quinta-feira, 8 de abril de 2010

quarta-feira, 7 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (80)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

080 - Pornô! (1981)

Episódio As Gazelas, de Luiz Castillini **1/2
Episódio O Prazer da Virtude, de David Cardoso ***
Episódio O Gafanhoto, de John Doo *****


Quando na abertura de Pornô! a gente escuta versão instrumental que lembra o sucesso sacolejante da Disco Kung Fu Fighting, de Carl Douglas, e vemos cenas do filme que iremos assistir, a gente já gosta de cara - a música do filme creditada no Dicionário de Filmes Brasileiros, do Antonio Leão, é de Ronaldo Lark. E essa impressão não só se reforça, como segue em crescente a cada episódio. Realizado no inicio da década de 1980, quando as comédias eróticas ficam mais apimentadas e a Boca do Lixo, posteriormente, faria caminho irreversível para o sexo explícito, Pornô! sintetiza muito do melhor desse memorável pólo de produção pré-explícito -e é curioso que de pornô o filme não tenha nada. Primeiro são as musas, já que cada episódio é protagonizado por uma: Patrícia Scalvi em As Gazelas - com ainda Maristela Moreno; Matilde Mastrangi em O Prazer da Virtude; Zélia Diniz em O Gafanhoto. O roteiro de Ody Fraga parece ter sido feito mesmo por encomenda para cada uma delas - ainda que Zélia Diniz não fosse a atriz que faria o filme. No primeiro, Patricia Scalvi e Maristela Moreno vão para a casa da segunda para estudar, mas falam mesmo é de sexo, sobretudo sobre a preferência homossexual. E enquanto se excitam com revistas pornôs, trocam intimidades na cama e no banho. No segundo episódio, Matilde Mastrangi e David Cardoso se conhecem em um festa, ele de smoking e ela vestida para matar. Quando David a leva para casa, acompanhamos a espera e a pressa dela por uma transa, enquanto ele, sem pressa alguma, prepara o clima para a cartada final. Já no último, Zélia Diniz e Arthur Rovedeer formam um casal rico e aparentemente feliz. Só que o que os dois vivem é uma relação de absoluto controle dela sobre ele, que apesar de ser cega o vigia através dos espelhos espalhados por toda a casa. Quando um gafanhoto invade o quarto do marido, ele o aprisiona e se identifica com esse estado de cerceamento. Daí prepara vingança contra a esposa usando o gafanhoto como objeto erótico. Patrícia Scalvi estava com a idade um pouquinho além para a possível virgindade de sua personagem, mas talentosíssima e por isso mesmo compõe com altivez e deboche sua Maria Helena. Matilde Mastrangi, linda linda linda, apropria-se como ninguém dos diálogos sacanas de Ody e dá veracidade para cada frase de sua Ilona - além de um David Cardoso vaidoso, que faz questão de exibir nu frontal em cena no chuveiro convidativa ao voyerismo. Já Zélia Diniz, uma musa com todos os predicados - linda, gostosona e ótima atriz - faz a cega Diana em misto de perversidade e fragilidade na medida certa - e ainda conta com boas atuações de Rovedeer e de Liana Duval. Se o primeiro episódio conquista por causa da presença de Scalvi e o segundo pelos diálogos sacanas e a química de Matilde e David, é no terceiro, O Gafanhoto, que Pornô! alcança status de filme memorável. John Doo mostra mais uma vez porque era um dos mais talentosos cineastas da Boca e dono de um estilo particularíssimo. Seu episódio tesa, inquieta e assusta em impactante construção de ambiências e amplos significados de leituras. Vale acrescentar também porque Pornô! sintetiza bem o talento da Boca além do que já foi dito. A produção reúne um verdadeiro quem é quem do pedaço - afora os atores e cineastas, tem Ody Fraga no argumento e roteiro, a fotografia e câmera imponentes do esteta Claudio Portioli; a assistência de câmera de Concórdio Matarazzo; a montagem esperta de Jair Garcia Duarte, a assistência de direção de Guilherme de Almeida Prado; e a produção caprichada da Dacar Produções. Pornô! é o exemplo claro de que, ao contrário do que muita gente desinformada pensa, a Boca do Lixo também apostava na inteligência de seu público.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

terça-feira, 6 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (79)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

079 - O Barão Otelo no Barato dos Bilhões (1971), de Miguel Borges ***

Anárquico até a medula, O Barão Otelo no Barato dos Bilhões não é tão bom como Pecado na Sacristia (1975), mas diz muito do talento e da força do cinema de Miguel Borges. Ainda que se alongue mais que o necessário e apresente alguns entraves, o interesse permanece. E permanece porque o protagonista é um dos 10 maiores atores que esse país já produziu: Grande Otelo. O Barão Otelo é o tipico filme calcado no talento e carisma de seu protagonista, ainda que cercado de um elenco de primeira. E assistindo Otelo e vendo sua forma particularíssima de dizer suas falas, temos certeza mais uma vez que estamos diante de um gênio, ainda que o filme não corresponda à essa genialidade. Na trama ele é João Sem Direção, um faz tudo que se vira como pode: ataca de frentista, onde surrupia a marmita coletiva no canudinho; faz-se de gandula no Maracanã, com direito a baratinar a cuca do árbitro com a noção de tempo; e entre um trampo e outro, vende bandeiras e o que mais for ao gosto do freguês no congestionamento do trânsito. Um de seus clientes do posto de gasolina é Ivan Cândido, um malandro com pinta de empresário que propõe ganho fácil para Otelo: jogar na loteria esportiva para ele com garantia de porcentagem no prêmio. E Otelo que sequer ouvira falar em loteria, topa a empreitada, estrepa-se na primeira tentativa em forjar resultado favorável, mas mais tarde se torna um bilionário, arrastando atrás de si um séquito de olho na sua butique. O filme saracoteia para lá e para cá sem muito nexo ou linearidade, e seus personagens parecem mais signos sem maior sentido de verossimilhança no entendimento clássico do que é um personagem. A força de cada um se impõe sobretudo pelos atores, que estão muito bem - além de Otelo e Ivan, tem ainda Milton Moraes em aparição impagável, e mais Dina Sfat, Wilson Grey, Rogério Fróes, Elke Maravilha e grande elenco. Produzido por Luiz Carlos Barreto e distribuído pela Difilm, O Barão Otelo tem onipresença de Miguel, que além da direção assina o argumento, o roteiro e a montagem - e é aí que pode estar mesmo seu calcanhar de aquiles, como ele credita em livro da Coleção Aplauso para Antonio Leão. Ainda assim vale a pena ver Grande Otelo arrasando de ponta a ponta. E suas entradas e saídas esbaforidas das casas das esposas já valem o ingresso.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (114)



Samantha Eggar.



Nu!!!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (78)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

078 - Diamante Bruto (1977), de Orlando Senna ***

Em 1974, Orlando Senna e Jorge Bodanzky se uniram para realizarem uma obra-prima do cinema brasileiro: Iracema - Uma Transa Amazônica. Três anos depois, Senna dirige mais um filme com forte caráter documental, uma das marcas de seu cinema: Diamante Bruto. Em Iracema, ficção e realidade se entrelaçavam para os cineastas falarem da Transamazônica e todo os seus males bem diversos da propaganda oficial. Já em Diamante Bruto, Senna adapta o romance A Bugrinha, de Afrânio Peixoto, para falar dessa vez da cultura do garimpo em Lençóis, na Chapada Diamantina - daí acompanhamos a dura realidade dos garimpeiros, suas práticas predatórias para real ganhos de outrem, e o choque entre a tecnologia que se azivinha e as práticas rudimentarem que persistem. Assim como em Iracema, há uma dupla de registros diversos: lá, com Paulo César Peréio e a atriz-nativa Edna de Cássia; aqui, com José Wilker e a atriz-nativa Gilda. E ainda que não tenha um par explosivo como no filme anterior, Diamante Bruto se vale muito desse encontro entre Wilker e Gida, sobretudo pela presença dela, o verdadeiro diamante bruto. Os diálogos podem até não ganhar força na interpretação intuitiva e deficitária de Gilda, mas seu porte é tão petulantemente altivo, que ela quase sempre engole Wilker, então em registro econômico - a não ser quando se rebela contra ela em crise de ciúmes. Na trama, ele é um astro de telenovela que retorna à cidade natal 20 anos depois. Sua volta é principalmente para rever Bugrinha, ideário de amor de infância naqueles moldes de relação entre o filho do patrão e a negra filha de empregados, em modelo diluído de Casa Grande & Senzala. A diferença é que Bugrinha, e parece que desde pequena, nunca se submete ao amor-patrão, pelo menos não da forma como ele gostaria. Em inesperada afronta feminista, ela proclama que o amor por ele basta a si própria sem, necessariamente, ter que ser amada. Ou seja, o que poderia ser submissão é altivez, pois é tão absoluta dona do seu amor que sequer precisa dele para consumá-lo. E ele, um rapaz da cidade e instruído, não consegue entender e aceitar essa forma de amor, o que resultará em escapulidas que denotam seu ar senhorio - em cena esclarecedora de que ainda está atrelado ao coronelismo, exclama "mas como me fará mal se é empregado do meu pai?" - e selará seus destinos. Diamante Bruto é daqueles filmes singulares que parece que só os anos 1970 eram mesmo capazes de parir, já que os de hoje, muitas vezes, seguem cartilhas milimetramente calculadas - com exceções para alguns como o notável Narradores de Javé (2002), de Eliane Caffé. E é quando se assiste a filmes assim é que se constata como é mesmo rico o baú do cinema nacional, a dar de dez no que dizem hoje sobre diversidade.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

domingo, 4 de abril de 2010

longas brasileiros em 2010 (77)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

077 - As Mulheres Sempre Querem Mais ( (1975), de Roberto Mauro +

Obs.: não encontrei imagem do filme.

Para quem ainda confunde o cinema popular dos anos 70 e coloca tudo no mesmo balaio da pornochanchada, os filmes de Roberto Mauro são bons exemplos de distinção entre um e outro. Diretor profícuo de pornochanchadas, em sua trajétória de quase 20 filmes ele realizou filmes de interesse divertido como As Cangaceiras Eróticas (1974) e A Ilha das Cangaceiras Virgens (1976), até outros muito ruins como esse As Mulheres Sempre Querem Mais, um de seus primeiros trabalhos. Aqui Oasis Minniti (foto) é Ricardo, o gostosão e canastríssimo galã por quem todas as mulheres da cidade suspiram e molham as calcinhas. Só que, para desespero dele e, sobretudo, da mulherada, Ricardo desenvolveu uma fobia que invariavelmente põe tudo a perder na hora agá: só consegue trepar no mais aboluto silêncio. Daí acompanhamos suas inúmeras transas interrompidas por barulhos os mais diversos, como apito de trem, canto de galo, tiro, badalar de sinos, e por aí afora - e antes do filme começar os produtores já colocam legenda gaiata pedindo para a platéia não fazer barulho para ajudar o rapaz. A fama de frouxo se espalha pela cidade e atrapalha as ambições políticas do pai Sady Cabral, que quer honrar a macheza da família e daí se encerra com a mulher na quarto em tentativa de trepada regada a sacos de amendoim. As Mulheres Sempre Querem Mais é o terceiro de Mauro, mas ele já abusa dos recursos das mais manjadas pornochanchadas, como explorar o risível de forma canhestra e sutileza de elefante. Chega mesmo a executar contra-plongé literalmente debaixo das saias das meninas fartas e um tanto deselegantes. E anuncia a interessante Maria Isabel de Lizandra como protagonista ao lado de Minniti, o que é um descalabro, pois a moça aparece apenas em duas cenas - mas é nome mais conhecido do elenco, além da sempre ótima e imponente Ruthinea de Moraes, e uma louríssima Helena Ramos ainda em inicinho de carreira. O filme não entra nem naquela famosa equação daqueles que de tão ruins ficam bons. Esquecível.


Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

longas brasileiros em 2010 (76)


Filmes brasileiros assistidos ou revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

076 - Hans Staden (1999), de Luis Alberto Pereira ***1/2

Em 1548 e 1550 o aventureiro alemão Hans Staden fez duas viagens ao Brasil, e na segunda, depois de seu navio naufragar, ficou trabalhando com os portugueses durante dois anos em um forte. É aí que se torna prisioneiro dos Tupinambás, tribo que praticava o canibalismo, sobretudo de portugueses, de quem são inimigos. Durante nove meses, Hans faz de tudo para evitar ir para a panela - se faz de françês, de vidente, de curandeiro, e de protegido de seu deus. E enquanto acompanhamos suas artimanhas, vemos o dia a dia da aldeia, suas lutas com os Tupiniquins, e as doenças que os assolam e que acabarão, ao lado das matanças, por dizimá-los - é piada involuntária a Bayer como apoiadora e com seu slogan como primeira imagem antes do filme. Quando volta à Europa, Hans Staden publica dois livros sobre sua experiência, importantes obras sociológicas e repassadoras de uma idéia sobre o Brasil dos primeiros tempos de colonização. Afora ser um filme de Luis Alberto Pereira, um cineasta empenhado, o nome de Marlui Miranda na ficha técnica já denota a seriedade de pesquisa que envolve esse Hans Staden. E um dos trunfos do filme é a língua tupi falada pelos atores, índios e não índios. Ao mesmo tempo, as legendas incomodam um pouco pois uniformiza o vocabulário, e daí lemos um português altamente elaborado, o que nos distancia um pouco daquela realidade primitiva, e sofisticada, dos índios. Carlos Evelyn está bem como Hans, pois não apresenta um carisma especial, o que tem seu efeito positivo para a composição do personagem, pois Staden não passava mesmo de um mercenário como tantos outros aventureiros da época querendo enriquecer às custas de sangue alheio e extermínio de povos inteiros. E é ponto positivo também sua entrega ao balançar o pingolim para lá e para cá o tempo inteiro e sem pudor, já que passa o filme praticamente todo nu. O mesmo vale para os outros atores, entre eles Ariana Messias, Beto Simas e Stênio Garcia. Ponto alto da produção, já que muitos filmes adoram colocar indios carnavalescos e vestidos, muito antes do guarda-roupa da Funai. Na linhagem da A Lenda de Ubirajara (1975), de André Luiz Oliveira, mas inferior a este, Hans Staden tem uma sobriedade e secura a dar lição para monstrengos como O Guarani (1996), de Norma Bengell.

Cotações:
+ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo