quinta-feira, 11 de novembro de 2010

longas brasileiros em 2010 (254)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

254 - O Forte (1973), de Olney São Paulo ***1/2

Além de alguns curtas, o cineasta baiano Olney São Paulo dirigiu apenas dois longas - O Grito da Terra (1964) e O Forte (1973). Esse último foi baseado no romance homônimo de Adonias Filho - escritor também baiano e como ele com fortes raízes da terra natal em sua obra. O filme coloca em cena personagens às voltas com o peso do passado, metaforicamente associado com o Forte de São Marcelo, em Salvador, de mais de 400 anos. Isso porque Adriano Lisboa retorna à cidade depois de muitos anos como engenheiro responsável pela implosão daquele que um dia protegeu a capital, mas que hoje é visto pelas autoridades e por parte da população como um trombolho que tem que desaparecer para dar lugar ao progresso - o governo quer fazer um aterro e construir um parque infantil em seu lugar. Na juventude, Lisboa foi apaixonado pela mulata Tibiti - vivida em três fases por Sandra Mara, adulta; Maridelma Teixeira, jovem; e Andréa Bulhões, criança - e agora de volta só pensa em reencontrá-la, ainda que seja casado com Susana Vieira, com quem tem uma filha. O Forte é um belo filme, injustamente pouco conhecido e reverenciado. Ainda que a trama apresente algumas deficiências, muitas cenas são absolutamente grandiosas como cinema, o que evidencia o talento do cineasta, que poderia ter filmado ainda muito mais se não tivesse morrido aos 41 anos de câncer. De cara já se gosta desde a abertura ao som de Its a long way, com Caetano Veloso, que também entoa pungente gravação de Mora na Filosofia, do genial Monsueto - em parceria com Arnaldo Passos. Monsueto atua no filme como o avô de Tibiti, que fica preso no forte depois de matar Paulo Villaça, o pai dela, um violinista francês - a mãe é a pianista Léa Garcia. O personagem dele, Olegário, tem grande importância no relato, pois representa a memória da construção edificada com o suor e o sangue de índios e negros, e que viu morrer muita gente em suas celas - o filme insere interessante sequência de "cinema-verdade" com enquete com o povo para saber quem é a favor ou contra a destruição do forte, e com isso fazendo radiografia da relação que os moradores têm com a preservação do patrimônio histórico. Para contar sua história - o roteiro é assinado por ele - Olney São Paulo teve fotografia inspirada de Julio Romiti e Marcos Bottino e bom elenco - entre as atrizes, uma belíssima Léa Garcia - que pouco depois viraria sensação nacional como a vilã Rosa na mítica novela Escrava Isaura (1976/77), de Gilberto Braga; Susana Vieira - aqui estreando no cinema, mas que focaria sua carreira especialmente na TV, portanto presença ocasional nas telas; e Sandra Mara e Maridelma Teixeira, que fariam poucos filmes depois. De quebra, ainda pode-se ver várias cenas em diversos pontos - como igrejas, Pelourinho, Elevador Lacerda, Baixa do Sapateiro - tudo sob a ótica de uma Salvador dos anos 70.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

2 comentários:

  1. Pek,

    quando se diz sob a ótica de uma Salvador da década de 70, temos os sítios históricos por você citados como locais decadentes, entregues à prostituição e drogas, correto? O Forte São Marcelo é aquele em frente ao Mercado Modelo, cosntruído dentro da água?
    Bjs.

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  2. Isso mesmo, Noel, ainda que haja também muita verdade ali, bem diferente de uma certa perfumaria para o comécio de turistas em contraponto ao descaso com o destino dos nativos locais.
    O Forte é aquele mesmo.
    Bjs

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