domingo, 21 de junho de 2009

segundo dia na 4ª Cineop


Programação intensa ontem na 4ª Cineop, com debates e exibição de filmes.

O debate Mulheres do anos 70: O poder do corpo e sobre o corpo, mediado pelo crítico e curador da Mostra, Cléber Eduardo, reuniu na mesa o cineasta Carlos Diegues, a homenageada Zezé Motta, a produtora Lucy Barreto e a atriz Zilda Mayo.

Zilda Mayo, uma das mais amadas musas da Boca do Lixo, roubou a cena com seu testemunho sobre o modelo de produção na Boca e como era ser uma atriz da Rua do Triunfo.

Engraçada, Zilda divertiu a platéia com seus relatos espontâneos e de honesta veracidade. Para os mais atentos era possível ver ali, nitidamente, uma fala política das mais transparentes e pertinentes.

Como quando a atriz disse que muitos atores-atrizes que ficaram famosos depois em outras mídias, como a TV, nunca falam sobre os filmes que fizeram no período, e que retiram as pornochanchadas do currículo. E que ela faz questão de colocar os 42 em que atuou.

E aí emendou:

- Ouço minhas atrizes falando em nu artístico. E eu escuto isso e acho graça. Nu artístico... Nu é nu, e pronto.

Zezé Motta, nessa hora, fez aparte divertido, e disse que realmente nunca fala sobre as duas únicas pornochanchadas que fez, e citou que ficou reticente em aceitar fazer Um Varão Entre as Mulheres, de Victor di Mello, que leu o roteiro e achou que aquilo não prestava, que devolveu e disse que não faria.

Mas aí falaram para ela sobre a grana, ela viu que era boa, estava precisando na época, e disse "me dá o roteiro de volta".

E aí fez o filme. E emendou divertida, que Zilda tinha razão, pois ela mesmo nunca citava esse trabalho ao falar de sua carreira.

Cléber Eduardo colocou uma observação interessante, e que estava no mote do debate, sobre a alta carga de sexualidade nos filmes da década de 70 e o poder do corpo daquelas mulheres. E avaliou Xica da Silva, de Carlos Diegues, dizendo que aquela persoagem usou do poder do corpo para infiltrar no corpo do poder.

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Tive a opotunidade de entrevistar Zilda Mayo depois do debate em exclusiva e constatar que, além de musa do Boca e de ser naturalmente divertida, tem também uma fala política interessante, daquele tipo de política da prática cotidiana - em breve a entrevista será publicada no site Mulheres do Cinema Brasileiro, inseto-mor aí ao lado.

Para o Mulheres, conversei também com o cineasta Neville D´Almeida, diretor de A Dama do Lotação - um dos filmes da Mostra, que fez bela homenagem a uma grande atriz do cinema brasileiro - também será publicada em breve.

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Se o debate foi à tarde, à noite foi a vez de assistir dois filmes:

- Um Homem de Moral, de Ricardo Dias;
- e A Ilha dos Prazeres Proibidos de Carlos Reichenbach - foto sessão de exibição de Netun Lima.

Um Homem de Moral é sobre Paulo Vanzolini, o cientista dos laboratórios de pesquisa e compositor de grandes sucessos da música brasileira, como Ronda e Volta por Cima.

O filme levou um bom tempo para me conquistar, pois só me seduziu na segunda metade. Gosto do tema e dos intérpretes selecionados para entoar as músicas do compositor, quase todos de artistas de fora da mídia - exceção para Chico Buarque, Paulinho da Viola, Martinho da Vila e Miucha.

E gostei de alguns momentos inspirados, como a participação da cantora Virgínia Rosa - excelente cantora conhecida na roda dos iniciados, mas ainda desconhecida para o grande público.

E também da sequência com anônimos cantando versos da música Volta por Cima, de onde Ricardo Dias tirou o título do seu filme.

Sem querer ser piegas ou mesmo nacionalista, vendo aqueles rostos anônimos me deu, internamente, uma alegria enorme de ser brasileiro.

Me reconheci por inteiro naqueles rostos.

Depois foi a vez de rever - terceira ou quarta vez - A Ilha dos Prazeres Proibidos, de Carlos Reichenbach.

O filme foi apresentado por Carlão, ladeado por Zilda Mayo e Neide Ribeiro, duas das estrelas de seu belo filme - que maravilha se Meyre Vieira também estivesse presente.

Neide Ribeiro também divertiu contando o que ela e Carlão tinham comentado nos bastidores.

Neide disse que é um tanto surda de um ouvido e, com isso, acontecia regularmente de ela continuar atuando, mesmo depois do diretor gritar "corta".

Carlão, sempre articulado e encantador, contou que Galante deu os recusos para ele fazer o filme, mas disse:

- Você pode até fazer aqueles filmes que ninguém entende, mas coloca mulher pelada.

Como se sabe, muitas vezes um filme cresce ou despenca quando o revisitamos. Como já vi A Ilha dos Prazeres Proibidos mais de duas vezes só posso dizer que o filme só faz crescer em minha mente e em meu coração.

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A noite terminou com show de Zezé Motta no Cine-Bar do Centro de Convenções.

Foi o mesmo belo show que ela fez recentemente em Belo Horizonte, acompanhada nos teclados por Ricardo McCord - parceiro habitual de Angela Ro Ro.

Como em BH, a mesma impressão:

- Parece que havia uma banda. A voz de Zezé é tão poderosa, Ricardo é tão bom, e o repertório é tão inspirado que não precisava de mais nada.

Como já tinha visto o show e o Cine-Bar estava lotado, fiquei mais escutando que assistindo, além da boa conversa com amigos queridos.

2 comentários:

  1. Pek,

    tinha deixado um comentário aqui ontem, mas acho que não foi enviado. Escrevi que morro de vontade de estar em Ouro Preto com você nesta maratona de filmes nacionais.

    Bjs.

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  2. Pois é Noel, está bacana mesmo.
    Principalmente no meu caso, já que, como repeti mil vezes, adoro o cinema dos anos 70.
    Bjs

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