Direção: Wilson Rodrigues
Heitor Gaiotti de gato com direito a rabão grosso e look
antropofágico de A bela e a fera, de Jean Cocteau; Felipe Levy de rei que faz
cara de que não acredita minimante nesse figurino de manto, cetro e coroa; Zezé
Motta transformada em coruja; Joffre Soares de feiticeiro com estampa
psicodélica; um elenco que junta Maurício Mattar, Tony Tornado, Zé do Caixão e Tônia
Carreiro; e tudo embalado pela trilha sonora de Blade Runner – o caçador de androides.
Ah, e ainda tem nave espacial, que parece ter sido feita mesmo de papel crepom. E o nome do
filme - que é por si só uma maravilha? O gato de botas extraterrestre. Pois é, o
baú do cinema brasileiro não é para amadores e tampouco minimamente assemelhado
a essas comédias em pencas atuais que fazem as bilheterias tilintarem. Quer
coquetel mais saboroso que esse? Ok, ok, a receita pode desandar ali e acolá, mas é
muita criatividade nonsense, o que valeria anos de aprendizado por
correspondência pelo Instituto Universal Brasileiro para inúmeros e empostados cineastas
atuais que acham sempre que estão reinventando a roda. O responsável por isso
tudo? O mineiro radicado em São Paulo, Wilson Rodrigues, diretor e também
produtor da façanha.
Em O gato de botas extraterrestre somos conduzidos à fábula
de Perrault reescrita pelos Irmãos Grimm, em adaptação de Rubens F. Luccheti –
só que dessa vez o bamba parece ter ligado o foda-se e o roteiro morno contradiz
sua habitual mente criativa. Quem deita e rola mesmo é o diretor – ainda que isso não signifique injeção de adrenalina. Na história, o dono de um moinho morre e deixa
a herança para os três filhos: a propriedade para o mais velho; um burro para o
do meio; e um gato para o caçula. Só que não é um gato qualquer não. Ele tem o
tamanho dos marmanjos, caminha em duas pernas, e fala baldes – ainda que
ninguém estranhe nada disso, seja a realeza, seja a plebe. Ele então bola um
plano rocambolesco para mudar a vida de seu dono miserável - um Maurício Mattar
na extrema beleza de seus poucos mais de vinte anos, dois depois de estampar –
para alegria quase geral - o pau em close em O cinema falado (1986), de Caetano
Veloso. O tal quiproquó o fará se tornar um marquês riquíssimo, dono de terras
e de castelo, e pretendente natural à
mão da filha do rei – uma Flávia Monteiro de princesa só no estilo caras e bocas. Bom, mais aí tem o
detalhe extraterreste do título, né? E que diabos de recurso foi esse enxertado
na clássica fábula? Ora ora ora, melhor não revelar, pois isso torna tudo ainda
mais delirante. O filme é creditado no "Dicionário de
Cineastas Brasileiros", de Luiz F. A Miranda, com a data de 1988 – a publicação sempre prioriza a realização; mas parece que o lançamento foi só depois, em
1990. Produção infanto-juvenil que mais parece viagem de LSD em slow motion –
são inacreditáveis os longos tiriricotés de rabos abanando do tal bichano pelos
campos -, O gato de botas extraterrestre, se degustado com diversão zombeteira e piscadela de olho, pode se transformar em momento
único. Mas aí vai depender do gosto do freguês.
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