema ou, principalmente, na televisão, hordas de atores negros são recrutadas quase sempre mesmo para filmes e novelas de época e que contém escravos. Ganga Zumba é uma belíssima estreia, pois é filme que jamais espetaculariza os negros e faz registro duro e seco, ainda que sem abrir mão da poesia. Com roteiro do GRANDE Leopoldo Serran - mais Rubem Rocha Filho e Cacá - o filme é baseado em romance de João Felício dos Santos, o mesmo de Xica da Silva. Todos os atores estão ótimos, com Eliezer Gomes confirmando o talento revelado em Assalto ao Trem Pagador (1962), de Roberto Farias, Antonio Pitanga segurando com pulso firme mais um protagonista, Jorge Coutinho com o porte e elegância apropriados como o guia, e um surpreendente Cartola como ator. Já no elenco feminino, Luiza Maranhão impõe sua beleza altiva, mas quem rouba a cena mesmo é Léa Garcia - são marcantes vários de seus momentos, como o seu cantarolar, a cena de amor com Pitanga no rio, o arrastar no chão para apanhar o leque, o encontro com o escravo fugido. Não à toa, Léa se tornou uma das principais musas do cineasta, ao lado de Zezé Motta. Com tantos destaques, um dos maiores desse Ganga Zumba é, com certeza, a majestosa música de Moacir Santos, com participação nos vocais de Nara Leão - inesquecível, impactante e irresistível.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
(em 2009 - 315 filmes)
113 - Ganga Zumba (1964), de Carlos Diegues *****
Ganga Zumba marcou a estreia de Cacá Diegues em filmes de longa-metragem com a história de escravos que vivem a dura realidade de sua condição, mas que sonham fugir para viverem no Quilombo dos Palmares, onde todos são iguais. São, dentre eles, Antonio Pitanga, Eliezer Gomes e Cartola, mais as duas escravas pelas quais Ganga Zumba vai se apaixonar, Léa Garcia e Luiza Maranhão. Depois de sofrimentos no tronco e nas mãos de feitores e dos capitães do mato, Eliezer Gomes conscientiza seus pares sobre questões como justiça e liberdade, e guiados por Jorge Coutinho partem em busca do Quilombo. Durante a fuga eles são perseguidos sem trégua, em trajetória inciadora que confirmará Ganga Zumba como líder de seu povo. Nenhum outro cineasta não negro - pelo menos não totalmente - se debruçou com tanto foco sobre essa cultura como Cacá Diegues. E aí tanto vale para filmes específicos sobre ela, como esse Ganga Zumba, Xica da Silva (1976), Quilombo (1984) e Orfeu (1999), como também reservando papéis para atores negros sem que os personagens assim exigissem, como o delegado de Milton Gonçalves em Um Trem Para as Estrelas (1987), e a dubladora de Zezé Motta em Dias Melhores Virão (1989) - e que é o que sempre deveria ser. Já que, em grande parte, seja no cinema ou, principalmente, na televisão, hordas de atores negros são recrutadas quase sempre mesmo para filmes e novelas de época e que contém escravos. Ganga Zumba é uma belíssima estreia, pois é filme que jamais espetaculariza os negros e faz registro duro e seco, ainda que sem abrir mão da poesia. Com roteiro do GRANDE Leopoldo Serran - mais Rubem Rocha Filho e Cacá - o filme é baseado em romance de João Felício dos Santos, o mesmo de Xica da Silva. Todos os atores estão ótimos, com Eliezer Gomes confirmando o talento revelado em Assalto ao Trem Pagador (1962), de Roberto Farias, Antonio Pitanga segurando com pulso firme mais um protagonista, Jorge Coutinho com o porte e elegância apropriados como o guia, e um surpreendente Cartola como ator. Já no elenco feminino, Luiza Maranhão impõe sua beleza altiva, mas quem rouba a cena mesmo é Léa Garcia - são marcantes vários de seus momentos, como o seu cantarolar, a cena de amor com Pitanga no rio, o arrastar no chão para apanhar o leque, o encontro com o escravo fugido. Não à toa, Léa se tornou uma das principais musas do cineasta, ao lado de Zezé Motta. Com tantos destaques, um dos maiores desse Ganga Zumba é, com certeza, a majestosa música de Moacir Santos, com participação nos vocais de Nara Leão - inesquecível, impactante e irresistível.
Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo
Um dos meus preferidos do Cacá, diretor capaz de obras-primas como Quando o Carnaval Chegar e Joana a Francesa, mas também de bombas terríveis como Quilombo e Tieta.
ResponderExcluirUm abraço.
Sérgio, eu gosto de Tieta, não gosto é do Orfeu.
ResponderExcluirMas do Cacá, minha paixão mesmo é Chuvas de Verão.
E gosto muito também do Bye Bye Brasil, mais o Joana.
Abração
Eu adoro CHUVAS DE VERÃO, mas a maior parte do que vi do Cacá é bem ruim. Mas o cara tem moral ainda. Foi pra Cannes e tudo. É falta de opção? hehehe
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